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domingo, 26 de fevereiro de 2017

O CANGAÇO E OS CÃES FAMOSOS DE LAMPIÃO E CORISCO!



 "Caiu-me nas mãos um livro divino, “Cangaceiros”, de Élise Jasmin.

Acariciando suas páginas lisas e brilhantes, vi surgirem fotos que decifram um pouco do que pode ter sido a vida de pessoas e animais que o vento levou em meio à aspereza da caatinga.

De uma das fotos, próxima a árvores mirradas e sofridas, Maria Bonita olha para a câmara do fotógrafo Benjamin Abrahão. Sua figura de mulher, sem dúvida a mais emblemática do cangaço, é de beleza excepcional para a época, qualidade que deve ter encantado Lampião.


Famosa por sua coragem e determinação, lá está ela, trajada com um vestido citadino ao invés das tradicionais vestimentas do cangaço, cabelo alisado com banha cheirosa onde dois passadores brancos são o maior adorno – tão humana em sua vontade de se parecer aos habitantes da cidade. Fitando a câmara, seu olhar é de doçura.

Atribuo essa suavidade em seus olhos ao fato de estar ladeada por dois cães cuja animalidade paradoxalmente humaniza a atmosfera de rifles, madeiras mortas estendidas no chão e galhos retorcidos. Farejo carinho no ar que envolve esses personagens.


Um dos cachorros, de nome Ligeiro, é seu preferido. Com a mão direita a mulher toca sem peso a cabeça marrom clara, que com ar de beatitude canina encima duas patas brancas e um focinho escuro, demonstrando visível prazer em encostar-se nas pernas de sua dona, amiga e espécie de mãe – naqueles cafundós, filhos humanos não dariam conta de acompanhar o grupo.

A mão esquerda repousa lânguida sobre o dorso negro de outro cão, Guarani, que no momento do disparo da máquina, se vira para Lampião. O movimento em direção a esse rei das cartucheiras, punhais e fuzis é tão independente e real que sua cabeça fica registrada na foto como algo impreciso, ligeiramente fora de foco. O animal dá a impressão de um moto-contínuo reproduzindo exaustivamente a vida daquele instante na guinada eternizada.

Em outras duas fotos sequenciais, vejo o bando de Corisco, armado até os dentes em evidente pose. Apenas a cadela não posa. Sua naturalidade, para quem está em primeiro plano, contrasta com o da fileira quase militar das pessoas ao fundo.

Na primeira foto, ela olha para a câmara com seu corpo branco manchado de negro como negra é a máscara que possui ao redor dos olhos. Na segunda, olha para o bando como se a presença do fotógrafo, tão ilustre naquela região desolada e espinhenta, não tivesse tanta importância quanto a dos “seus”.


Em mais uma fotografia, Corisco apresenta-se em posição clássica de sentido ao lado da mesma cadela. Esse homem cuja única linguagem parece ser a da violência, tem sua inscrição na história amenizada pelo amor dessa cachorra por seu relampejante ser-humano-corisco. Ela o tem como o chefe do bando, e ele, curiosamente ao ser o local tão árido, a chama de Jardineira.


Jardineira surge assim como a antítese da morte em meio ao mato seco, representando a beleza e poesia que os cães, com seu companheirismo, independente de quem somos, tão bem nos sabem outorgar."

In www.metro.org.br/eulalia/o-cangaço-e-os-caes
Texto de Eulália J. Poblet.
Livro da francesa Eliise Jardin: "Cangaceiros", onde consta a foto aqui incluída.

OBS: Há muitos livros que falam sobre os cães no Cangaço.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1068816409930764&set=gm.1481883035158143&type=3&theater

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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