Seguidores

sábado, 4 de março de 2017

LUÍS PEDRO É ACUSADO NO SENADO FEDERAL

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Se em meio às incertezas da pesquisa histórica, não dizendo com precisão quais os cangaceiros mortos no crepúsculo da manhã do dia 28 de julho de 1938, na fazenda Angico, em Poço Redondo, Sergipe, o nome de Luís Pedro, dos mais graduados do grupo de Lampião, é certo, não há dúvida, aparece na lista como, inquestionavelmente, uma das doze pessoas que ali sucumbiram, notícia inicialmente trazida a lume pelas edições jornalísticas do tempo, profusamente publicadas logo a partir do dia seguinte ao ataque fulminante das forças policiais alagoanas, comandadas pelo tenente João Bezerra, contra o sobredito grupo do rei do cangaço, publicações estas pautadas nas informações passadas pelos responsáveis pelo terrível e sensacional acontecimento. Assim publicou o jornal sergipano “O Nordeste”, de 29/07/1938, o telegrama do senhor Correia Neves, secretário do Interior do Estado de Alagoas, ao seu colega de Pernambuco:

“O comandante Lucena acaba de confirmar a morte dos bandidos Lampião, Maria Bonita, Ângelo Roque, Luiz Pedro e mais sete, num encontro, em Sergipe, sob o comando do tenente João Bezerra. Morreu um soldado da volante e outro saiu ferido. O tenente Bezerra também se encontra levemente ferido” (in livro "O Fim de Virgulino Lampião - o que disseram os jornais sergipanos", página 20). E, desta forma, o nome de Luiz Pedro passou a integrar a relação dos que vieram a óbito em Angico, por sinal, ao lado do também célebre cangaceiro Ângelo Roque, dado também por Lucena como morto em Angico, desmentido que se publicou poucos dias depois, em 06/08/38, neste mesmo jornal que ora utilizo, e que consta no livro de minha autoria acima mencionado, pág. 81, nos seguintes dizeres:

Imagem: cangaceiro Luís Pedro

“O tenente-coronel Lucena, comandante do Batalhão de Polícia, com sede em Santana do Ipanema, e cuja finalidade é a repressão ao banditismo, declarou, em entrevista concedida à imprensa alagoana, que o cangaceiro Ângelo Roque não morreu, como a princípio se supôs no combate de Angico, encontrando-se atualmente no sertão da Bahia”. Isto nos autoriza, salvo melhor entendimento, a supor que, não tivera este cangaceiro, também chamado de Labareda, ressurgido, sua morte teria sido oficialmente decretada como ocorrida em 28 de julho de 1938. 

O certo é que o aprofundamento dos estudos decorrentes das primeiras notícias a respeito dos acontecimentos ocorridos no sobredito confronto, notadamente os voltados para a vida dos cangaceiros, dos quais resultaram em farta produção literária, terminou por consolidar-se na história que Luiz Pedro morrera em Angico, a respeito do qual se fez biografia e até ao autor dos disparos que o levaram à morte a pesquisa chegou.

Verifico, mas sem antes dizer aos amigos da minha despretensão ao escrever estas descuidadas linhas, cuja única intenção é, sendo este um grupo de estudos do cangaço, confiando na compreensão dos amigos, compartilhar pensamentos, trocar ideias, aprender e compreender cada vez mais a vida, sendo que, no caso em tela, também instigar a discussão e mostrar o quanto a verdade integral dos acontecimentos passados, a verdade verdadeira, como se diz, é por demais difícil alcançá-la. Pois bem, verifico, sem embargos, na matéria abaixo, publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", edição de 24/02/1950, que dois famosos políticos alagoanos (vide informações a respeito dos dois no final da postagem) da época do cangaço, homens endinheirados, articulados, estruturados, instruídos e experimentados, sabedores, não tenhamos dúvidas, de coisas obscuras, do mundo a nós outros invisível, dos subterrâneos e submundos da sociedade, o então senador alagoano Ismar de Góis Monteiro, que foi também governador de Alagoas, e o deputado Oséas Cardoso, o emblemático político, jornalista, agricultor e fazendeiro, que estes dois importantes homens públicos das Alagoas, da forma como leio e sinto neste texto do "Estadão", a mim pareceu não terem ambos dúvida alguma de que o cangaceiro Luiz Pedro era contemporâneo seus.

Trata a matéria a seguir do pronunciamento feito pelo senador Ismar de Góis Monteiro, no Senado Federal, denunciando a violência na sua Alagoas, trazido à tribuna mormente em razão do violento assassinato de João Cardoso Paes, pai do deputado Oséas Cardoso, ocorrido poucos dias antes, no dia 17 de fevereiro, em Maceió, oportunidade em que coloca sem nenhum esboço de dúvida como sendo dito pela vítima ter sido alvejado pelo ex-cangaceiro de Lampião, agora nas hostes da Polícia, Luís Pedro, chegando até a prometer apresentar a seus pares fotografia deste com ao lado do rei Lampião. 

É como já disse, se a história do cangaço se fundamentasse tão somente no texto abaixo, o cangaceiro Luiz Pedro, lugar-tenente do rei do cangaço, não teria perdido a vida no coito de Poço Redondo, em 38.

RIO, 23 (“Estado” – pelo telefone) – O Sr. Ismar de Góis Monteiro proferiu na sessão de hoje do Senado longo discurso em que mostra com minúcias a situação de insegurança e de terror reinantes em Alagoas. Na última sessão o mesmo orador levara ao conhecimento do Senado o covarde assassinato do senhor João Cardoso, pai do deputado Oséas Cardoso. Disse o Sr. Ismar de Góis Monteiro, de início, que o Sr. João Cardoso fora procurado na sexta-feira última em sua residência por um cangaceiro que, sob pretexto de procurar cômodos para passar o Carnaval, o atraiu até o desvão da sacada, onde o aguardavam mais dois bandidos e descarregaram os seus revólveres sobre o homem inerme e sobre as suas duas filhas que acorreram ao local da cena de sangue. Esse atentado, informou o orador, foi praticado ao meio-dia, em pleno coração da cidade, com a cumplicidade da polícia alagoana, que protegeu a fuga dos assassinos.

Antes de falecer, disse o orador, na mesa de operações, o senhor João Cardoso citou o nome dos criminosos. São eles o sargento Miguel Pereira, da polícia alagoana; o soldado Luís Pedro, da mesma corporação, e servindo como guarda da “Gazeta de Alagoas”, antigo facínora do bando de Lampião, e um guarda-civil também servindo no citado periódico. Prosseguindo, afirmou o sr. Ismar de Góis.

“Quanto a Luís Pedro terei oportunidade dentro de poucos dias, de trazer a esta Casa o seu retrato ao lado de Lampião e outros comparsas. Essa é a gente de que o governo do Estado lança mão para atacar os seus adversários. E o mais incrível é que esses bandidos andam às soltas pelas ruas de Maceió, impunemente, sem que o governo tome a menor providência. Declarou ainda a vítima que os seus assassinos eram covardes e que nem mesmo tiveram o ânimo de o abater pela frente. Sim, sr. Presidente, são covardes assim, como não são homens, os homens que dominam a minha terra, porque nem sequer se apresentam para matar ou morrer. Entrincheiram-se atrás de fuzis da polícia, acobertados pelas armas assassinas de bandidos assalariados”.
...
“Estado de S. Paulo” – 24/02/1950

ISMAR DE GÓIS MONTEIRO (Maceió, 27 de outubro de 1906 — Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1990) foi um militar e político brasileiro cuja família exerceu o mandarinato em Alagoas durante o Estado Novo.

Filho de Filho de Pedro Aureliano Monteiro dos Santos e Constança Cavalcante de Góis Monteiro. Ingressou na Escola Militar do Realengo em 1924 e seguiu carreira militar a exemplo do que aconteceu com seus irmãos ascendendo ao meio político a partir da proximidade da família com Getúlio Vargas que nomeou seu irmão Pedro Aurélio Ministro da Guerra[1] mas foi em Alagoas que a família mantinha a base de seu poder político e nesse diapasão Ismar de Góis Monteiro perdeu a eleição para o governo do estado via Assembléia Estadual Constituinte em 26 de maio de 1935,[2] mas foi interventor federal no estado entre 1941 e 1945,[3] o segundo governador da linhagem.[4] Eleito o primeiro presidente do PSD no estado, deixou o governo para se candidatar ao Senado e foi eleito.

Foi vice-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional durante o primeiro semestre de 1961 e tentou retornar ao Senado Federal em 1954 e 1962, mas não foi eleito.

OSÉAS CARDOSO PAES (Viçosa, 21 de Outubro de 1913 - Brasília, 31 de Maio de 2009) foi um Deputado federal e estadual, jornalista e agricultor alagoano.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Viçosa no estado de Alagoas. Filho de João Cardoso Paes e de Alcina Saraiva Cardoso. Participou da Revolução de 1930. Um dos fundadores e também presidente do Centro Cultural Emílio de Maia, em Maceió, em 1939. Repórter do Jornal de Alagoas em 1940, transfere-se no ano seguinte para a Gazeta de Alagoas, onde permanece por um ano. Prefeito, durante o Estado Novo, dos municípios de Pilar (1942), e Piranhas (1943-44). Em 1945, é um dos fundadores do PSD. Foi secretário do diretório municipal de Maceió e suplente da comissão executiva do diretório estadual. Em janeiro de 1947 elege-se deputado estadual. Participa dos trabalhos constituintes e exerce o mandato ordinário. Reeleito em outubro de 1950, sempre na legenda do PSD. Lidera a sua bancada e é também vice-líder do governo na Assembléia Legislativa a partir de 1952. Em 1954 transfere-se para o Partido Trabalhista Nacional (PTN) de cujo diretório regional seria presidente. Reeleito em outubro de 1954, agora na legenda do PTN. Neste mandato foi o autor do pedido de impedimento do governador Muniz Falcão. Reeleito em outubro de 1958, agora pela UDN. Durante seu mandato foi membro das Comissões de Constituição e Justiça e da de Orçamento entre outras. Eleito deputado federal no pleito de outubro de 1962, ainda na legenda da UDN. Nessa legislatura participou das comissões de Serviço Público, de Segurança Nacional e do Vale do São Francisco. Com a extinção dos partidos políticos e a instauração do bipartidarismo filiou-se à ARENA de cujo diretório regional foi presidente. Reeleito em novembro de 1966, na legenda da ARENA. Integra a Delegação Brasileira na Conferência da União Interparlamentar, em Dacar. Em abril de 1969 teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos por dez anos, com base no Ato Institucional nº.5. Passa a viver em Brasília, dedicado às atividades particulares. Em 1971, é nomeado chefe da representação do Sindicato e da Cooperativa do Açúcar de Alagoas, bem como da idêntica entidade do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Após a extinção do bipartidarismo filia-se ao PDS, pelo qual concorre, em 1982, à Câmara Federal, ficando na primeira suplência. Assume o mandato em julho de 1986, permanecendo até o fim da legislatura. A seguir, retorna às suas atividades particulares. Membro da Associação Brasileira de Ex-Congressistas. Um dos fundadores, em 1964, da Fundação Santo Antônio, em Alagoas.
____________
Fontes: Jornal o "Estado de S. Paulo" e Wikipédia

https://www.facebook.com/groups/ocangaco/permalink/1487586887921091/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário