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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

HISTÓRIA DO CANGACEIRO JESUÍNO BRILHANTE

Karla Andressa – Gazeto do Oeste. - Colaborador: Prof. Aluísio Dutra de Oliveira.

Cangaceiro Jesuíno Brilhante, uma espécie matuta de Robin Hood do sertão

Uma gruta onde o famoso cangaceiro Jesuíno Brilhante chegou a transformar em esconderijo, no Sítio Cajueiro, em Patu, desperta estudiosos sobre o cangaço, acentuando o debate sobre os questionamentos que colocam cangaceiros famosos como Virgulino Ferreira, o Lampião, no centro das discussões, lançando luz a ações que dividem a opinião pública sobre o prisma do herói ou bandido.

Jesuíno Alves de Melo Calado nasceu no Sítio Tuiuiú, no município de Patu, Rio Grande do Norte, em 1844. Filho da aristocracia rural sertaneja, seu pai José Alves de Melo Calado e D. Alexandrina Brilhante de Alencar, sua mãe. Em 1871 entrou no cangaço por vingança, após um irmão seu ter sofrido uma surra nas ruas da cidade e uma cabra de sua fazenda ter sido roubada. 

O seu cangaço difere dos demais bandoleiros que povoam a memória popular nordestina como Virgulino Ferreira - mais conhecido como Lampião - e Antônio Silvino, pois Jesuíno implantou a sua maneira um sistema de “justiça” em uma terra onde reinava a lei do mais forte e não fez dessa atividade uma profissão.

Jesuíno se difere dos demais cangaceiros por ter procurado intervir em questões sociais como a distribuição para as pessoas necessitadas dos gêneros alimentícios destinados a combater as secas, que subtraía dos coronéis saqueando os comboios de víveres (gêneros alimentícios) que eram enviados pelo Governo para as vítimas das secas, mas que ficavam nas mãos dos poderosos e nunca chegava à população. Jesuíno também se destacou por intervir em situações de violência sexual contra as mulheres uma década antes do reconhecimento legal do crime de estupro.

Para Câmara Cascudo, ele "foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos velhos oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas. Homem claro, desempenado, cavaleiro maravilhoso, atirador incomparável de pistola e clavinote, jogava bem a faca e sua força física garantia-lhe sucesso na hora do "corpo a corpo". Era ainda bom nadador, vaqueiro afamado, derrubador e laçador de gado. Sua pontaria infalível causava assombro, especialmente porque Jesuíno, ambidestro, atirava com qualquer das mãos".

Famílias inteiras chegaram a fazer parte do seu bando como estratégia de sobrevivência. De 1871 a 1879, implantou um “Estado paralelo” nos sertões nordestinos, cujo eixo central era a região do Patu (“terra alta”, em tupi) e cuja principal fortaleza a chamada Casa de Pedra (caverna encravada na Serra do Lima).

Casou com D. Maria, tendo cinco filhos dessa união. Envolvido com uma questão de família, Jesuíno matou o negro Honorato Limão, no dia 25 de dezembro de 1871. Foi sua primeira vítima. Era “irredutível em questão de honra”. Vários autores escreveram sobre Jesuíno, entre eles Luís Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, Ariano Suassuna e Raimundo Nonato. Este último é autor de Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro Romântico, que narra a inteira epopeia do bandoleiro. Entre as principais ações de Jesuíno, narradas no livro de Raimundo Nonato, encontra-se um episódio, onde Jesuíno Brilhante se hospedou em uma casa. O marido estava ausente. Um bandido, de nome Montezuma, procurou se aproveitar da situação para perseguir a proprietária da casa. Jesuíno, revoltado, matou o malfeitor. Outro caso: assassinou um escravo, José, porque tentou violentar uma mulher. 

Antigo Prédio da Cadeia Pública de Pombal PB

Segundo Cascudo, "ficaram famosos os assaltos à cadeia de Pombal, (PB) para libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade de Martins (RN). Cercado pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem através de casas, rompendo as paredes, cantando a antiga “Corujinha”. O coronel João Dantas foi parceiro de Jesuíno no ataque à Cadeia de Pombal, na Paraíba, para resgate do irmão do cangaceiro. João Dantas aliou-se a Jesuíno com o intuito de aumentar seu poder, mas o rompimento entre os dois ocorreu quando o coronel pediu para Jesuíno matar o jornalista Vulpes Alba, que denunciou no Diário de Pernambuco o ataque à Cadeia de Pombal, considerada uma das mais seguras do Nordeste. Com a recusa de Jesuíno, os dois não mais se entenderam. Os filhos do coronel acabaram assassinando o jornalista. Câmara Cascudo afirma ainda que Jesuíno “nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar”. A imaginação popular acrescentou à biografia do cangaceiro centenas de batalhas, das quais Jesuíno Brilhante teria participado sem que tivesse levado um só tiro.

Em dezembro de 1879, Jesuíno foi vítima da emboscada de uma milícia liderada por Preto Limão, seu algoz, sob encomenda do coronel João Dantas, após ter sido traído por um seleiro nas margens do Riacho dos Porcos, na comunidade Palha no sopé da Serra de João do Vale, no município de São José do Brejo do Cruz, na Paraíba, antigamente São José dos Cassetes. Atingido no braço e no peito, foi levado, agonizante, por seus amigos. Morreu no lugar chamado “Palha”, onde foi sepultado. Em 1883, o dr. Francisco Pinheiro de Almeida visitou o túmulo do bandido e levou a caveira do cangaceiro para sua casa, em Mossoró. Após sua morte, a caveira de Jesuíno foi levada para o Grupo Escolar "30 de Setembro". No ano de 1924, a caveira foi transferida para a Escola Normal. Seus restos mortais foram resgatados pelo médico Almeida Castro e durante várias décadas estiveram expostos no Colégio Diocesano em Mossoró, para depois fazer parte do acervo museológico do alienista Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. 

Gruta é uma obra da natureza. Segundo o historiador patuense, Petronilo Hemetério Filho, a Casa de Pedra também conhecida como “Casa de Pedra Jesuíno Brilhante” fica na Serra do Cajueiro, distante da cidade 6 km, ao lado da BR que dá acesso para Catolé do Rocha, na Paraíba. É uma obra da natureza, contendo um salão que dá para abrigar 30 pessoas, três fendas largas na rocha como se fossem três quartos e uma espécie de parapeito por toda largura do portão de entrada, onde Jesuíno Brilhante se entrincheirava, para dali, deitado por trás do balcão de pedra fazer “fogo” contra a polícia, com seus companheiros. Nunca foram atingidos pelas balas da força pública chamada de “volante”, e nunca sofreram uma derrota nas lutas travadas com a polícia, várias vezes, com dezenas de soldados. Durante certo tempo, Jesuíno Brilhante morava lá com a sua família achando-se seguro na fortaleza, feita pela natureza, onde contemplava a beleza da montanha e os gorjeios dos pássaros. Respirava o oxigênio puro. Como só havia um caminho de acesso, de lá de cima da quebrada da serra avistava quem se dirigia à Casa de Pedra. Sentia-se seguro com a espionagem e ainda zombava da polícia. Só iam lá os amigos e familiares. Os que tentassem violar seu esquema de segurança sem se comunicar, eram recebidos na boca do bacamarte. A gruta onde Jesuíno se escondia no Sítio Cajueiro, a Casa de Pedra do Sítio Escondido, bem como a casa em ruínas do coronel João Dantas no Sítio Patu de Fora e o sítio arqueológico do Jatobá, são os três primeiros sítios, comprovadamente que receberam o cangaceiro em seus domínios. Já o terceiro foi reduto dos negros Limões, famosos inimigos do cangaceiro. Acredita-se que o sítio arqueológico do Jatobá não seja de interesse apenas por contar a vida do cangaceiro, mas possivelmente ele tem objetos de populações pré-indígenas que viveram no local há mais de 10 mil anos.

Convém lembrar a municipalidade para fazer um decreto transformando a Casa de Pedra, em patrimônio público, local de visitação, já que é um ponto turístico e pitoresco.

Recentemente, foram localizados dois objetos que pertenceram ao cangaceiro e poderão ser apreciados na Casa de Cultura de Campo Grande. Uma das garruchas, um revólver antigo usado por ele, estava com Orlando Alencar, descendente materno de Jesuíno. E a moringa, garrafa do século 19, produzida em Amsterdã, na Holanda, teria sido adquirida por Jesuíno na capital do Oeste, sendo um dos primeiros objetos da era industrial a chegar a Mossoró. Ela também pertencia ao acervo do descendente. A cidade de Campo Grande também tem ligação com Jesuíno. O professor Epitácio lembra que Câmara Cascudo, no livro Flor dos Romances Trágicos, menciona a passagem pela fazenda de familiares do escritor do cangaceiro Jesuíno Brilhante. Existe a intenção de fazer um mausoléu para Jesuíno no local em que foi morto pelo inimigo Preto Limão".

Livro: Jesuíno Brilhante, O Cangaceiro Romântico.

Autor: Raimundo Nonato. 

http://aluisiodutra.blogspot.com/2018/04/historia-do-cagaceiro-jesuino-brilhante.html

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