Clerisvaldo B. Chagas, 18 de agosto de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.718
No meu livro inédito: “O Boi, a Bota e a Batina; história completa de Santana do Ipanema” existe uma página com o mapa do comércio de Santana, década de 1960. Todas as casas comerciais, nomes, proprietários, localização, do espaço Senador Enéas Araújo, Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha e Largo da Feira. O mapa contém, inclusive, todos os comerciantes e seus lugares no antigo “prédio do meio da rua” e no “sobrado do meio da rua”, demolidos na gestão Ulisses Silva. Na esquina defronte o museu estava à loja de tecidos de meu pai. Do lado de cima, negociava com café, o Maneca (pai da professora Mariluce). Depois o Maneca mudou-se para ser o nosso vizinho de baixo mantendo o seu Café denominado por todos de Bar de Maneca. O vizinho de cima passou a ser o comerciante de tecidos Jaime Chagas que foi vice-prefeito em Santana.
Estátua ao jegue. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas). |
Maneca fazia um café muito gostoso e ele mesmo dizia que misturava o café AFA de primeira com o de segunda. Todos gostam do café que faço em minha casa, mas não há uma só vez que eu não diga que é o café de Maneca. Gente finíssima e querida por todos, às vezes o proprietário tomava uma ou outra e ninguém notava, a não ser em virtude de algumas ações estranhas. E quando um vereador sentou à mesa e começou a pedir o café por várias vezes, Maneca respondia lá de dentro: “já vai!”. O vereador, enquanto isso ia colocando açúcar do antigo açucareiro de vidro que ficava à mesa, na mão e comendo. E quando Maneco chegou com o café, entregou a xícara e retirou o açucareiro sem nada dizer. Pensando que Maneca iria trocar o objeto, o vereador perdeu a paciência e indagou: “Maneca, e o açúcar?”. O dono disse: “Você já comeu o açúcar, agora se rebole para misturar”. Já o mestre Alberto Nepomuceno Agra, sentou à mesa e pediu um queijo, duas ou três vezes. Maneca veio de lá, colocou um queijo inteiro de um quilo no prato de Alberto e retirou-se calado. “O que é isso Maneca?”. “Você não pediu um queijo?”.
Trabalhava no bar o garçom, alto, boca grande e bobalhão, apelidado Cão do Poço. O apelido vinha de coisas sobrenaturais que estavam acontecendo no Poço das Trincheiras, lugar de origem do garçom. Cão do Poço dormia no próprio bar. E quando o prefeito Ulisses Silva mandou deixar um monte de pedras para calçamento defronte o salão paroquial, Cão do Poço deve ter feito alguma raiva ao patrão. Quando o garçom pediu o chaveiro para dormir no bar, Maneca passou a chave na porta de ferro e indicou o monte de paralelepípedos da rua, dizendo: “Hoje sua cama é aquela”. Pendurou o chaveiro no cós da calça e foi embora.
Nem um anjo pediu pelo Cão do Poço.
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