* Por: Antônio
Neto
Em um dia de
domingo do mês de maio de 1925, por volta das dez horas da manhã, mais ou
menos, Lampião, na chefia de um bando de cangaceiros, atacou de surpresa o
povoado de São Caetano do Navio. Nesse assalto, os fora da lei, roubaram,
saquearam, mataram e sangraram moradores daquele vilarejo.
Em depoimentos
à justiça, as testemunhas disseram que o grupo era composto por quatorze
bandoleiros, todos armados de rifles e de fuzis máuser, cartucheiras e punhais
à cinta. Além de Virgolino Ferreira, chefe do bando, outros indivíduos
participaram daquele ato criminoso, entre eles, Antônio Ferreira, Levino
Ferreira, Heleno, conhecido por Moreno, Luiz Pedro, Félix Caboge, Jurema de
Medeiros, Chumbinho, Chá preto, Maçarico, Antônio Sabiá, Baraúna e, ainda,
outros que não foram identificados. Os asseclas entraram naquela povoação
sorrateiramente pelos fundos da residência de Mathias Theodoro, onde tomaram a sua
casa de assalto e parte do grupo chefiado por Levino Ferreira, irmão de
Lampião, adentrou à feira e deu início a um grande tiroteio, do qual resultou
nas mortes de Emiliano Martins, José Theotônio e Ângelo de Tal. A população
daquele lugarejo pavorosa e em pânico correu desesperada fugindo do perigo e
embrenharam-se na caatinga.
A testemunha
Manoel Fernandes de lima em seu depoimento declarou ter visto “Sabiá”, com
requinte de crueldade, sangrar barbaramente Emiliano Martins e José Theotônio,
cortando as orelhas das vítimas e, por fim, lambendo calmamente o seu grande
punhal ensanguentado, antes de embainhá-lo.
Os bandoleiros
não contentes com as três mortes praticadas por eles, naquela povoação, nem com
os prejuízos causados aos feirantes e tampouco com o pânico instalado na
população daquele lugar, assaltaram e saquearam mercadorias no pequeno comércio
de São Caetano.
Lampião e sua
corja sitiou aquela vila, até 15 horas desse mesmo dia. Ali roubaram animais e
partiram cavalgando tranquilamente com destino ignorado.
É mister que
se diga – não havia ali, naquele momento, destacamento de polícia e, sim,
apenas Manoel Theotônio de Souza, praça da Força Pública e comissário de
policia daquela localidade, que nada pôde fazer, embora tenha havido um forte
tiroteio entre os cangaceiros e alguns paisanas ali residentes. O comissário ao
ver seu irmão cair morto, cuidou logo de fugir, conseguindo escapar das garras
de Lampião.
Quatro fatos,
no mínimo curiosos, chamaram a minha atenção no referido processo. 1º – a data
da ocorrência não ter sido registrada[2] nos autos; 2º – a autuação da polícia
só ter acontecido em 3 de dezembro de 1927, quase três anos, após o ato
delituoso; 3º – a Portaria da Delegacia de Polícia de Flores, não fez menção
aos nomes de todos os assaltantes, nomeando, apenas, Virgolino Ferreira da
Silva, vulgo Lampião e seu grupo; 4º – as testemunhas e o praça da Força
Pública, na função de comissário de polícia de São Caetano, Manoel Theotônio de
Souza, terem declarado a participação de Antônio Ferreira e Levino Ferreira,
irmãos de Lampião naquele brutal ato criminoso. Todavia, não se sabe a razão,
pela qual, o promotor público de Flores não incluiu esses nomes em sua
denúncia, embora tenham sido citados no processo pelos depoentes.
Concluo
afirmando que este artigo foi escrito de conformidade os autos do
processo-crime em questão, portanto, à luz da lei.
*Antonio Neto
é pesquisador, biógrafo, dicionarista, escritor e poeta. Membro da Academia
Serra-Talhadense de Letras, da Academia Recifense de Letras e da UBE.
[2] O fato
criminoso se deu em um dia de domingo de maio de 1925. Então, poderá ter sido
em: 3, 10,17,24 ou 31 de maio/925.
[3] Memorial
da Justiça de Pernambuco. Pasta – Flores. Crime. Lampião. CX. 369.
http://caderno1.com.br/lampiao-praticou-crime-e-causou-pan…/
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