Por Cinthia Lopes | Editora e redatora
Rostand Medeiros
refez o caminho cinco vezes e colheu depoimentos de pessoas que viveram à
época, além jornais e inquéritos.
Frederico Pernambucano de Melo e Rostand Medeiros. - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2020/09/adquira-o-mais-novo-livro-do.html
Mas até chegar a Mossoró, por onde mais Lampião andou? Em menos de uma semana, o bando cruzou a cavalo um território que compreende 14 municípios do Rio Grande do Norte, incluindo Pau-do-Ferros e Martins, deixando um rastro de violência e impacto que o tempo não apagou da memória dos sertanejos. Foi preciso refazer todo esse chão para trazer à luz novas histórias, um desafio para o escritor e pesquisador Rostand Medeiros que agora chega ao livro “1927: O Caminho de Lampião no Rio Grande do Norte” (Caravela Selo Cultural, 375 págs.), com patrocínio do Edital de Economia criativa do Sebrae.
“1927: O
Caminho de Lampião no Rio Grande do Norte” é divido em capítulos por dia em que
os cangaceiros passaram pelas cidadezinhas. Era manhã de sexta-feira, dia 10 de
junho de 1927, quando Lampião cruza a fronteira por Luís Gomes, trecho que hoje
seria a BR-405. Sem polícia no encalço, eles então assassinam o lavrador Mané
Chiquinho, dono da propriedade chamada Vaquejador. Foi a partir desse crime que
as polícias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará passaram a acompanhar o
bando. Fatos importantes foram acontecendo no caminho até o ataque a Mossoró
(dia 13) e a prisão e morte de Jararaca no dia 14 seguindo-se a fuga de Lampião
para o Ceará.
Algo que se destaca neste livro é a reconstituição dos cenários mais antigos a partir das propriedades rurais. São sítios e fazendas centenárias de nomes curiosos que traçam um caminho de contornos semi-desaparecidos: Sítio Bom Jardim, Sítio Diamantina, Fazenda Aroeira, Sítio Corredor, Sítio Gangorrinha, Fazenda Ausente, Sítio Saco, Fazenda Picada, Passagem de Oiticica, Fazenda Cacimba, Caboré, dentre muitas outras.
Um dos locais da passagem é o Sítio Ponta de Serra, com traços preservados. Ao fundo, a Serra de Martins. Foto: Rostand Medeiros
Idas e vindas
Há mais de dez
anos Rostand segue o rastro de Lampião pelo Rio Grande do Norte. Só de viagens
foram cinco. De motocicleta, de carro e com diferentes propósitos. A primeira
em 2010 a convite do Sebrae-RN, para criar o roteiro de turismo cultural. “A
pesquisa fez parte do projeto Pegadas de Lampião, uma ideia do superintendente
do Sebrae Zeca Melo, que inclusive prefaciou o livro que estou lançando”,
destaca.
Ao final
da primeira jornada, o pesquisador entregou o resultado para a instituição e
desde então vinha tentando publicar o texto. Até que em 2015 pegou novamente na
estrada para participar das filmagens do documentário “Chapéu Estrelado”, do
diretor Silvio Coutinho, como principal consultor. “Participei ativamente das
filmagens a convite de Silvio, Iaperi Araújo e Valério Andrade e foram vários
dias de muito chão, poeira e aprendizado”, conta o escritor.
Vale lembrar
que ‘Chapéu Estrelado’ foi apresentado em Natal e exibido no Canal Brasil, que
era o co-produtor do documentário junto com a Locomotiva Cinema e Arte. “Quando
estava sendo preparado para percorrer os circuitos de festivais de cinema,
inesperadamente Sílvio Coutinho faleceu de um ataque cardíaco no Rio e aí tudo
parou. Hoje eu nem sei como está a situação dessa obra cinematográfica,
lamenta.
Em 2017, de volta a estrada em companhia do artista plástico e fotógrafo potiguar Sérgio Azol, focado em uma coleta de material fotográfico para o desenvolvimento de uma exposição em São Paulo, onde Azol é radicado. A exposição também passou por Natal.
Histórias
coletadas
Após esse
tempo de vivência, o autor se voltou aos registros em cartórios, jornais de
época e bibliografia anterior. Rostand destaca o livro de Sérgio Augusto de
Souza Dantas, que foi “muito elucidativo sobre o caminho”. O livro em questão é
"Lampião e o Rio Grande do Norte: A História da Grande Jornada" (Ed.:
Gráfica Real, esgotado).
Além desse
autor, foram consultados trabalhos de Raul Fernandes e Raimundo Nonato. E
ainda os processos criminais abertos em Pau dos Ferros e Martins sobre os
ataques dos cangaceiros, reproduzindo depoimentos dos cangaceiros Mormaço,
Casca Grossa e Jararaca, nomes famosos que estavam no bando de Lampião à época.
“Nos
depoimentos eles declararam que vieram para o Rio Grande do Norte por instância
do cangaceiro Massilon e em nenhum dos depoimentos informaram alguma motivação
diferente das ações que normalmente os cangaceiros efetuavam na época”, pontua.
Rostand ficou impressionado com o destaque dado pelos jornais de todo Brasil ao ataque a Mossoró e como a passagem do bando marcou de forma intensa as muitas comunidades que visitou. “Encontrei poucas pessoas que foram testemunhas diretas dos episódios, mas delas colhi depoimentos preciosos. Principalmente os filhos, que escutaram essas histórias nos alpendres das casas sertanejas antes da chegada do rádio e da televisão, que consegui ótimas memórias da passagem do bando”. O autor confrontou o depoimento dos sertanejos às informações que estavam nos livros, jornais e processos.
No livro
Rostand reforça que o objetivo de Lampião no Rio Grande do Norte não era
guerrear, mas tentar conseguir dinheiro com alguma aliança com os coronéis.
“Lampião normalmente só se envolvia em contendas de outras pessoas se isso de
alguma forma lhe trouxesse vantagem. Não podemos esquecer que Lampião sequer
conhecia o Rio Grande do Norte e aqui não tinha inimigos.”
Para o autor a
tentativa de invasão a Mossoró foi o maior combate da história do Cangaço em
área urbana e, apesar de haver quatro defensores para cada cangaceiro, a
chamada Resistência Cívica do povo de Mossoró contra Lampião e seu bando merece
todas as loas.
Mas em
acontecimento dessa magnitude não poderia deixar de existir controvérsias. “Uma
foi sobre o destino do jovem cangaceiro Menino-de-Ouro. Este teria sido
gravemente ferido no combate em Mossoró e por não suportar a dor teria pedido a
Lampião que o executasse e assim foi feito. Mas o pesquisador Hilário Lucetti
encontrou um idoso Menino-de-Ouro morando no sul do Ceará e sua história foi
contada em um interessante livro de 1995”.
Outros temas
Rostand
Medeiros é escritor, pesquisador e formado em Turismo, e escreve no blog Tok de
História. Temas como Segunda Guerra também fazem parque do seu foco de
pesquisa. Escreveu “Lugares de Memória: edificações e estruturas históricas
utilizadas em Natal durante a Segunda Geurra” (Caravela), “Os Cavaleiros do
Céu: A Saga do Vôo Ferrarin Del Prete” (Caravela), “João Rufino: Um Visionário
de Fé”, dentre outros.
Contato com o
autor para aquisição do livro: crfm1967@gmail.com | ou no site da Caravela
Selo Cultural AQUI
https://tipicolocal.com.br/noticia/autor-natalense-detalha-caminho-de-lampiao-pelo-rio-grande-do-norte-em-livro?fbclid=IwAR1Q_oNLdGZlfO4MQlmiBT-uIit03xGDqBSJGlHVijkzmIoVGOuAA7O763Q
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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