Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.414
Abrindo espaço para o saudoso escritor santanense Oscar Silva, em página que antecede o literário trabalho: Bucho de Alastrado, Na Íntegra.
BUCHO DE ALASTRADO
Caminhos que se cruzam os caminhos do sertão.
Encruzilhadas sertanejas – estradas que levam ao Norte, caminhos para o poente.
Sol do Nascente, banho de luz na reta de uma estrada, noutra o enxame de cruzes – sombras de arvoredo desnudo da caatinga.
Romeiros do Padrinho Cícero em busca de sua Meca – cruzes riscadas nos troncos de marmeleiro, angico ou imburana.
Curva de estrada, volta num caminho, baixada ou ladeira, cruzes de abertos braços – viagens para sempre interrompidas.
Caminhos cheios de cruzes, os caminhos do sertão.
Cruzes de estradas, cruzes de árvores ressequidas, cruzes riscadas a ponta de faca ou canivete, cruzes plantadas pela força do bacamarte.
Cruzes + cruzes + cruzes!
Sertão nordestino – Gólgota brasileiro, diplomado pelas cruzes dos caminhos.
Cruzes que impressionam o viajor, cruzes que arrepiam com medo dos mortos, que fazem tremer por temor dos vivos. Em cada estrada sertaneja, cruzes à direita, cruzes à esquerda – marcos de vida que ali se finaram.
Cruzes desabrigadas, braços túmidos da chuva, haste rachada pela inclemência da canícula, ramo verde de florinhas silvestres engastado nas fendas - sincera homenagem do caminhante às vítimas do destino ou da traição.
Cruzes protegidas, casinhas brancas dos caminhos – relicário dos que têm fé. Perna ferida, dilacerado seio, lábio corroído – ex-votos e recordação: chaga sifilítica, angustiado peito, sofrimento!
Caminhos que se cruzam, caminhos cheios de cruzes, os caminhos do sertão.
*SILVA, Oscar. Fruta de Palma. Assoeste, Paraná, 1990, pág. 115.
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