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sábado, 9 de setembro de 2017

CADA CIDADE TEM O CANGACEIRO QUE (NÃO) MERECE?

Por Professora Rozelia Bezerra

Nem só de Lampião e Maria Bonita viveu o cangaço. Nem só os sertões tiveram seus cangaceiros.

No século XVIII, apareceu, no Recife, um de nome José Gomes. Ficou conhecido como “O Cabeleira”. Filho de Joaquim Gomes e Joana. Joaquim, segundo a percepção de Franklin Távora, era sujeito de “má entranha, dado à prática de crimes hediondos”. O filho, José aprendera e praticara com o pai, toda a sorte de vilanias e crimes possíveis. A mãe, tentou salvar o filho.

Era dezembro de 1773, quando resolveram atacar e roubar no Recife. A cidade comemorava a expulsão dos jesuítas de todas as colônias portuguesas. “Assim se passou na vila do Recife a noite do primeiro de dezembro de 1773, noite memorável que principiou pela alegria e terminou pelo terror público. ” 

Como Lampião, “O Cabeleira” teve uma mulher que o amou. Mas, ela não o acompanhou nas ações de crimes. Chamou-se Luisinha. Tentou dissuadi-lo da vida de crimes. Acabou morrendo em consequência das queimaduras provocadas por um incêndio criminoso, promovido pelo bando. 

Cangaceiros. Esboço, Paulinho do Amparo.

Após ser preso e levado para Goiana, “O Cabeleira” foi condenado à morte, por enforcamento. Era muito jovem: 22 anos. No romance “O Cabeleira”, da autoria de Franklin Távora, consta que o Largo das Cinco Pontas, no Recife, foi o local escolhido para erguer o patíbulo onde se montou a forca. Dentre as pessoas que assistiram ao enforcamento, estava Joana, a mãe que tentara salvar o filho: “Meu filho vai morrer enforcado! Ah! Meu Deus, Vós bem sabeis que ele não teve culpa” – dizia ela numa voz entrecortada de soluços”. 

Ao subir ao patíbulo, José declara-se arrependido dos crimes praticados. “Meu filho, meu filho” gritou a mãe. Ao ouvir os gritos da mãe, O Cabeleira exclamou, com voz trêmula “Adeus, mamãezinha do meu coração”. 

No mesmo instante que José era enforcado, morria Joana, a mãe, cujo coração não resistira e parou de bater. 

Isto entrou na cantoria popular:

“Adeus, ó cidade
Adeus Santo Antão,
Adeus, mamãezinha
Do meu coração”.

Hoje, passados séculos, temos outros tipos de cangaceiros: os justiceiros, os linchadores, os que, no exercício de seu ofício, executam, a sangue frio e com requintes de crueldade, qualquer pessoa que não se encaixe nos parâmetros da norma. Da norma deles.

Rozelia Bezerra é graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1988). Mestra em Epidemiologia Experimental Aplicada ás Zoonoses, pela Universidade de São Paulo (1995). Doutora em Educação, com ênfase em História da Educação e Historiografia. Tese sobre a História do Ensino da Higiene na instrução pública de Pernambuco (1875-1930) É professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ministrando a disciplina História Cultural das doenças: as representações literárias. Professora de História da Alimentação, no curso de Graduação em Gastronomia – UFRPE. Pesquisa sobre História do ensino da Medicina Veterinária. Desenvolve pesquisa na área da História das Ciências e História das Doenças e dos Doentes no Brasil (séc. XVI-XX). Pesquisadora do Grupo de História Social e Cultural da UFRPE (GEHISC). A professora Rozélia escreve todas os sábados no nosso blog. 

https://www.emporiopernambucano.com/single-post/2017/07/29/Cada-cidade-tem-o-cangaceiro-que-n%C3%A3o-merece

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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