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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CONFESSO A MINHA IGNORÂNCIA

Por Zozimo Lima

Preciso, mais uma vez, dar satisfação aos meus leitores. Muitos, por aí, jovens e velhos, sábios e ignorantes, me têm na conta de intelectual.

Não o sou. E, por essa falsa convicção, sou, às vezes, citado, nomeado, mencionado, causando indignação aos nossos eminentes homens de letras, que, em Sergipe, atualmente, vicejam como capim gordura nos pastos e baixadas dos engenhos de fogo morto.

Ora, às vezes, dou opinião sobre escritores que aparecem, na imprensa, discorrendo sobre assuntos literários, em prosa e verso, que não contam com a minha aprovação, os meus aplausos.

Daí aparecerem os seus autores, muito ilustres, preparados, mas que dão cincadas loucas. Os gênios também pecam nas suas atitudes filosóficas. Eu, embora cego em coisas da literatura, discordo com argumentos fracos. Por isso que, em consequência da minha fundamental ignorância, acabo aumentando o número de adversários, de inimigos.

Acontece que, com essas antipatias que carrego, me sinto satisfeito, porque, por outro lado, cidadãos de boas letras e leituras, daqui e de outras províncias, onde se lê muito e muito se escreve, me mandam cartas de aplausos.

Vocês, meus amigos, não são tão burros, que me julguem portadores de competência asinina. Mas pensarão, porventura, que eu fico indignado com os doestos que me atiram?

Não pensem em tal, como eu. Reconheço as minhas insuficiências mentais, literárias, filosóficas. Não sou como certas cavalgaduras que por bajulação ingressaram no juizado, nas academias de letras, e, por isso, fazem roda de auto importância como perus. Desses me rio à socapa.

Voltaire considerava Shakespeare como um selvagem e Carlyle revidou, um século depois, chamando Voltaire de louco. É o que leio em Henry Thomas.

Mas há muito burro por aqui, burro togado, burríssimos, de cabresto que fazem discursos e até lavram acórdãos.

Consideram-me ateu. Não sou tal. É calúnia. É vingança de castrados que me não suportam. Eu os perdoo. Sinto não ter uma medalha para mais os engordar.

Tobias Barreto dizia que o ateu é um idiota. É verdade, que ele, às vezes, mudava de opinião. Atribuo tal reviravolta teológica ao mau funcionamento do fígado e às misérias porque estava passando, à falta de dinheiro para manter-se com família numerosa.

No seu espírito Kant destruiu Deus, mas, dizia, o criara no coração. E afirmava mais o filósofo que se não pode basear a religião sobre a ciência, pode-se estribá-la na moral.

Não tenho, com segurança, inabalável, fé profunda, ética absoluta, a qual Kant chamava de “imperativo categórico”, mas, como Tobias, acredito em qualquer coisa que não posso bem explicar.

Tudo, como nas letras, consequência da minha ignorância. Se pertenço a uma Academia de Letras é por boa vontade, camaradagem de alguns amigos. Os sábios andam por aí às canadas e toneladas. Eu sou apenas o reverso deles.

Gazeta de Sergipe – 30/12/71

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