Por Sálvio Siqueira
FRENOLOGIA –
“doutrina segundo a qual cada faculdade mental se localiza em uma parte do
córtex cerebral e o tamanho de cada parte é diretamente proporcional ao
desenvolvimento da faculdade correspondente, sendo este tamanho indicado pela
configuração externa do crânio; frenologismo.”
No séc. XVI,
certo estudioso, Franz Joseph Gall, divulga que através dos estudos /análises
de partes que compõem o crânio de um ser humano, podia-se saber sobre seu
comportamento. Para tanto, bastava serem analisados o cabelo, a forma do
queixo, testa, crânio etc.
Mais tarde, já no séc. XIX, surge um italiano, Cesare Lombroso, que realiza um
dos primeiros estudos sérios, isso para época, sobre criminalidade usando a
Frenologia. O cientista faz inúmeras pesquisas nos crânios de prisioneiros
italianos. Em seus estudos, ele tenta concluir a tese de que exista
‘características primitivas anatômicas’, quando as mesmas levam a detectarem
mentes criminosas, ou o porquê das mentes criminosas, referindo “nos
assassinos, encontramos maxilares proeminentes, maças do rosto bem separadas,
cabelo espesso e preto, barba cerrada e uma pele pálida”.
As críticas foram por demais para o pesquisador, e não poderia ser diferente, que o próprio retifica a mesma. No entanto, seus estudos dão inspirações a outros pesquisadores. Cita-se que fora tão importante o estudo de Cesare, que “contribuiu para o desenvolvimento da Antropometria que precedeu a teoria evolutiva de Charles Darwin.”
No Brasil, a teoria de Lombroso é absolvida totalmente por um médico/estudioso piauiense, Raimundo Nina Rodrigues, tendo ‘feito’, cursado, Medicina na Capital baiana e no Rio de Janeiro.
Médico Raimundo Nina Rodrigues
“(...)No Brasil, o expoente dessa perspectiva foi Raimundo Nina Rodrigues, nascido em Vargem Grande, Piauí, em 1862, com curso de Medicina em Salvador e Rio de Janeiro.
Estabelecido em Salvador, deu aulas na Faculdade de Medicina. Seu trabalho girou em torno de uma "Antropologia Patológica". (SILVA FILHO, Rubens Antonio da. “Cabeças Cortadas”, in: “Cangaço na Bahia” site:cangaconabahia.blogspot.com acessado em 13 de outubro de 2016)
O ‘trabalho’ de Nina Rodrigues é tendencioso, pois estudiosos notam nele racismo. Onde vemos uma total miscigenação naqueles que mostravam características compatíveis com sua tese.
“(...) Seus trabalho detém um cunho marcantemente racista, com destaque para ataques às miscigenações. Em sua visão, os miscigenados seriam aqueles que mais mostrariam características tendendo à criminalidade (...).” (A. Ct.)
Pesquisadores nos revelam que essa tendência racista está bem às vistas por o interesse dos crânios de criminosos famosos e sertanejos.
“(...) Daí ter se empenhado em conseguir e manter as cabeças de Lucas de Feira
e Antônio Conselheiro (...)Em contraposição a essa linha, elevaram-se vozes,
cujo resplandecer mais claro apareceu nas linhas de Euclydes da Cunha. Este,
vindo acompanhar o massacre da Rebelião Conselheirista de Canudos, objetivava
flagrar confirmações da posição de Nina Rodrigues. Entretanto, o que
testemunhou colocou-o na senda contrária.
Daí, em vez de estropiados fracos, viu-se obrigado a reconhecer:
"- O Sertanejo é, antes de tudo, um forte!"
Médico Estácio de Lima
Entretanto, adentrado o século XX, a linha de Nina Rodrigues seguiu firme, através de vários discípulos. Evidência clara da linha foi ter sido trazida a Salvador a cabeça de Antônio Conselheiro para a busca de "sinais de demência" (...).” (A. Ct.)
Abaixo,
trazemos para os amigos os resultados dos estudos antropométricos realizados
nos crânios de Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, “Rainha dos
cangaceiros” e seu companheiro, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. “Rei
dos Cangaceiros”, “assinado pelo dr. Lages Filho, então diretor do Serviço
Médico Legal de Alagoas”, na íntegra:
O resultado do
estudo antropométrico da cabeça de Lampeão
Cabeça de Lampião colorizadas pelo Professor Rubens Antonio
Infelizmente o
estado em que a cabeça chegou à morgue não permite um estudo acurado e
minucioso à luz da antropometria criminal e da anatomia, pois atingida por um
projétil de arma de fogo que atravessou o crânio saindo na região occiptal,
fraturando o mandibular, o frontal, o parietal direito, o temporal direito e os
ossos da base que ficaram reduzidos a múltiplos fragmentos. Todavia, podemos
traçar-lhe o perfil antropológico: Pele pardo-amarelada, podendo-se
classificá-lo como pertencente ao grupo dos “brasilianos xantodermos”, da
classificação de Roquette Pinto: testa fugidia, cabelos negros, longos e
arrumados em trança pendente; barba e bigode por fazer, de pelos lisos negros e
falhos. Dolicocéflo, contrastando com os outros indivíduos do seu grupo étnico,
em geral braquicéfalos. O perímetro cefálico é igual a 57 centímetros. diâmetro
transversal máximo atinge 150 milímetros, índice encefálico 75. Sua face é de
tamanho relativamente reduzido, impressionando à primeira observação as
dimensões do mandibular pequeno e com os ramos horizontais a formar um ângulo
reto no encontro dos ramos ascendentes, correspondentes. Assim, é o comprimento
total do rosto de 170 milímetros, o comprimento total da face de 130
milímetros, o comprimento simples da face de 85 milímetros, o diâmetro
gigomático ou transverso máximo da face, de 160 milímetros, índice facial da
boca 53,12. Nariz reto, de ápice grosso e rombo, guardando ao dorso a impressão
dos óculos, com altura máxima de 50 milímetros e largura máxima de 37
milímetros. O índice nasal transverso 64 milímetros, uma mesorrínia franca,
lábios finos. Largura da boca 57 milímetros. Abóbada palatina ogival, dentes
pequenos podendo-se enquadrá-los no grupo dos microdontias; orelhas
assimétricas, havendo desigualdade manifesta no desenvolvimento das partes
similares (orelha Blainville). O comprimento da orelha direita alcança sessenta
e cinco milímetros. A largura da orelha direita é de 40 milímetros. comprimento
da orelha esquerda 55 milímetros.
A largura da orelha esquerda é de 40 milímetros. Índice auricular de Topinar, tendo-se em conta as dimensões da orelha direita de 65 milímetros. Na face há visível, na região masseterina direita, uma pigmentação escura arredondada, medindo três milímetros de diâmetro, em nervus congênito. O olho direito apresenta um leucoma, atingindo toda a córnea. em resumo; embora presentes alguns estigmas físicos na cabeça de Lampeão, não surpreendi um paralelismo rigoroso entre os caracteres somáticos da degenerescência, revelados pela mesma e a figura moral do bandido. assim, apenas verifiquei como índices físicos de degenerescência as anomalias das orelhas, denunciadas por uma assimetria chocante, a abóbada palatina ogival e a microdontia. Faltam as deformações cranianas, o prognatismo das maxilas e outros sinais aos quais Lombroso tanta importância emprestava para a caracterização do criminoso nato. Todavia, nem por isso os dados anatômicos e antropométricos assinalados perdem a sua valia pelas sugestões que oferecem na apreciação da natureza delinqüencial de Lampeão.
Resultado do
exame da cabeça de Maria Bonita
Cabeça de Maria Bonita colorizadas pelo Professor Rubens Antonio
A cabeça de
Maria Bonita deu entrada às 10 horas da noite de 31 de julho de 1938 no Serviço
Médico-Legal do estado de Alagoas em mau estado de conservação, razão por que
não foi retirado o encéfalo, já reduzido a uma pasta esbranquiçada e amorfa que
se escoava pelo orifício occiptal. As partes moles infiltradas não permitiram
fossem melhor apreciados os traços fisionômicos da companheira de Lampeão, os
quais, aliás, não pareciam desmentir o apelido que lhe deram. Aparentava ser
uma mulher de trinta a trinta e cinco anos de idade. À primeira impressão, o
que mais prende a atenção é veem vê-la é a sua testa alta e de todo vertical.
cabelos negros, longos, finos e lisos, arrumados em tranças pendentes. Tez
morena clara. Pode ser incluída no grupo dos brasileiros xantodermos da
classificação de Roquette Pinto, o perímetro encefálico é de 57 milímetros. O
diâmetro ântero-posterior máximo é de 195 centímetros. O diâmetro transversal
máximo mede 150 milímetros. O índice cefálico, 33. Portanto, braquicéfala. O
comprimento total do rosto alcança 190 milímetros. O comprimento total da face
é de 120 milímetros. O comprimento simples da face, 153 milímetros. Índice
facial da boca, 47,0. Lábios grossos, sendo a largura da cavidade bucal de 45
centímetros. Dentes pequenos, bem plantados e em excelente estado de
conservação. Olhos castanhos escuros.
São estes os principais elementos colhidos, traçando-se o perfil antropológico de Maria Bonita. Não denunciam eles a existência de quaisquer estigmas de degenerescência ou sinais atávicos. Na busca de sua constituição delinquencial muito mais importância teria o estudo psicológico que permitiria pôr em relevo os caracteres fundamentais de sua personalidade.
Em verdade, uma conclusão definitiva e segura só poderia ser tirada da apreciação físico-psíquica e biográfica da vítima, único meio capaz de revelar suas tendências ciminosas, mesmo se despertadas pela paixão e pelo amor.
Fonte SILVA
FILHO, Rubens Antonio da. “Cabeças Cortadas”, in: “Cangaço na Bahia” site: cangaconabahia.blogspot.com acessado
em 13 de outubro de 2016
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