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sábado, 19 de agosto de 2017

VOLANTES X COITEIROS

Por Ruy Lima

As Táticas das Volantes
Relembrando:
Volantes: 

Os governos estaduais nordestinos, vendo-se agravar o banditismo nas regiões interioranas do agreste e do sertão, viram-se na contingência de criar forças policiais-militares de emprego rápido e que teriam - inclusive – nativos (curibocas, mulatos e cafuzos) recrutados dessas regiões. Surgindo daí as volantes que eram grupamentos, destacamentos ou patrulhas tático-móveis, compostas essencialmente por militares (policiais das Forças Públicas estaduais ou militares do Exército nacional, devidamente comissionados para este fim), comandadas - preferencialmente - por um oficial (tenente ou capitão).
Coiteiro: 

Coiteiro, no nordeste brasileiro, significa aquele que dá coito, (refúgio) ou asilo a bandidos. Coito (ou couto) compreende-se por terra coutada ou aquela onde se podiam asilar os criminosos, onde não entrava a justiça do rei (em Portugal e no Brasil-colônia). Entretanto, o sentido lato do vocábulo “coito” (do latim coitus, junção) significa cópula ou relação sexual.


As Táticas dos Militares Contra os Coiteiros (compilados do livro “Como dei cabo de Lampeão”, do capitão João Bezerra, 2ª ed. 1940.

1. Conhecimento do terreno e das pessoas do local.

“Faz parte da tática o estudo do terreno para o bom desenvolvimento da ação guerreira. O militar que desenvolve as suas forças em terreno desconhecido, está no mesmo plano do indivíduo que se atira nas profundezas das águas sem saber nadar. Poderá escapar à morte, mas o mais certo é morrer.

As minhas averiguações eram constantes. Emboscava as riças suspeitas, sindicava do número e dos nomes dos trabalhadores que nelas trabalhavam, identificava-os o mais minuciosamente que podia, observa os estranhos que aproximavam dos cercados e os transeuntes das estreadas e caminhos.

Quando um trabalhador largava o serviço para ir buscar água num riacho distante do roçado, não deixava pôr-lhe no encalço um dos meus “secretas” para observar os seus movimentos. O meu auxiliar quase sempre fazia por manter conversação com o trabalhador perscrutando qualquer cousa que indicasse ligação com os cangaceiros.

Os vasilhames dágua eram examinados cuidadosamente. Bem podiam conter aguardente ou outros objetos destinados aos cangaceiros.

A tiragem do leite nas fazendas geralmente é feita às 4 horas (ainda no escuro). Para surpreender os bandidos que vinhas por detrás do currais apanhar os vasilhames cheios deste líquido nutritivo, levando o leite para beberem no mato, eu emboscava esses currais ficando dias e dias escondido espreitando os cabras para ataca-los de surpresa.

Quando me desenganava de encontrar bandidos, numa fazenda, seguia para outra. Dava preferência às fazendas dos chefes políticos aonde mais encontrava vestígios dos bandoleiros, dos seus protetores e protegidos.”

2. Boatos

“Distribuía por toda parte o boato da preocupação do Governo – nas próximas eleições. Dos receios na vitória eleitoral. Dizia-lhes que era uma necessidade permutar “certos” comandantes de volantes que andavam praticando “arbitrariedades” com vaqueiros e chefes políticos”.

3. Provocando desentendimento entre supostos coiteiros.

“Então eu o fazia (o suposto coiteiro) acreditar que uma daquelas pessoas (que ele disse conhecer) me havia dito que o seu procedimento era inconveniente à polícia. Pouco tempo depois aparecia-me com as notícias prometidas para garantir a própria impunidade, aliás, eu já antecipava essas notícias – era uma acusação contra o que mal falara dele.”

4. Ameaça de morte

“Com esse genuíno coiteiro em meu poder afastei-me para bem longe. A certa altura do caminho em lugar apropriado, mandei a tropa fazer alto para descanso. Afastei-me com o meu “amigo”, uma centena de metros das vistas dos soldados e comecei a conversar diretamente sobre o assunto que me interessava. 

Desenrolou-se entre nós um diálogo mais ou menos assim:

- Caro amigo! Trouxe-o aqui para lhe ser franco sobre todos os pontos de vista. Posso fazer uma desta franqueza?

- Como não, seu Tenente! Claro qui podi.

- Você meu caro vai se “abrir” comigo direitinho como eu estou fazendo consigo com toda sinceridade. Não quero enganá-lo, você veio aqui para morrer se não se dispuser a me dizer a verdade. Diga-me sem rebuços. Qual a notícia que me dá dos cangaceiros?

- Pur nossa mãe, seu Tenente! Pelas virtudi do padrinho Cirço, pelo bem qui ele feis neste mundo – eu não seio não sinhõ, Tenente – desse perverso!

Não esperei mais. A um gesto meu que os soldados logo compreenderam, deixaram o descanso previamente combinado encaminhando-se para nós os dois com tal atitude que o vaqueiro agarrou-se a mim cheio de “perdões” pedindo alarmado que não o deixasse matar.

Quando os soldados estavam bem perto fiz um novo gesto que só eles perceberam estancando rapidamente.

Aproveitando-me daquele momento perguntei-lhe em voz alta? Como é? Resolve ou não contar tudo que sabe dos salteadores?

Neste momento o, inquieto e receoso, o mentiroso prontificou-se a falar contando o que verdadeiramente sabia.”

5. Utilização dos caboclos do mato.

“Havia quatro dias que eu chegara das “caatingas” para tomar um pequeno descanso com a tropa e com os meus amigos do mato, os caboclos que vêm à cidade uma vez em cada ano.

Por intermédio deles “rastejadores” de primeira e “escupeteiros” de raça, eu sabia notícia constantemente dos cangaceiros a quem eles descobriam no mato, escondendo-se para não serem vistos. Alguns, a meu serviço, deixaram de caçar bichos para caçar homens. 

Escupeteiro: Diz-se nos sertões nordestinos de um indivíduo que discirne nos matos rastros de pessoas ou animais, distinguindo-os com admirável precisão.”

6. Disfarçando-se em Cangaceiros

“Um dos truques que de vez em quando usávamos, consistia em disfarçar um soldado com uma cabeleira postiça (os bandidos em geral tinham os cabelos muito crescidos) pondo-lhe na cabeça um chapéu de couro enfeitado como os que usam os bandidos, vestindo-o nos trajes característicos dos cangaceiros, mandávamos esse soldado atingir a casa do coiteiro aonde devia chegar todo desconfiado, assustado, chamando o dona da casa para o mato das proximidades, para saber notícias dos “macacos”.

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