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domingo, 19 de maio de 2024

LAMPIÃO EM CAPELA

Por Beto Rueda

Depois de evaporar-se nas caatingas como por encanto por mais de um mês, Lampião reaparece no Estado de Sergipe, em Nossa Senhora das Dores. Dali segue para Capela e faz uma das mais célebres aparições públicas da sua duradoura carreira de cangaceiro.

O intendente(cargo equivalente ao de prefeito, hoje), Antão Corrêa de Andrade e os habitantes da cidade não acreditaram que o chefe dos cangaceiros ousaria atacar uma cidade tão próxima da capital.

O grupo composto por Lampião, Ponto Fino, Moderno, Arvoredo e mais alguns cangaceiros, chegou em dois automóveis, sem alteração.

Procuraram o telegrafista Zózimo de Lima que estava no cinema, o filme em cartaz era "Anjos das Ruas", estrelado por Janet Gaynor. A plateia viu projetada na tela a imagem dos bandidos, misturada com a dos atores da película. O público entrou em pânico e quis fugir mas Lampião ameaçou: "Não corra ninguém porque eu atiro! Não sai ninguém da sala!". Depois ordenou: "Continue a música e corra a fita que eu estou doido para ver isso". Ao mesmo tempo acalmou o povo: "É Lampião que vai entrando, amando, gozando e querendo bem. É bom como arroz doce, estando calmo; zangado é Salamandra.

Em seguida localizou o telegrafista e exigiu que não divulgasse a sua presença ali.

Lampião logo desistiu de assistir o filme, certamente não era o seu estilo. Retirou-se sem maiores cerimônias.

Ao sair, acompanhado pelo intendente e o telegrafista disse que queria levar da cidade uma lembrança de vinte conto de réis. Com a ajuda do vigário José Mota Cabral, foi possível coletar apenas cinco contos e pouco. Lampião satisfeito, recebeu sem contar.

Na estação de trem, esperaram um trem que vinha da capital. Um dos primeiros a descer foi o soldado Gilberto. Lampião chamou o soldado e perguntando de sopetão: "Você é macaco da Bahia?" "Não, sou de Aracaju, respondeu o soldado assustado". "Se você fosse baiano eu sangrava agora mesmo". Em seguida tomou a arma das mãos do soldado, examinou-a com conhecimento de causa e deu a sua opinião: "Brigando com isso regula com cacete. É mais velho que a Lua. Vá embora".

Sem mais nada a fazer, foi tomar umas cervejas com os meninos. No bilhar, na Praça do Mercado, deixou um recado na parede:

"Capela - 25-11-29

Salvi

Eu cap.m Virgolino Ferreira

Lampeão

deixo Esta Lca. para o officiá qui parçar

Em minha perceguição, apois tenho Gosto que

Voceis me persigam. Desculpe as letras qui sou

Um bandido como voceis que andam roubando e deflorando as famia aleia porem eu não tenho

este costume todos me desculpe a gente a quem

odiar?

Aceite Lças. do meu irmão Ezaquiel Vulgo Ponto

Fino e meu cunhado Virginho Vulgo Moderno".

Em suas andanças pela cidade, Lampião conheceu um jovem comerciante de nome Jackson Alves de Carvalho, de quem comprou uma arma Parabelum e uma capa de borracha. Pagou quinhentos mil réis e recebeu, como presente, um livro com a seguinte dedicatória: "Ao intrépido forasteiro capitão Virgulino Ferreira da Silva, vulgo "Lampião", com um abraço de Jackson Alves de Carvalho. Capella, 25 de novembro de 1929".

Depois de visitar a a zona do meretrício e fazer o telegrafista beber cachaça, deixando-o totalmente embriagado, encerrou a sua visita, voltou para onde estavam os carros.

Apitou para reunir os companheiros e deu a mão ao intendente. Para o delegado, o padre, e os demais, esclareceu:

"Não dou a mão a todos para não gastar. Peça a Deus para eu ser feliz, que eu ainda volto aqui".

REFERÊNCIAS:

FONTES, Oleone Coelho. Lampião na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1988.

FERREIRA, Vera; ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. De Virgolino a Lampião. São Paulo: Ideia Visual, 1999.

LUSTOSA, Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma, 2011.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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