Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
Sou cabo da
Policia Militar do Paraná. Meu nome é Francisco Carlos Jorge de Oliveira, e
como já contei a vocês sobre um velhinho pernambucano da cabeceira do rio Pajeú,
que mora aqui em minha cidade o Sr. Tenório, volto a mencionar mais uma de suas
histórias, desta vez sobre o nobre cangaceiro Mariano.
Numa tarde, todo
o bando de Lampião exausto, faminto e ferido, encontrava-se acantonados escusos
entre as fendas das grandes rochas às margens do rio São Francisco, a algumas
léguas abaixo da cidade de Piranhas. Isto foi após um violento confronto com a
volante de Odilon Flor, naquela região hostil e cheia de surpresas, houve
baixas de ambos os lados, e o número de feridos era uma soma considerável.
O sol purpura
como um bolo de sangue, pendia oblíquo no horizonte vermelho, enquanto um
cara-cará atento os observava imponente no galho de um angico. O tempo quente e
abafado, junto ao mormaço que subia das águas do velho Chico, que pairava sobre
a colina de pedras, transformava o refúgio em uma verdadeira fornalha.
Medo ali não havia,
mas sim, cisma, o silêncio era sepulcral, as garças revoavam, e o nhambu tristonho
saudava o dia que já findou; o bacurau parecia lamentar a solidão, enquanto a
rasga mortalha cruzava aquele céu. A retinta noite escura cobria o nordeste com
seu véu. O sangue que fluía das feridas se mesclava com o suor, banhando o
rosto e o corpo esgotado dos cangaceiros. A água quase escassa que saía das purungas
deslizava como néctar goela abaixo, alguns gemiam em surdina, outros ignorando
a dor adormeciam e os mais valentes permaneciam pervígil, embora cansados, mas
vigilantes.
O cangaceiro Mariano
estava ferido por um projétil deformado que ao ricochetear em um lajedo, o
atingiu abaixo da panturrilha esquerda, a lesão embora superficial sangrava
muito, pois havia rasgado o tecido uns cinco centímetros, e era semelhante a um
talho de faca.
Da esquerda para direita: Mariano. Pai Veio e Pavão
Mariano estava
próximo ao cangaceiro Pai Veio e pediu a ele um pouco de água, mas, este
respondeu que não tinha, pois sua cabaça havia sido furada por um tiro.
O cangaceiro Volta Seca
Pediu
também ao jovem Volta Seca, mas este vencido pelo cansaço estava ferrado no
sono. A sede era insuportável e Mariano resolveu descer até ás barrancas do
grande rio para apanhar um pouco d'água. E assim o fez, mancando e com cautela,
lá chegando viu que o terreno era totalmente descampado. Então acabou de
aproximar rastejando, e pegando sua cabaça a submergiu nas águas frescas do rio,
enchendo o recipiente até transbordar.
Após saciar a
incrível sede, sentou-se debaixo de um pé de ingá e quando banhava a ferida com
água fria para amenizar a dor, súbito encosta uma canoa e desembarca uma mulher
baixa, toda vestida de branco, que seguiu em sua direção. O cangaceiro até
tentou se mover, mas seu corpo não o atendeu, e assim neste estado de transe
permaneceu Mariano.
A tal senhora tirou de dentro de sua patrona
de couro alguns objetos e começou a tratar do seu ferimento, e ao mesmo tempo o aconselhava para que
largasse aquela vida criminosa, por que ele era um homem bom e ali não era seu
lugar. Acabando então de ouvir os conselhos daquela visão ele adormeceu.
No outro dia
quando se despertou Pai Veio lhe perguntou:
- Cumé cabra,
cadê seu machucado?
Mariano olhou
para o local do ferimento e surpreso só viu a cicatriz. E mesmo assim não
respondeu nada. Caminhando um pouco mais à frente, viu entre os chique-chiques,
uma modesta cruz de madeira bem rústica gravada um letreiro.
Lampião e Jurity
Ele pediu a seu
amigo, o cangaceiro jurity, que lesse para ele o que estava escrito naquela
cruz. E o facínora disse-lhe:
- Neste lugar
morreu afogada a parteira Juventina de Santana.
Naquele
momento Mariano compreendeu tudo o que havia se passado com ele. E assim ele
foi até perto da tal cruz e rezou pela alma de sua benfeitora.
Depois se juntou com o resto do bando para tomar café e ouvir os planos do Capitão Virgulino.
Pois é caro leitor, esta é mais uma historia que cabe a você analisá-la.
Depois se juntou com o resto do bando para tomar café e ouvir os planos do Capitão Virgulino.
Pois é caro leitor, esta é mais uma historia que cabe a você analisá-la.
História
contada na página de comentários pelo autor Francisco Carlos Jorge de Oliveira em:
A
morte de Mariano, postado neste blog - no dia 1º de Fevereiro de 2011
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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