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domingo, 11 de novembro de 2012

Histórias de cangaceiros que o povo conta

Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira

Sou cabo da Policia Militar do Paraná. Meu nome é Francisco Carlos Jorge de Oliveira, e como já contei a vocês sobre um velhinho pernambucano da cabeceira do rio Pajeú, que mora aqui em minha cidade o Sr. Tenório, volto a mencionar mais uma de suas histórias, desta vez sobre o nobre cangaceiro Mariano.


Numa tarde, todo o bando de Lampião exausto, faminto e ferido, encontrava-se acantonados escusos entre as fendas das grandes rochas às margens do rio São Francisco, a algumas léguas abaixo da cidade de Piranhas. Isto foi após um violento confronto com a volante de Odilon Flor, naquela região hostil e cheia de surpresas, houve baixas de ambos os lados, e o número de feridos era uma soma considerável.

O sol purpura como um bolo de sangue, pendia oblíquo no horizonte vermelho, enquanto um cara-cará atento os observava imponente no galho de um angico. O tempo quente e abafado, junto ao mormaço que subia das águas do velho Chico, que pairava sobre a colina de pedras, transformava o refúgio em uma verdadeira fornalha.

Medo ali não havia, mas sim, cisma, o silêncio era sepulcral, as garças revoavam, e o nhambu tristonho saudava o dia que já findou; o bacurau parecia lamentar a solidão, enquanto a rasga mortalha cruzava aquele céu. A retinta noite escura cobria o nordeste com seu véu. O sangue que fluía das feridas se mesclava com o suor, banhando o rosto e o corpo esgotado dos cangaceiros. A água quase escassa que saía das purungas deslizava como néctar goela abaixo, alguns gemiam em surdina, outros ignorando a dor adormeciam e os mais valentes permaneciam pervígil, embora cansados, mas vigilantes.

O cangaceiro Mariano estava ferido por um projétil deformado que ao ricochetear em um lajedo, o atingiu abaixo da panturrilha esquerda, a lesão embora superficial sangrava muito, pois havia rasgado o tecido uns cinco centímetros, e era semelhante a um talho de faca.

Da esquerda para  direita: Mariano. Pai Veio e Pavão

Mariano estava próximo ao cangaceiro Pai Veio e pediu a ele um pouco de água, mas, este respondeu que não tinha, pois sua cabaça havia sido furada por um tiro. 

O cangaceiro Volta Seca

Pediu também ao jovem Volta Seca, mas este vencido pelo cansaço estava ferrado no sono. A sede era insuportável e Mariano resolveu descer até ás barrancas do grande rio para apanhar um pouco d'água. E assim o fez, mancando e com cautela, lá chegando viu que o terreno era totalmente descampado. Então acabou de aproximar rastejando, e pegando sua cabaça a submergiu nas águas frescas do rio, enchendo o recipiente até transbordar.

Após saciar a incrível sede, sentou-se debaixo de um pé de ingá e quando banhava a ferida com água fria para amenizar a dor, súbito encosta uma canoa e desembarca uma mulher baixa, toda vestida de branco, que seguiu em sua direção. O cangaceiro até tentou se mover, mas seu corpo não o atendeu, e assim neste estado de transe permaneceu Mariano.

 A tal senhora tirou de dentro de sua patrona de couro alguns objetos e começou a tratar do seu ferimento,  e ao mesmo tempo o aconselhava para que largasse aquela vida criminosa, por que ele era um homem bom e ali não era seu lugar. Acabando então de ouvir os conselhos daquela visão ele adormeceu.

No outro dia quando se despertou Pai Veio lhe perguntou:

- Cumé cabra, cadê seu machucado?

Mariano olhou para o local do ferimento e surpreso só viu a cicatriz. E mesmo assim não respondeu nada. Caminhando um pouco mais à frente, viu entre os chique-chiques, uma modesta cruz de madeira bem rústica gravada um letreiro. 

Lampião e Jurity

Ele pediu a seu amigo, o cangaceiro jurity, que lesse para ele o que estava escrito naquela cruz. E o facínora disse-lhe:

- Neste lugar morreu afogada a parteira Juventina de Santana.

Naquele momento Mariano compreendeu tudo o que havia se passado com ele. E assim ele foi até perto da tal cruz e rezou pela alma de sua benfeitora. 

Depois se juntou com o resto do bando para tomar café e ouvir os planos do Capitão Virgulino. 

Pois é caro leitor, esta é mais uma historia que cabe a você analisá-la.

História contada na página de comentários pelo autor Francisco Carlos Jorge de Oliveira  em:
A morte de Mariano, postado neste blog  - no dia 1º de Fevereiro de 2011

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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