(*) José Romero Araújo Cardoso
Pensar a produção econômica é pensar o racional, principalmente no quesito
meios de transportes. A produção, sobretudo perecível, necessita ser escoada
com o mínimo de custos e de obstáculos.
O sonho de
Ulrick Graff foi a construção de uma via férrea que ligasse Mossoró ao São
Francisco, objetivando viabilizar, sobretudo, o escoamento da produção
salineira para as regiões meridionais do Brasil.
Somente no
final da década de cinqüenta do século passado, após tentativas frustradas de
conseguir tal desiderato, partidas de mentes lúcidas como Jerônimo Rosado e
Felipe Guerra, entre outros, foi que os trilhos da velha ferrovia do oeste
potiguar chegavam às portas de Sousa, Estado da Paraíba.
Se isso
tivesse ocorrido quando os pioneiros começaram a arquitetar o traçado da
ferrovia, a situação privilegiada de Mossoró no cenário econômico regional e
nacional teria sido mais enfática.
O fluxo da
produção paraibana em direção a Mossoró teria sido multiplicado sensivelmente.
O trabalho árduo dos velhos tangerinos e as perdas decorrentes dos riscos das
viagens, com certeza, teriam diminuído significativamente.
Nenhuma nação
rica e industrializada prescinde de suas ferrovias, pois os transportes são
racionalizados ao extremo para que a produção de bens e de serviços cumpra sua
efetiva racionalidade. É marca indelével na postura do Estado e do empresariado
em países desenvolvidos.
Então, o que
falar sobre a prioridade ao transporte rodoviário em um espaço marcado pela
dinâmica da produção da fruticultura tropical irrigada, do sal e do petróleo?
Posso destacar inúmeros benefícios de um transporte que permita viabilizar a
produção de bens em larga escala, exigente de uma infraestrutura de grande
porte que não torne caótico o cotidiano das pessoas.
Estradas
esburacadas e a falta de segurança devido ao tráfego intenso de veículos,
sobretudo de grande calado, são apenas exemplos simples dos transtornos
causados pela opção desastrada de priorizar o objetivo das transnacionais,
principais beneficiárias da desdita econômica de uma região.
Não adianta
liberar recursos para recuperar estradas que serão destruídas em poucos meses,
graças ao fluxo constante de veículos pesados que em um vai-e-vem contínuo
deram novas nuances ao cotidiano local, tendo substituído o silvo harmônico das
locomotivas pelo ensurdecedor som das buzinas apressadas.
Temos também
que ser racionais, pois precisamos repensar a Estrada de Ferro Mossoró-Sousa
como expressão prioritária de todos as propostas públicas e privadas. A
ferrovia é a única forma de revitalizar economicamente o município e a região
no que diz respeito às exigências sensatas pertinentes aos meios de transportes
adequados para determinadas situações que envolvem a produção econômica, caso
da fruticultura tropical irrigada.
Mas não basta
apenas revitalizar a Estrada de Ferro Mossoró-Sousa se não houver modernização,
com a dotação de infraestrutura que atenda a população e as empresas, condição
indispensável para que a competitividade da produção local não fique prejudicada.Com a volta
do trem, Mossoró, o Estado do Rio Grande do Norte, o Estado da Paraíba, o
Nordeste e o Brasil só tem a ganhar, trazendo ainda o romantismo de outrora
através da retomada do modus vivendi dos usuários deste importante meio de
transporte que nunca pode ser relegado ao ostracismo.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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