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terça-feira, 27 de setembro de 2016

REVOLUÇÃO TEVE EXÉRCITO DE CANGACEIROS

Por Lira Neto editor do Sábado

Para o presidente do Ceará, o que tenho, de agora em diante, é muito pau! Essa teria sido a frase dita em 1913 pelo então presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, quando foi informado de que Franco Rabelo se recusava apoiar o general Pinheiro Machado à sucessão nacional.

Rabelo estava acuado. As pressões do governo federal somavam-se as que explodiam no sertão, particularmente no Cariri, desde que o presidente do Ceará ordenara a repressão ao banditismo na região, recheada de beatos, jagunços e cangaceiros de Padre Cícero e Floro Bartolomeu.

Juazeiro passa a funcionar como uma espécie de GG da ofensiva contra Rabelo. Floro vai ao Rio para articular a deposição de Rabelo junto a Pinheiro Machado. Na volta, traz armas e munições para iniciar o ataque. A rebelião começa em dezembro de 1913, quando Floro e seus homens desarmam o destacamento da polícia de Juazeiro. 

As tropas enviadas por Rabelo ao Cariri não resistem ao poder de fogo do exército de cangaceiros de Floro. Padre Cícero transforma a rebelião eterna aos que tombaram na luta.


A religião de jagunços começa a marcha em direção `Fortaleza. Tomam e saqueiam o Crato, Barbalha, Iguatu, Quixeramobim, Quixadá. Rabelo resiste, enquanto assiste preocupado à aproximação das tropas comandadas pro Floro.

Em 14 de março de 1914, o governo Central decreta intervenção no Ceará e afasta Rabelo do poder. Seis dias depois, Floro Bartolomeu e 400 jagunços entram com direito a foguetário e tiros para cima em sinal de triunfo - em Fortaleza.

A capital cearense é inteiramente tomada pelos cangaceiros. Floro é nomeado presidente da Assembleia, Padre Cícero é o novo vice-presidente e Pedre Silvino assume o posto de comandante de um batalhão de polícia, composto exclusivamente de jagunços.


Floro chegara em Juazeiro arrastando as chinelas, em maio de 1908. Vinha dos cafundós dos sertões da Bahia e Pernambuco, onde clinicara, deixando atrás de si um passado obscuro, carregado de segredos e uma acusação nunca comprovada de que era fugitivo da lei.

Na bagagem, o baiano Floro Bartolomeu trazia poucas roupas e um diploma de médico tirado em Salvador, com uma tese sobre o cancro duro. De quebra, vinha com um insólito sobre francês a tiracolo, o Conde Adolfho Van der Brule, que se dizia engenheiro de minas e com quem se associara em pesquisas e explorações de minérios. 

Van der Brule conheceu Floro em Patamuté, interior da Bahia. Dizia que o título de nobreza pertencia à família desde 1663, quando algum remoto antepassado havia sido homenageado por salvar o rei da Polônia do cerco dos turcos no século XVII.

Assim, mão na frente outra atrás, os dois forasteiros chegaram ao Cariri. Juazeiro era apenas um pequeno vilarejo, sem autonomia política, mas que ficara famosa desde 1889 por conta do suposto milagre da beata Maria de Araújo e da hóstia que virara sangue.

Floro e o tal conde vinham de olho nas minas do Coxá, no município de Aurora. As terras, ricas em cobre, haviam sido compradas pelo padre Cícero logo no comecinho do século.

Só havia um problema, pedra a doer no sapato do sacerdote: alguns proprietários locais questionavam os reais limites do terreno de Coxá. Na hora da demarcação das terras, o caso foi parar na justiça. E Floro Bartolomeu que também fazia às vezes de advogado sem diploma, tratou de assessorar o "Padim" na questão.

O que parecia mais uma disputa de terra em uma região de latifúndios transformou-se em questão política explicita. O episódio culminou com a deposição do chefe político de Aurora e a tentativa de derrubada do próprio chefe do Crato, o coronel Antonio Luiz Alves Pequeno. 

A história da amizade e da aliança entre Floro e padre Cícero estava apenas começando. A partir daí, não demoraria muito, e Floro cairia de vez nas graças do Padre. 

Lira Neto
Fonte: Sábado O Povo
Fortaleza: 09 de março de 96
Ano: 2
Número: 90
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira

Este jornal foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e membro da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Chagas do Nascimento (Chagas Nascimento).

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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