Por José Mendes Pereira
Genésio Xavier
era conhecido pelos mossoroenses por “Genésio da barragem”, e havia ganhado
este pseudônimo, devido uma barragem que fora construída no leite do rio
Mossoró, em sua propriedade.
Morava entre o bairro Alto da Conceição e os Carnaubais. Era um dos mais
antigos comerciantes desta encantadora e amada cidade.
O nosso
conterrâneo viveu do comércio por toda sua vida, até que chegou o ponto de
parar suas atividades, devido a visita já esperada da indesejada velhice, e era
mossoroense de raízes plantadas nestas terras dos famosos índios Monxorós ou
Moxorós.
Índios Monxorós - http://pt.wikipedia.org/
Hospitaleira
por excelência, mãe, e tem um coração de madrasta para aqueles que procuram um
lugarzinho sobre o seu seio; terra de gente humilde, mas valente quando é
necessário defender sua soberania. Lutou contra os malfeitores que queriam
tirar a tranquilidade e a paz de uma jovem cidade ainda debutante.
Mas ela soube
muito bem defender e preservar o que é seu, o que lhe pertence, quando em 13 de
Junho de 1927, obrigou Lampião e seu afamado e destemido bando de cangaceiros,
saírem destas terras às carreiras.
Genésio Xavier
era conhecido pela sua maneira de ser. Palavra dada, não a voltaria atrás, e
não abria mão para nada e nem tão pouco para ninguém. Mercadorias fiadas do seu
barracão só sairiam de lá, somente para pessoas que tinham responsabilidades,
ligadas em algumas empresas, que tivesse um ordenado garantido, uma espécie de
fonte ganhadora.
Mas segundo as
pessoas que faziam parte da sua intimidade afirmavam que Genésio não era o que
ele aparentava ser, e se alguém tentasse ludibriá-lo, era possível vencê-lo,
fazendo com que ele se rendesse a certas coisas que antes, não as
aceitava.
Sabendo das
suas manias e preservações do que ele não aceitava de forma alguma, e que era
tido como homem que não engolia cordas de ninguém, João Mutemba e Carlos Silva,
que costumeiramente viviam de bares em bares ingerindo bebidas alcoólicas, e
que seu Genésio não os conhecia, visto que eles moravam mais distante do seu
barracão, combinaram para tentar convencer Genésio a lhes vender uma garrafa de
cachaça, e com garantia de honrarem o valor, assim que eles recebessem
dinheiro já ganho de alguém.
A tentativa
dos dois foi da seguinte maneira: João Mutemba iria até ao balcão do seu
barracão, e solicitava a venda de uma garrafa de cachaça, garantindo-lhe
pagamento depois.
O Carlos Silva ficaria por trás dele, e com uma das mãos e com o dedo indicador estirado, ficaria acenando para seu Genésio, indicando-lhe que não vendesse a bebida ao João Mutemba. Mas isso era só para ver se Genésio engoliria a corda e os venderia a bebida.
Tudo pronto.
Ao chegarem ao barracão seu Genésio cuidava das prateleiras, abastecendo-as com
novas mercadorias que recebera dos fornecedores ambulantes.
Como o João
Mutemba iria fazer a solicitação da venda do líquido ao seu Genésio, o Carlos
Silva logo posicionou-se por trás dele, e ali ficaram aguardando, enquanto seu
Genésio terminasse a tarefa que no momento fazia.
Virando-se em
direção aos novos fregueses, que no momento iriam tentar convencê-lo a venda da
garrafa de cachaça, seu Genésio perguntou-lhes:
- Querem o
quê?
- Seu Genésio
- dizia João Mutemba - O problema é o seguinte:
- Diga logo,
sem muito sermão - fez Genésio.
- Se possível,
a gente está querendo que o senhor nos venda uma garrafa de "pitu",
mas não tenha medo, assim que a gente receber dinheiro, vem lhe pagar.
Enquanto isso,
Carlos Silva ficou balançando a mão, acenando que não vendesse a bebida ao João
Mutemba.
Genésio
observava a cena feita por Carlos Silva, já com ódio. E de imediato desabafou:
- Olha seu
magrelo branco - dizia ele ao Carlos Silva - você está querendo mandar no meu
barracão? Aqui quem manda sou eu, o Genésio Xavier! Ora essa! Vá mandar lá nas
suas coisas, as minhas quem manda sou eu.
Genésio foi à
prateleira, tirou a garrafa de cachaça, trouxe-a dizendo-lhe:
- Vendo-a! Vendo porque a cachaça é minha e eu vendo a quem eu quiser. Leve-a, mas não dê um pingo de cachaça a este safado, para não ficar querendo mandar nos barracões dos outros. Só o que me faltava mesmo! Um sujeito que eu nem sei quem é, agora quer mandar no meu barracão! Ora essa! E saia daqui logo, sua peste! -Dizia Genésio Xavier expulsando o Carlos Silva do seu barracão.
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