MARIA BONITA
Foi em fevereiro de 1930 que Lampião passou a viver com a mulher com que morreria ao seu lado oito anos depois. Maria Gomes de Oliveira, nascida em 8 de março de 1911, no Sítio Malhada do Caiçara, em Curral dos Bois (hoje Paulo Afonso, a 466 quilômetros de Salvador), era casada desde os 15 anos de idade com o primo
José Miguel da Silva, o Zé de Neném, sapateiro e boêmio. Os dois viviam às brigas e Maria se refugiava na casa dos pais. Em 1929, numa dessas separações, teria havido o primeiro contato com o cangaceiro. Interessado, Lampião pergunta se ela sabia bordar. Com a resposta positiva, deixa lenços de seda e diz que retornaria duas semanas depois para pegar a encomenda. A volta se daria bem depois do prazo, mas o laço do destino já estava dado.
João de Souza Lima, em: "A trajetória guerreira de Maria Bonita, a rainha do cangaço", desmente a história de que Lampião raptou Maria Déa, como a família a chamava. Nem também teria dito pessoalmente ao marido de que ela estava lhe seguindo por vontade própria. Em entrevistas com pessoas da região, contemporâneas da época, o escritor revela que Zé de Neném não chegou nem a ver o cangaceiro. O sapateiro seguiu sua vida, vindo a falecer em 1971, na cidade paulista de Nova Andradina, sem ter gerado filhos, um dos motivos das implicações da ex-mulher que depois se uniu a um cangaceiro.
Por ser companheira de um homem procurado pela polícia, não tardou para que as volantes importunassem os pais de Maria Déa, José Gomes de Oliveira (sogro a contragosto) e Maria Joaquina (sogra alcoviteira). Através de uma carta, Lampião conseguiu um acordo com o capitão João Miguel, baseado em Jeremoabo, que garantisse a volta definitiva da família ao Sítio Malhada do Caiçara.As visitas de Maria Bonita ao local passaram a ser esporádicas. Ela conseguiu impedir que seu irmão, chamado de Zé de Déa, virasse cangaceiro. O rapaz permaneceu oito dias com o bando, sem receber armas ou incumbência, até ser dispensado. "Volte e vá cuidar das coisas de pai, porque de desgraçada na família basta eu", teria dito Maria, na despedida.
A casa da família de Maria Bonita, restaurada em 2006, tornou-se um museu, que abriga fotografias do cangaço e mobiliário sertanejo da primeira metade do século passado. O espaço, distante 34 quilômetros da sede de Paulo Afonso, em estrada de terra, é administrado pelos descendentes da mulher que deu início à última era do cangaço. A entrada custa R$ 2,00.
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