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sábado, 19 de novembro de 2016

ESTAÇÃOZINHA AMARELA

Por Padre Luiz Ximenes

Padre Luiz Ximenes, “menino da rua do Egito em Camocim, filho de maquinista, morando à beira da linha, eu terminei ficando com o trem no sangue, como diz Raquel de Queiroz” XIMENES,  Luís Padre – PAIXÃO FERROVIÁRIA, 1984.

Esperei, esperei tanto
Que o trem passasse... Passou
Mas, nem sequer demorou
Na estaçãozinha amarela.  

Quase não para. E seguiu...
Seu vulto se diluiu
Na curva azul do caminho.

Saudoso, o trem apitava
Na curva quando passava
Perdido na solidão.

O trem passou e eu fiquei,
Fiquei só e o trem passou,
e ninguém desembarcou,
ninguém passagem comprou
na estaçãozinha amarela. 

Mas o trem continuou
Viagem. Nem demorou
Na estaçãozinha amarela.

Moro na vila distante
Da estaçãozinha amarela...
Tive inveja do estudante,
Do foguista e do guarda-freios
Faziam inveja também,
Mas não havia lugar 
Para mim naquele trem.
  
Aquele trem que passou,
Passando ninguém levou
Da estaçãozinha amarela
E, também, ninguém ficou
Na estaçãozinha amarela.

Trem da vida, trem cansado
Correndo atrás de esperanças,
Trem lotado de lembranças,
Trem saudoso nem se cansa
De correr, trem que balança,
Que sobe e desce ladeira,
Que passa ponte e faz curva
E que leva a vida inteira
Correndo como ninguém...
Coitadinho desse trem
Tradicional, bitolado,
Trem de ferro do passado,
Trem cruel sem coração
Que, saindo da estação,
Passa apitando demais...

- Maquinista, meu irmão,
Deixa-me ficar em paz!

Olha! – dentro desse trem
Viajar não posso mais!

Trem que passa, que passou,
Trem que nunca mais voltou,
Trem que ainda não chegou,
Trem que um dia me levou,
E noutro dia deixou,
Trem de ontem que atrasou

- Olha, trem, desde menino
Que eu te vejo indo e voltando
Conduzindo passageiros
Para a estação do destino.

Trem horário, trem cargueiro,
Cavalo, ponte, andorinha,
Lagoa, açude. cercado,
Novena na capelinha,
Plataforma, arroz de leite,
Cariré, Reriutaba,
Camocim, Sobral, Ipu,
Crateús, Pires Ferreira,
Sucesso, Dr.Privat,
passageiro de segunda, 
passageiro de primeira,
trem que para e, na partida,
deixa a alma adoecida
de saudade e de incerteza.
Trem vindo de Fortaleza, 
Trem que vai a Camocim,
Que volta de Crateús,
Trem que passa, e que passou,
Mas ninguém desembarcou,
Ninguém passagem comprou
Na estaçãozinha amarela. 
  
Gentilmente enviado por e-mail pelo distinto amigo Sobralense Joab Aragão.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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