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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O MASSACRE DE CANGALEIXO

O primeiro da direita não é Zeppelin e sim, o cangaceiro Pavão 

O tenente José Rufino tido por muitos pesquisadores como o maior perseguidor de Lampião, partindo do Raso da Catarina, em terras baianas, segue à pé com sua tropa em longa caminhada, até o Estado de Sergipe, mais precisamente entre os municípios de Porto da Folha, e Gararu, sempre em busca de alguma evidência que pudesse levá-los ao encontro dos bandoleiros. Nessa região, havia um grande coiteiro de Lampião, chamado vulgarmente de "Mané Véio", que aliás, já estaria na mira de alguns comandantes, por ter o costume de indicar às volantes, caminhos opostos onde os facínoras verdadeiramente encontravam-se. Foi isso que ele fez com o Sargento Odon Mathias, quando indicou ao mesmo, que o bando estava acampado na Fazenda Barriguda, quando na verdade, eles estavam na Fazenda Cangaleixo.

Leiamos agora, um trecho do diálogo entre o Tenente José Rufino e Mané Véio (não confundir com o Mané Veio, que participou do combate do Angico, trata-se apenas de uma coincidência de nomes):

- Mané, não minta, eu já sei de sua fama de mentir pra gente quando perguntamos sobre os bandidos. Por que, você indicou a Barriguda pro Sargento Odon, sabendo que eles não estavam lá? (Zé Rufino).

- Porque o senhor sabe que eles matam a gente, seu tenente. Foi por isso que não pude falar, mas pro senhor eu falo, mesmo sabendo que vou morrer. Eles estão no Cangaleixo; e eu vou botar o senhor em "riba" deles. (Mané Véio)

- Lampião está lá também? (Zé Rufino)

- Tá não senhor, quem tá é Mariano, com uma parte do bando (Mané Véio)

- Tá certo, mas você não virá com a gente, preciso de você vivo, basta me indicar onde fica essa fazenda. Mas não minta, senão você morre. (Zé Rufino)

- Daqui à dois quilômetros, o senhor vai encontrar uma casa, chegando lá pergunte onde fica o Cangaleixo, que o morador irá informar o local exato, depois é só seguir o rastro dos bandidos (Mané Véio).

Partiu o incansável tenente junto à sua tropa caatinga à dentro, seguindo as informações (dessa vez pertinente) do velho coiteiro, adentram às terras da fazenda, e de modo até surpreendente, encontram perto de uma "mina d'agua" o rastro dos cangaceiros, porém, inexplicavelmente as "pegadas" só haviam à beira da "pia", já ao seu redor, parecia que ninguém havia pisado ali. Foi quando um dos soldados disse:

- Tenente, será que os bandidos estão lá no fundo da água?

- Vamos continuar procurando, eu sinto que eles estão por perto (Zé Rufino).

O comandante segue a jornada. Foi quando seu fiel e velho rastejador de nome Gervásio, pede para que todos se escondam e fiquem atentos, pois vinha chegando alguém. Era uma criança; um menino de aproximadamente doze anos de idade, que logo foi detido pela tropa, mas antes viram que o mesmo trazia em mãos um pacote de café moído, envolto em um lenço vermelho cheirando à perfume barato. As pistas eram evidentes, a volante sabia que dentro de instantes haveria tiroteio. Interrogaram:

- Menino, cadê os bandidos? (Zé Rufino)

- Não sei de nada (Criança)

- Sabe sim, esse café aqui você ia levar pra lá, onde eles estão? (Zé Rufino)

- Já disse que não sei (Criança)

O tenente enfurecido dá ordens a um de seus soldados:

- Sangre esse peste na goela, pra ele aprender a ser gente (Zé Rufino)

- Fala logo seu filho da puta, onde estão os bandidos? (soldado)

- Pode me matar, mas eu não vou falar nada (Criança)

Abrimos aqui um parêntese, o menino indefeso, tinha razão em omitir a verdade, pois o seu pai encontrava-se no coito junto aos cangaceiros.

O tenente sabendo que não ia conseguir arrancar nenhum tipo de informação da criança, o mantem detido, e segue novamente o rastro dos bandoleiros.

Todos em silêncio, como se fossem felinos espreitando a presa; foi quando de repente, o soldado Gervásio, joga sutilmente uma pedra nas costas de Zé Rufino... era o sinal... quando o mesmo olha pro lado, o soldado aponta o dedo indicador em direção onde estavam os cangaceiros.

O tenente acabara de achar aquilo que tanto procurava. Sabiamente, deu sinal para que a tropa fosse avançando devagar, pois os cangaceiros estavam jogando cartas despreocupadamente. Entretanto, haviam deixado um dos "cabras" de sentinela, e a volante não havia percebido isso. Foi quando o cangaceiro que estava de prontidão, avistou a volante, e gritou; ja atirando:

- Macaco...macaco...macaco

Aí começou o inferno

Atentemos para o relato do soldado Bem-Te-Vi, que havia entrado para a polícia, com o intuito de vingar a morte de seu pai, morto por um grupo de cangaceiros, supostamente pelo facínora Mariano:

"O tiroteio cerrou-se por pouco tempo, nós pegamos eles de surpresa, coisa de meia hora já tava acabado. Aí fomos tentar pegar alguma pista dos outros que fugiram, pra ver se tinha algum baleado. Mas não achamos. Voltamos pro coito de onde saímos e vimos que havia três "cabras" caídos. O coiteiro (pai da criança) que tava jogando com eles, foi baleado e morreu, dois cangaceiros estavam feridos, um já quase morrendo, e o outro que estava mais distante também agonizando, foi o primeiro a ter a cabeça cortada e levada pra junto dos outros que estavam feridos".

O tenente Zé Rufino, percebe que um dos baleados, é Mariano, o possível assassino do pai do soldado Bem-Te-Vi, e diz:

- Bem Te Vi, esse é Mariano, o bandido que matou seu pai. Chegou a hora de se vingar. Ele ainda está vivo, mas não estrague a cabeça, pois eu vou precisar dela.

O soldado às lagrimas e como um louco, saca de seu punhal, e desfere inúmeros golpes no já quase morto cangaceiro. Porém, pasmem os senhores, ele não conseguia matá-lo. A única e última opção seria literalmente o tiro de misericórdia. E assim o fez. Com arma curta, pôs fim à um dos grandes sequazes de Lampião, ainda, desde a fase pernambucana (década de vinte).

Explicamos aos leitores, que o cangaceiro Mariano, não fora o autor da morte do pai do soldado Bem-Te-Vi. Muito embora saibamos que esse fato não faria com que o bandoleiro tivesse sua vida poupada pela volante.

Analisemos agora as três fotos:

1 - O desfecho trágico do combate, as cabeças de Mariano, "Pai Veio" (pai da criança), e fazemos aqui uma observação, o terceiro que está grafado como Zepellin, na verdade é Pavão, houve um equívoco na hora das escritas sobre a fotografia à época. Entretanto, o verdadeiro Zepellin, também teve uma morte tenebrosa, sendo decapitado da mesma forma.

2 - Volante de Zé Rufino, que é indicado pela seta vermelha. Fotografia tirada coincidentemente um dia antes do combate. E sabe quem a bateu? Ele mesmo, o incansável Benjamim Abrahão, que com isso, prova que tinha livre acesso caatinga à dentro, principalmente pela chancela do Padre Cícero, o que o fazia ser respeitado.

3 - O local exato do combate, a fazenda Cangaleixo. Percebam pela imagem, que não há nenhum sinal de que aí, foi palco de mais uma parte importante do tema cangaço, denotando mais uma vez, o quão é difícil o trabalho de pesquisar em campo. Chegar a um lugar como esse, é sacrificante sobretudo. E essa imagem, é do arquivo pessoal do Sr. Sérgio Dantas, um estudioso do assunto, com várias publicações. Indubitavelmente um grande pesquisador.

Fonte: Charles Garrido
Pesquisador - Fortaleza-Ce

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