Por Geraldo Maia do Nascimento
No período de
8 de outubro de 1918 a janeiro de 1919 o Município de Mossoró foi assolado pela
Gripe Espanhola, uma pandemia do vírus influenza[1] que se espalhou por quase
toda parte do mundo. Foi causada por uma virulência incomum e frequentemente
mortal de uma estirpe do vírus Influenza “A” do subtipo H1N1. A gripe espanhola
apareceu no final da I Guerra Mundial e, em menos de um ano, matou milhões de
pessoas. A epidemia foi tão severa que nos Estados Unidos, onde um quarto da
população foi infectada e 675 mil pessoas morreram, a expectativa de vida caiu
em 10%. A denominação “gripe espanhola”, segundo alguns autores, surgiu na
Inglaterra, em fins de abril de 1918. Duas são as principais hipóteses para
essa denominação: a primeira partia do pressuposto errôneo de que a moléstia
havia se originado na Espanha e/ou lá fizera o maior número de vítimas. Outra
explicação afirmava que a Espanha, país neutro durante a I Guerra Mundial, não
censurava as notícias sobre a existência da gripe epidêmica, daí a dedução equivocada
de que a enfermidade matava mais naquele país. A primeira notícia do vírus da
gripe espanhola no Brasil foi de setembro de 1918, logo depois da chegada de um
navio com imigrantes vindos da Espanha. Vários deles apresentavam sintomas da
gripe. Outro relato dizia que alguns marinheiros sentiram estranhos sintomas a
bordo de um navio ancorado em Recife. O fato é que no início de novembro de
1918 a doença já tinha alcançado vários pontos do Brasil. As cidades portuárias
foram as que mais sofreram. No Rio de Janeiro, morreram 17 mil pessoas em dois
meses. Os familiares, desesperados, jogavam seus mortos na rua com medo de
contrair a doença. As avenidas ficaram cheias de cadáveres e presidiários foram
obrigados a trabalhar como coveiros. Os bondes circulavam abarrotados de
corpos. Na frente das principais igrejas, milhares de famílias se reuniam para
pedir ajuda a Deus. Em São Paulo, foram mais de 8 mil mortos. Entre as vítimas
da gripe estava o Presidente da República Rodrigues Alves. Eleito para cargo pela
segunda vez, não pode tomar posse e morreu no dia 16 de janeiro de 1919. Os
médicos, também alarmados, não sabiam o que receitar e indicavam canja de
galinha. O resultado foram saques aos armazéns atrás de frangos. Os jornais
afirmavam que o tratamento deveria ser feito à base de cachaça com limão ou
uísque com gengibre. No Rio de Janeiro, o sanitarista Carlos Chagas comandou o
combate à enfermidade. Em Porto Alegre foi criado um cemitério especialmente
para as vítimas da gripe espanhola. Em todo o país foram cerca de 300 mil
mortos. Foi a maior epidemia da história, uma pandemia. Ao passo que a I Guerra
Mundial, de 1914 a 1918, matou aproximadamente 8 milhões de pessoas, a gripe
espanhola foi fatal para mais de 20 milhões de seres humanos de todo mundo.
Nada matou tanto em tão pouco tempo. O vírus mutante da gripe assumiu
características tão singulares em 1918, que a chamada influenza espanhola, até
hoje, apavora quem procura entender o que aconteceu naquele ano. Diante da
tragédia Jerônimo Rosado, na qualidade de Presidente da Intendência, mobilizou
todos os recursos de assistência disponíveis, quer improvisando isolamento de
doentes, quer pessoalmente dirigindo socorros médicos em remédios e alimentos
aos pobres abandonados. Graças a esses esforços, a doença ceifou aqui poucas
vidas. [1] Existem três tipos de vírus influenza/gripe que circulam no
Brasil: A, B e C. O vírus influenza A e B são responsáveis por epidemias
sazonais, sendo o vírus influenza “A” responsável pelas grandes pandemias.
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