Por Zózimo Lima
Sílvio Romero
Sobre Silvo
Romero, notável publicista sergipano, muito se tem escrito e ainda se poderá
escrever, no caso de serem feitas pesquisas bem profundas.
Além da sua
monumental HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, dos seus estudos sociológicos e
filosóficos, do abundante florilégio lírico, da preciosa coletânea folclórica,
das agressivas polêmicas em matéria de ciência, política, literatura e direito,
há a parte anedótica que é riquíssima e interessante.
O imortal
escritor brasileiro, apesar de polido pela cultura multiforme e em contato com
as camadas que se presumiam aprimoradas pela civilização, não se libertara da
casca-grossa de autêntico tabaréu de Sergipe, nascido no Lagarto.
O seu modo de
falar, a sua despreocupação dos protocolos sociais, a franqueza rude para com
os poderosos da política e grandes da literatura, a sua indumentária relaxada,
tornaram-se sobremodo conhecido, como o era, pelos hábitos e simplicidade, o
historiógrafo Capistrano de Abreu.
Até no
agnosticismo eram semelhantes, o sergipano e o cearense. Tolerantes ambos,
entretanto, em questão de fé, de crenças religiosas. Assim é que Silvo
consentiu em que um seu filho professasse na Companhia de Jesus, e Capistrano
não opôs embargos a que uma sua filha entrasse para o convento das Carmelitas.
A diferença é
que Capistrano era um tanto misantropo e Silvio sociável e exuberante em todos
os ambientes e circunstâncias.
Os seus
antigos discípulos do Ginásio Nacional e da Faculdade de Direito poderiam
colaborar na feitura de uma antologia de anedotas ouvidas e presenciadas nas
aulas por ele ministradas.
Delas divulgo
uma pouco conhecida e narrada a Humberto de Campos pelo poeta Belmiro Braga,
que foi grande amigo e admirador de Silvio.
Estava Silvio,
como sempre o fazia, veraneando, com a família, em Juiz de Fora. Achava-se na
rede, com a camisa por cima das ceroulas, como era de seu hábito, quando lhe
aparece o poeta Brant Horta para ler-lhe um poema de quatro cantos.
Pacientemente
Silvio se dispõe a ouvi-lo. Os filhos que lhe estão por perto fazem uma algazarra
dos diabos. Silvio grita para a garotada brincalhona: “Para aqui, tudo,
canalha”.
Os pequenos,
agora quietos, enfadados, no banco, caem no sono. O poeta anuncia que vai ler o
terceiro canto. Silvio, como se sofresse uma agressão, brada: “Ainda tem?!
Vai-te embora! Volta amanhã. Os meninos já estão dormindo”.
O poeta Brant
Horta vai e não volta mais, naturalmente encabulado.
O grande
Silvio era assim, franco, desabusado, sem papas na língua, por isso contava com
aversões sérias na área literária, sendo, porém, em maior número, as simpatias
em torno da sua individualidade bondosa e excêntrica.
Correio de
Aracaju (SE) – 16/12/58
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