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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Aluízio Alves, 90

Fonte: coisasdejornal.blogspot.com

Se a História consagrou Alberto Maranhão como o governador que colocou Natal no século XX, abrindo os caminhos do Rio Grande do Norte no rumo da Modernidade, certamente se dirá o mesmo  com relação a Aluízio Alves que anteviu o futuro de sua terra  implantando no seu governo o conceito moderno do planejamento que levaria o Estado ao patamar do verdadeiro desenvolvimento - o que produz riqueza e bem estar. Ele sabia que para desenvolver é preciso  planejar. Cinquenta anos separam os dois governos: Alberto Maranhão, 1908-1912 (segundo mandato); Aluízio Alves, 1961-1965.
Itamar de Souza, no seu livro A República Velha no Rio Grande do Norte (1889-1930) afirma que Alberto Maranhão realizou no setor educacional uma verdadeira revolução. Tinha consciência que  a educação deve ser a primeira preocupação de um governante. Aluízio seguiria o  exemplo. Investiu na Educação e na Cultura, ao mesmo tempo em que cuidou de trazer para o Estado a energia de Paulo Afonso. Sem as três não haveria desenvolvimento. E fez tudo isso com muito arrojo, muita convicção e idealismo. Muita obstinação.
Quando hoje celebramos os 90 anos do nascimento de Aluízio  Alves, recomendo a leitura do livro 40 Horas de Esperança - O método Paulo Freire: política e pedagogia na experiência de Angicos, de Calazans Fernandes e da pedagoga  Antonia Terra, publicado pela Editora Ática, São Paulo, 1994. É um livro fundamental sobre educação e a política no Rio Grande do Norte. Diria mais: sobre o próprio desenvolvimento da educação no país, pois cuida da aplicação do método de  ensino Paulo Freire no Brasil, projeto que começou na cidade de Angicos, durante o governo Aluízio Alves.
O livro é dividido em duas partes: "Revolução no Sertão" e "Angicos hora a hora". A primeira, assinada por Calazans Fernandes;
Fonte: midiacon.com.br
a segunda por Antonia Terra, sua filha, historiadora e pedagoga. Calazans foi um grande jornalista, dos mais notáveis repórteres brasileiros, com textos também publicados em jornais e revistas de outros países. Foi secretário de Educação no governo de Aluízio, personagem e testemunha dessa história.
O texto de Calazans é primoroso. Brinca com as palavras, manejo que aprendeu pelas carteiras duras do seminário e desenvolveu na agitação  das redações dos jornais. Jornalista e escritor. Este seu livro 40 Horas de Esperança, esgotado, deveria ser reeditado e colocado à disposição de todas as escolas e bibliotecas públicas do Rio Grande do Norte. Em suas páginas, cuja leitura que prende o leitor logo na primeira frase, estão retratados alguns dos instantes mais importantes -  diria, dramáticos -  da história brasileira dos anos 60.  Os bastidores da Aliança para o Progresso, a disputa ideológica entre os governadores nordestinos, como Paulo Freire chegou  ao Rio Grande do Norte, o papel decisivo desempenhado por
Fonte: onordeste.com
Odilon Ribeiro Coutinho junto a Paulo Freire, a ação da Igreja, a história da cascavel do marechal Castello Branco,  a quase vinda do presidente Kennedy ao Rio Grande do Norte, são algumas passagens narradas por Calazans, que começa o livro assim:
- Este livro é a história de uma saga que uma realidade de conflagração no Nordeste brasileiro transformou em mito e que a conjuntura histórica, do triênio perdido desde a década de 60, se encarregou de propagar pelo mundo inteiro. Falo do contexto político no qual aconteceu a experiência de Angicos, no Rio Grande do Norte, a alfabetização de adultos em 40 horas, depois denominado método Paulo Freire.

Aluízio  e Kennedy

Calazans, às folhas tantas, conta:

-  Um dos primeiros governadores a obter recursos dos Estados Unidos - Cid Sampaio, Pernambuco, 1961-2 - viu seus acordos para estradas e educação em parte prejudicadas, com  a ascensão de Miguel Arraes, em 1962, por causa da cláusula de co-gestão.

- Aluízio Alves, do Rio Grande do Norte, foi a Washington logo em seguida, no começo de 1962, no segundo ano  do seu governo. No De-partamento de Estado, não encontrou a quem procurava. Teodoro Moscoso, diretor-geral da Usaid para a América Latina, estava de férias. O governador relatou a sua frustrada visita ao embaixador e amigo Roberto Campos. Este indagou: "Tem tempo? Quer falar com o presidente?"

- No dia seguinte, os dois estavam diante de Kennedy. "Como vai a aliança?", perguntou o presidente. "Por enquanto, só no discurso", respondeu Aluízio. As providências foram rápidas. Moscoso regressou das férias em poucas horas. Conversaram sobre projetos. Aluízio voltou ao Rio Grande do Norte carregado de ideias e expectativas.

- Pouco tempo depois, aterrissou em Natal o avião número 2 da Casa Branca, trazendo Teodoro Moscoso. Queria ver os projetos. Reuniram-se por um dia e acordaram num pacote de 25 milhões de dólares a ser detalhado em atividades de saneamento básico, agricultura, habitação, eletrificação e educação.

- O acordo de governo a governo ainda não estava assinado. Sem cobertura hábil, Aluízio procurou, então, o ministro do Exterior, Santiago Dantas. Este  preparou um aviso, de redação inspirada por Afonso Arinos, ex-ministro do Exterior do governo Jânio Quadros, que o primeiro-ministro Tancredo Neves assinou, autorizando o governador a negociar diretamente com a Usaid, que  ainda não chegara a Recife.

O profeta Moisés

Em outro capítulo, Calazans lembra-se do profeta Moisés:

- Nos jornais do sul e do exterior, Aluízio era o governador do desenvolvimento, do discurso estruturado e mordaz. Suas teses, se não eram totalmente acatadas por Celso Furtado, transformado em vilão, encontravam eco na Aliança, naquele momento no mínimo desnorteada, sem saber em que direção primeiro correr para apagar o fogo de governantes contestadores, ávidos de dinheiro. Para não falar no problema criado em Pernambuco, sede da Usaid, por Miguel Arraes, dando uma no cravo e outra na ferradura e que relutou confirmar obras do antecessor Cid Sampaio, com financiamentos americanos.

- Em abril-maio de 1962, o esquelético Aluízio encarnou o profeta Moisés na "diáspora do povo nordestino condenado a sair rumo às periferias inchadas do sul, ou pelas florestas do inferno tropical úmido da Amazônia". A força da sua contestação consistia na pregação pragmática, de aparente independência, não contaminada pelo slogan o que não o livraria do espírito populista. Continuou forte no discurso e recrutou técnicos entre os que haviam participado da equipe de planejamento do governador Carvalho Pinto, para concluir seus projetos, promover a inadiável reforma administrativa do Estado, acelerar seu calendário de ações e derrubar, na Sudene, a incômoda posição de sexta prioridade, entre as dez unidades federativas do Nordeste.


Postado por: Blog do Mendes e Mendes

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