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sábado, 12 de março de 2022

A CASA DE MARIA DA INVENÇÃO, AVÓ DAS CANGACEIRAS DO MARANDUBA.

Por Manoel Belarmino

Ali, ao lado da capela de Santo Antônio do Curralinho, em Poço Redondo, estava a casa de Maria da Invenção, filha de Maria do Rosário, a grande matriarca dos Soares do Maranduba. Maria da invenção, herdou a liderança e o poderio do território do Maranduba. Esse poderio territorial, o Grande Maranduba, que começava na Risada e se estendia pelo Rancho Velho, Lagoa da Vila, Volta da Caída, Capela, Aroeiras, Sítio dos Soares, Santo Antônio, Alto Bonito, As Capoeiras, e chegando ao Curralinho, na beira do Rio São Francisco com o seu casarão ali ao lado da capelinha de Santo Antônio.

Maria da Invenção, a filha de Maria do Rosário (a "Mãe Rosara" dos Soares), passava temporadas no Curralinho, nas festas, e de onde partia em grandes é demoradas viagens para Propriá e Penedo, e também de onde saída em longas caminhas em Romaria para o Juazeiro do Norte do Padre Cicero.

Os filhos de Maria da Invenção, em 1932, dois anos depois da chegada de Lampião a Sergipe, já eram todos coiteiros dos cangaceiros, acoitando-os em suas fazendas do território da "Mãe Rosara", o grande Maranduba.

Um dia depois do sangrento combate do Maranduba, que deixou o chão dos Soares empapado de sangue, a vegetação queimada pelo fogo da pólvora das armas das volantes e dos cangaceiros, as tropas das volantes rumaram para o Curralinho na intenção de descansar, socorrer os feridos e por ser mais fácil, pelo rio, o acesso aos transportes.

Liberato de Carvalho, um dos comandantes das volantes, chegando ao Curralinho, soube que os Soares eram coiteiros dos cangaceirose e decidiu mandar prender todos os filhos de Maria da Invenção que estavam no Curralinho e na Fazenda Capoeiras. Lê Soares, Francisco, Luiz e outros, foram presos e levados de canoas para o quartel em Canindé.

Antônio Soares, que estava no coito de Lampião, no Maranduba, naquele dia 9 de janeiro, com seu burro de carga transportando água, queijo, bebidas e outros alimentos (dizem que também balas), quando escutou os primeiros disparos dos cangaceiros e volantes, desabou no oco do mundo. Antônio Soares nunca tinha visto um estouro de balas daquele tamanho. Ficou tonto. Correu tanto, que foi parar nas Capeiras, na beira do rio, perto de Curralinho. No mesmo dia, atravessou o rio. Em Alagoas, juntou-se aos romeiros de Nossa Senhora das Candeias e só se assossegou quando chegou ao Juazeiro e se confessou com o Padre Cicero. Contou tudo ao seu Padim. E ali ficou até o dia da morte do seu Padim do Juazeiro.

Em setembro de 1934, depois da morte do padre Cícero, Antônio Soares retornou para o Maranduba e foi procurar a sua família nas capoeiras. A família Soares nem imaginava que Antônio Soares tivesse vivo.

Voltando às prisões dos filhos de Maria da Invenção. Quando a líder dos Soares soube que todos os seus filhos que estavam ali no Curralinho e nas Capoeiras foram presos, teve que fazer, de forma dramática, e que não era do seu feitio, procurar o comandante das volantes que estava arranhado na casa de Totonho Lameu ali mesmo no Curralinho e ajoelhar-se aos pés do comandante Liberato de Carvalho para pedir que não matasse os seus filhos. Na noite daquele mesmo dia 10 de janeiro de 1932, todos os Soares que estavam presos no quartel de Canindé foram soltos.

Mais tarde, três de netas de Maria da Invenção entram no Cangaço. Foram elas: as duas irmãs Adelaide e Rosinha e a tia das duas, Áurea. Áurea era filha de Tonho Soares(Tonho Nicácio), primo irmão do Antônio Soares que estava no momento do combate do Maranduba, e Rosinha e Adelaide eram filhas de Lê Soares.

O casarão dos Soares no Curralinho já não existe mais com a arquitetura original. Ali hoje é a casa do empresário Oderman de Poço Redondo.

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