Por Beto Rueda
Depois de evaporar-se nas caatingas como por encanto por mais de um mês, Lampião reaparece no Estado de Sergipe, em Nossa Senhora das Dores. Dali segue para Capela e faz uma das mais célebres aparições públicas da sua duradoura carreira de cangaceiro.
O intendente(cargo equivalente ao de prefeito, hoje), Antão Corrêa de Andrade e os habitantes da cidade não acreditaram que o chefe dos cangaceiros ousaria atacar uma cidade tão próxima da capital.
O grupo
composto por Lampião, Ponto Fino, Moderno, Arvoredo e mais alguns cangaceiros,
chegou em dois automóveis, sem alteração.
Procuraram o
telegrafista Zózimo de Lima que estava no cinema, o filme em cartaz era
"Anjos das Ruas", estrelado por Janet Gaynor. A plateia viu projetada
na tela a imagem dos bandidos, misturada com a dos atores da película. O
público entrou em pânico e quis fugir mas Lampião ameaçou: "Não corra
ninguém porque eu atiro! Não sai ninguém da sala!". Depois ordenou:
"Continue a música e corra a fita que eu estou doido para ver isso".
Ao mesmo tempo acalmou o povo: "É Lampião que vai entrando, amando,
gozando e querendo bem. É bom como arroz doce, estando calmo; zangado é
Salamandra.
Em seguida
localizou o telegrafista e exigiu que não divulgasse a sua presença ali.
Lampião logo
desistiu de assistir o filme, certamente não era o seu estilo. Retirou-se sem
maiores cerimônias.
Ao sair,
acompanhado pelo intendente e o telegrafista disse que queria levar da cidade
uma lembrança de vinte conto de réis. Com a ajuda do vigário José Mota Cabral,
foi possível coletar apenas cinco contos e pouco. Lampião satisfeito, recebeu
sem contar.
Na estação de
trem, esperaram um trem que vinha da capital. Um dos primeiros a descer foi o
soldado Gilberto. Lampião chamou o soldado e perguntando de sopetão: "Você
é macaco da Bahia?" "Não, sou de Aracaju, respondeu o soldado
assustado". "Se você fosse baiano eu sangrava agora mesmo". Em
seguida tomou a arma das mãos do soldado, examinou-a com conhecimento de causa
e deu a sua opinião: "Brigando com isso regula com cacete. É mais velho
que a Lua. Vá embora".
Sem mais nada
a fazer, foi tomar umas cervejas com os meninos. No bilhar, na Praça do
Mercado, deixou um recado na parede:
"Capela -
25-11-29
Salvi
Eu cap.m
Virgolino Ferreira
Lampeão
deixo Esta
Lca. para o officiá qui parçar
Em minha
perceguição, apois tenho Gosto que
Voceis me
persigam. Desculpe as letras qui sou
Um bandido
como voceis que andam roubando e deflorando as famia aleia porem eu não tenho
este costume
todos me desculpe a gente a quem
odiar?
Aceite Lças.
do meu irmão Ezaquiel Vulgo Ponto
Fino e meu
cunhado Virginho Vulgo Moderno".
Em suas
andanças pela cidade, Lampião conheceu um jovem comerciante de nome Jackson
Alves de Carvalho, de quem comprou uma arma Parabelum e uma capa de borracha.
Pagou quinhentos mil réis e recebeu, como presente, um livro com a seguinte
dedicatória: "Ao intrépido forasteiro capitão Virgulino Ferreira da Silva,
vulgo "Lampião", com um abraço de Jackson Alves de Carvalho. Capella,
25 de novembro de 1929".
Depois de
visitar a a zona do meretrício e fazer o telegrafista beber cachaça, deixando-o
totalmente embriagado, encerrou a sua visita, voltou para onde estavam os
carros.
Apitou para
reunir os companheiros e deu a mão ao intendente. Para o delegado, o padre, e
os demais, esclareceu:
"Não dou
a mão a todos para não gastar. Peça a Deus para eu ser feliz, que eu ainda
volto aqui".
REFERÊNCIAS:
FONTES, Oleone
Coelho. Lampião na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1988.
FERREIRA,
Vera; ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa de. De Virgolino a Lampião. São Paulo:
Ideia Visual, 1999.
LUSTOSA,
Isabel. De olho em Lampião: violência e esperteza. São Paulo: Claro Enigma,
2011.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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