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terça-feira, 25 de agosto de 2020

ANTES DO MENINO-CANGACEIRO ANTONIO DOS SANTOS

Por Antônio Corrêa Sobrinho

ANTES do menino-cangaceiro, o sergipano de Itabaiana Grande Antonio dos Santos, vulgo “Volta Seca”, um dos mais temíveis e famosos asseclas de Virgulino Ferreira, o “Lampião”, em 1932 ser aprisionado e condenado a cumprir pena na penitenciaria de Salvador, e começar a proferir seus sensacionais depoimentos e bombásticas declarações a jornalistas dos quatro cantos do país - o SERGIPE JORNAL, no dia 12 de janeiro de 1931, noticiou suposta prisão do famoso Volta Seca, numa feira de Aracaju.

Surpreendeu-me o fato de que os aracajuanos, um ano antes da real sua captura, experimentaram a sensação de o terem aprisionado, bem como, a particularidade trazida pelo jornal, sobre Volta Seca quando este morou na capital sergipana antes de entrar para o bando de Lampião, qual seja, de que era público que Volta Seca morou por "bom tempo com um cabo do batalhão de nome Honorato e que também fora ordenança do capitão José Rodrigues", dado não mencionado por Volta Seca nas suas entrevistas.

“VOLTA SECA” EM ARACAJU

Ontem pela manhã a cidade foi agitada por uma notícia sensacional: fora capturado em plena feira, junto do Mercado Municipal, um rapazote que diziam ser “Volta Seca” o célebre e cruel diabrete pertencente ao sinistro bando de Lampião – o terror deste Nordeste descurado, que sofre os rigores das longas estiadas ao mesmo tempo que carpe as aflições decorrentes do contínuo trajetear de facínoras, entes sem fé nem lei, tendo por fito o saque e como gozo a tortura de velhos e moços, crianças e mulheres, delícia terrificante que enche de assombro e revolta quantos estejam sob o abrigo dos bons costumes, cumprindo as naturais condições orientadoras da espécie.

“Volta Seca” fora capturado. Era o clamor público. Comentários surgiam de todo jaez. Uns acreditavam e rendiam graças pela prisão de tão sanguinário e perversa criatura. Outros porém abalavam a cabeça, descrentes.

Em meio a tudo isto, resolvemos chegar até a Chefatura de Polícia, onde, por deferência do Dr. João Trindade, esforçado e distinto delegado da Capital, podemos olhar dentro de um cubículo para um rapazote de cor morena, bastante queimado pelo sol, cabelos pretos e vivos, estatura abaixo do normal, corpo franzino porém bem provido de músculos, trajando calça brim e paletó jaquetão da mesma fazenda já bastante sujos e arruinados.

Interpelado pelo tenente João Lins, o rapazote disse que acompanhara a força sergipana que esteve em Jeremoabo, estado da Bahia, que residiu aqui algum tempo com um cabo do batalhão de nome Honorato e que também fora ordenança do capitão José Rodrigues, ora reformado.

Diversas outras coisas falou em resposta ao referido oficial, entre elas que já exercera o mister de engraxate na pensão do Sr. Pedro Barros e trabalhara no Hotel Brasil.

Segundo é do domínio público “Volta Seca” fora empregado nesta capital e morou largo tempo com o cabo Honorato, do Batalhão Policial, que atualmente está destacando no interior.

O rapazote detido, em alguns pontos, dá motivos para inspirar suspeitas. Como porém provar-se ser ele o famigerado “cabra” do desalmado “Lampião”?

À Chefatura tem comparecido diversas pessoas que assistiram a invasão da horda sinistra em Capela e Aquidabã.

Reina a maior confusão – pois enquanto umas dizem ser aquele o monstro de tão pouca idade, outras discordam alegando puerilidades como esta: “Se ele estivesse de chapéu de couro”...

Por sua vez, o rapazote protesta, mas, por pavor ou indecisão, não o faz de modo veemente.

Hoje deverá ficar mais ou menos esclarecida a identidade do referido, que, se for “Volta Seca”, sofrerá os rigores da lei, e em caso contrário, voltará à liberdade que perdeu temporariamente por um singular capricho do destino.

Sergipe-Jornal – 12.01.1931


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