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sábado, 19 de novembro de 2022

O LADO ANEDÓTICO DE SILVIO ROMERO

Por Zózimo Lima

Sílvio Romero

Sobre Silvo Romero, notável publicista sergipano, muito se tem escrito e ainda se poderá escrever, no caso de serem feitas pesquisas bem profundas.

Além da sua monumental HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, dos seus estudos sociológicos e filosóficos, do abundante florilégio lírico, da preciosa coletânea folclórica, das agressivas polêmicas em matéria de ciência, política, literatura e direito, há a parte anedótica que é riquíssima e interessante.

O imortal escritor brasileiro, apesar de polido pela cultura multiforme e em contato com as camadas que se presumiam aprimoradas pela civilização, não se libertara da casca-grossa de autêntico tabaréu de Sergipe, nascido no Lagarto.

O seu modo de falar, a sua despreocupação dos protocolos sociais, a franqueza rude para com os poderosos da política e grandes da literatura, a sua indumentária relaxada, tornaram-se sobremodo conhecido, como o era, pelos hábitos e simplicidade, o historiógrafo Capistrano de Abreu.

Até no agnosticismo eram semelhantes, o sergipano e o cearense. Tolerantes ambos, entretanto, em questão de fé, de crenças religiosas. Assim é que Silvo consentiu em que um seu filho professasse na Companhia de Jesus, e Capistrano não opôs embargos a que uma sua filha entrasse para o convento das Carmelitas.

A diferença é que Capistrano era um tanto misantropo e Silvio sociável e exuberante em todos os ambientes e circunstâncias.

Os seus antigos discípulos do Ginásio Nacional e da Faculdade de Direito poderiam colaborar na feitura de uma antologia de anedotas ouvidas e presenciadas nas aulas por ele ministradas.

Delas divulgo uma pouco conhecida e narrada a Humberto de Campos pelo poeta Belmiro Braga, que foi grande amigo e admirador de Silvio.

Estava Silvio, como sempre o fazia, veraneando, com a família, em Juiz de Fora. Achava-se na rede, com a camisa por cima das ceroulas, como era de seu hábito, quando lhe aparece o poeta Brant Horta para ler-lhe um poema de quatro cantos.

Pacientemente Silvio se dispõe a ouvi-lo. Os filhos que lhe estão por perto fazem uma algazarra dos diabos. Silvio grita para a garotada brincalhona: “Para aqui, tudo, canalha”.

Os pequenos, agora quietos, enfadados, no banco, caem no sono. O poeta anuncia que vai ler o terceiro canto. Silvio, como se sofresse uma agressão, brada: “Ainda tem?! Vai-te embora! Volta amanhã. Os meninos já estão dormindo”.

O poeta Brant Horta vai e não volta mais, naturalmente encabulado.

O grande Silvio era assim, franco, desabusado, sem papas na língua, por isso contava com aversões sérias na área literária, sendo, porém, em maior número, as simpatias em torno da sua individualidade bondosa e excêntrica.

Zozimo Lima

Correio de Aracaju (SE) – 16/12/58

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