Por José Fabrício de Lucena
Capela do Divino Espírito Santo
Baseado em
fontes documentais e orais, podemos afirmar que o afamado cangaceiro Antonio
Silvino (conhecido como o rifle de ouro), cujo verdadeiro nome era Manoel
Batista de Morais, e seu bando passaram em Ouro Branco pelo menos três vezes.
Antonio Silvino e Lampião foram os dois maiores nomes do cangaço nordestino.
A primeira vez
foi em 12 de fevereiro de 1901, véspera da data na qual ocorreria o casamento
da última filha solteira do coronel Januncio Salustiano da Nóbrega, da fazenda
Pedreira, filho de Gorgônio Paz de Bulhões, da Timbaúba.
Na noite de 12
de fevereiro de 1901, Antonio Silvino e seu bando estiveram nas cercanias de
Santa Luzia onde por intermédio do padre Jovino da Costa Machado arrecadou uma
boa soma em dinheiro dos moradores mais abastados e depois foram em direção a
fazenda Pedreira a convite de dois filhos do coronel Januncio para participarem
da festança do casamento. Esse convite foi feito ao capitão Antonio Silvino
quando o próprio juntamente com seu bando de cangaceiros cercou os dois filhos
do coronel Januncio no sertão da Paraíba, os mesmos estavam retornando de
Pernambuco. No entanto, fazia parte do bando de cangaceiros do capitão Antonio
Silvino, o negro Azulão, que era de Caicó e já tinha trabalhado para um filho
do coronel Januncio, o tenente-coronel Gorgônio, e após reconhecer os dois
outros filhos do coronel, pediu ao capitão Antonio Silvino que não fizesse nada
com os filhos do coronel Januncio. Então, os dois filhos do coronel
Januncio fizeram o convite para o capitão Antonio Silvino e seu bando
participarem do casamento da irmã deles.
Quando vieram
para o casamento da Pedreira, o bando de cangaceiros tinha a frente com o
capitão Antonio Silvino, o negro Azulão, pois, o mesmo sabia o caminho para a
Pedreira. Passaram no Poção de madrugada em direção a Pedreira, sendo,
portanto, a primeira vez que o capitão Antonio Silvino adentrou em terras
potiguares.
Só que no
encalço dos cangaceiros estava uma força policial comandada pelo tenente
Tolentino, vindos de Santa Luzia. Passaram por Ouro Branco e foram até a
Pedreira onde surpreendeu os cangaceiros na manhã de 13 de fevereiro de 1901.
No tiroteio
entre a polícia e os cangaceiros, morrem o cangaceiro Pilão Deitado e dois
sargentos da polícia paraibana, Nestor e Estolão. Estes foram mortos por
Antonio Silvino, que com dois tiros certeiros de seu rifle acabou com a vida
dos dois jovens sargentos.
Antonio
Silvino conseguiu fugir a pé do cerco policial. Outros cangaceiros não tiveram
a mesma sorte do chefe, pois, mesmo fugindo do tiroteio na Pedreira, alguns
foram posteriormente capturados e executados pela polícia. Azulão e Morreninho
são presos na fazenda Dominga em Caicó, do Tenente-coronel Gorgônio e lá mesmo
são executados. Pimenta e Macambira são presos em São José do Sabugi e executados
em Santa Luzia, antes de serem executados, eles foram obrigados a cavar as suas
próprias covas. Já o cangaceiro João Paciente é preso próximo a fazenda
Pedreira, no Umari, e lá mesmo também é executado.
O livro “O
fogo da Pedreira”, de Orlando Rodrigues, conta em detalhes o tiroteio entre o
bando de Antonio Silvino e a força policial na Pedreira.
Em outra
passagem por Ouro Branco em de 1911, Antonio Silvino e seu bando vinham de
Jardim do Seridó famintos e cansados quando chegaram ao hotel de Silvéria Gorda
(Silvéria Francelina da Conceição) que ficava na Rua de Baixo. Antonio Silvino
logo chegou, apeou-se do cavalo com seu rifle Winchester e o punhal
atravessado, entrou no hotel onde após se apresentar logo pediu a Silvéria
Gorda para pôr comida e bebida para o seu bando.
Escabreado
como sempre, Antonio Silvino deixava uma parte do bando dentro do hotel,
enquanto esses tiravam a barriga da miséria com os ótimos quitutes de Silvéria
Gorda, o resto do bando ficava fora do hotel na espreita pra ver se os “macacos”
apareciam.
Passando
alguns minutos, aproximou-se do hotel, Joaquim Ananias, neto de Bartholomeu de
Souza Silva, o mesmo estava com uma dor de dente infernal, e adentrando no
hotel foi logo recepcionado pelo Capitão Antonio Silvino que se apresentou lhe
dizendo:
– Eu sou o
Capitão Antonio Silvino, mas me diga, seu cabra, por que você tá com cara de
aborrecido?
Assustado em
estar de frente com o temido cangaceiro, Joaquim Ananias responde:
– Eu tava com
uma dor de dente danada capitão, mas agora já passou!
Em 1912,
novamente Antonio Silvino adentra o povoado do Espírito Santo só que dessa vez
o mesmo dá um desfalque em três comércios, principalmente, na bodega de Pedro
Gonçalves de Souza, que fecha seu estabelecimento e vai embora para Caicó.
Antonio Silvino aproveita sua presença aqui na região e vai a Santa Luzia para
se vingar do Capitão Aristides de Araújo Guerra, chefe político de Santa Luzia,
bisavô de Dona Maria José de Nóbrega, porque ele tinha certeza absoluta que
tinha sido o Capitão Aristides, o responsável pela emboscada policial na
Pedreira. Chegando a Santa Luzia, a vingança foi consumada, pois, o Capitão
Antonio Silvino deu uma surra de chibatadas no Capitão Aristides que já se
encontrava com a idade avançada.
Antonio
Silvino esteve no Poção, na casa de Amaro Leopoldino da Costa, mais conhecido
como Amaro do Poção, também esteve na casa de Manoel Correia, no Cobiçado, e no
sítio Angicos, propriedade de Joaquim Melquíades Alves Chianca.
Dona Maria
Figueredo, já está com cento e dois anos de idade, e me falou que sua família
morava na Paraíba no início do século passado, quando ela ainda recém-nascida
ganhou dois anéis de presente do Capitão Antonio Silvino, um de ouro e outro de
prata. O presente foi entregue pelo próprio Capitão Antonio Silvino ao pai de
Dona Maria, Ananias Dantas da Silva. O anel de ouro, a mãe de Dona Maria vendeu
por causa duma seca muito severa, tendo que se desfazer do mesmo, já o anel de
prata se encontra até hoje com Dona Maria. O Capitão Antonio Silvino foi preso após
se ferir num tiroteio com policiais em 1914, no Estado de Pernambuco.
FONTE: “LIVRO
“OURO BRANCO: DE 1722 A 1954”.
Pesquisador e
amante da verdadeira cultura nordestina. Em 2015, lançou o livro "Ouro
Branco: De 1722 a 1954".
http://xn--quipau-uta.blog.br/fabricio-20161221-25
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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