Por Padre Luiz Ximenes
Padre Luiz
Ximenes, “menino da rua
do Egito em Camocim, filho de maquinista, morando à beira da linha, eu terminei
ficando com o trem no sangue, como diz Raquel de Queiroz” XIMENES,
Luís Padre – PAIXÃO FERROVIÁRIA, 1984.
Esperei,
esperei tanto
Que o trem
passasse... Passou
Mas, nem
sequer demorou
Na
estaçãozinha amarela.
Quase não
para. E seguiu...
Seu vulto se
diluiu
Na curva azul
do caminho.
Saudoso, o
trem apitava
Na curva
quando passava
Perdido na
solidão.
O trem passou
e eu fiquei,
Fiquei só e o
trem passou,
e ninguém
desembarcou,
ninguém
passagem comprou
na
estaçãozinha amarela.
Mas o trem
continuou
Viagem. Nem
demorou
Na
estaçãozinha amarela.
Moro na vila
distante
Da
estaçãozinha amarela...
Tive inveja do
estudante,
Do foguista e
do guarda-freios
Faziam inveja
também,
Mas não havia
lugar
Para mim
naquele trem.
Aquele trem
que passou,
Passando
ninguém levou
Da
estaçãozinha amarela
E, também,
ninguém ficou
Na
estaçãozinha amarela.
Trem da vida,
trem cansado
Correndo atrás
de esperanças,
Trem lotado de
lembranças,
Trem saudoso
nem se cansa
De correr,
trem que balança,
Que sobe e
desce ladeira,
Que passa
ponte e faz curva
E que leva a
vida inteira
Correndo como
ninguém...
Coitadinho desse
trem
Tradicional,
bitolado,
Trem de ferro
do passado,
Trem cruel sem
coração
Que, saindo da
estação,
Passa apitando
demais...
- Maquinista,
meu irmão,
Deixa-me ficar
em paz!
Olha! – dentro
desse trem
Viajar não
posso mais!
Trem que
passa, que passou,
Trem que nunca
mais voltou,
Trem que ainda
não chegou,
Trem que um
dia me levou,
E noutro dia
deixou,
Trem de ontem
que atrasou
- Olha, trem,
desde menino
Que eu te vejo
indo e voltando
Conduzindo
passageiros
Para a estação
do destino.
Trem horário,
trem cargueiro,
Cavalo, ponte,
andorinha,
Lagoa, açude.
cercado,
Novena na
capelinha,
Plataforma,
arroz de leite,
Cariré,
Reriutaba,
Camocim,
Sobral, Ipu,
Crateús, Pires
Ferreira,
Sucesso,
Dr.Privat,
passageiro de
segunda,
passageiro de
primeira,
trem que para
e, na partida,
deixa a alma
adoecida
de saudade e
de incerteza.
Trem vindo de
Fortaleza,
Que volta de
Crateús,
Trem que
passa, e que passou,
Mas ninguém
desembarcou,
Ninguém
passagem comprou
Na
estaçãozinha amarela.
Gentilmente
enviado por e-mail pelo distinto amigo Sobralense Joab Aragão.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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