O cangaceiro Zé Baiano
Ao saber da
morte do seu mais respeitado cangaceiro, Zé Baiano, morto em emboscada
ardilosamente planejada pelo coiteiro
Antônio de Chiquinho, na Lagoa Nova em
Alagadiço. Tendo o corpo do cangaceiro sido jogado em um formigueiro, o seu
líder,
Lampião e Maria Bonita
Virgulino Ferreira da Silva, reuniu seu bando e partiu com destino a
Frei Paulo para por em prática um sórdido plano de vingança. Ele planejara uma
sangrenta invasão de nossa cidade. Isso ocorreu nos anos 30, durante a famosa
seca que assolou o sertão sergipano. Além das aflições causadas pela longa
estiagem, a população vivia apreensiva com a eminência desse ataque. O
interventor federal Eronildes Ferreira de Carvalho, proprietários da Fazenda
Jaramatáia, determinou a criação de uma “Força Volante” que permaneceu acampada
por meses na antiga praça do mercado, atualmente Praça Capitão João Tavares. O
grupo dormia em dezenas de redes armadas e os mantimentos eram cozinhados em
panelões.
O povo de Frei Paulo ainda hoje acredita que foi a espada do padroeiro São
Paulo que impediu a entrada do bando de Lampião. Segundo uma lenda contada em
prosa e versos pelos mais antigos, toda vez que o cangaceiro tentava entrar em
Frei Paulo, era acometido de uma terrível dor nos olhos e nos ouvidos e uma
caganeira que o deixava muito debilitado. O Padre Madeira mandou virar para
cima a espada da imagem de São Paulo, que era voltada para baixo. Foram tempos
difíceis e o medo imperava.
Meu pai relata que viu Lampião e seu bando na feira de Ribeirópolis no anos de
1927, como ele era uma criança, passou por baixo das pernas dos adultos que se
aglomeravam para ver de perto o rei do cangaço, imponente, com suas
indumentárias, olhar de mau, taciturno e sério. Armado de punhais, parabelo nos
quartos, ostensivas cartucheiras em forma de xis e em uma das mãos um rifle
papo amarelo. Era a lenda viva dos sertões bem ali na sua frente, cercado de
outros cangaceiros e sua mulher Maria Bonita.
Mas em Frei Paulo ele jamais pisou os pés, graça a bravura de seus habitantes
que voluntariamente se juntavam à "Força Volante" para enfrentar os
cangaceiros. Logo os rumores de atrocidades praticadas pelo bandoleiro
começaram a chegar. Ele já teria invadido fazendas em Carira, Cipó de Leite e
Mocambo, sua chegada a Frei Paulo seria uma questão de tempo. Lampião mandou um
bilhete para o intendente Maurício Ettinger com o seguinte teor: “Quando menos
isperá nois invade sua cidade; num vai iscapá nem menino de 9 mês, a cabeça do
delegado Germino vai rolar”
Germino Góes era o pai de Antônio de Germino, dono do Alambique da Imbira, que
fabricava a Ibiracema, a melhor cachaça da região. Ele teve que fugir para o
sul da Bahia para não ser morto, pois sua fazenda fora diversas vezes saqueada
pelos bandos de Lampião e Zé Baiano. Fez isso porque se recusava a ser coiteiro
de Lampião. O seu neto, Germino Neto é casado com minha irmã Selma. A morte de
Zé Baiano, planejada por Antônio de Chiquinho não trouxe paz, pelo contrario,
deu início a uma guerra que por pouco não se consumou.
Lampião e seu bando ainda ficaram alguns dias acampados às portas de Frei
Paulo, o local onde ele se preparava para a invasão era ali, onde fica hoje o
Curral do Açougue, no pé da ladeira que dá acesso à cidade. Felizmente o
bandido bateu em retirada, ao saber que teria uma resistência à altura. Rumou
para a Bahia e tempos depois foi morto numa troca de tiros com a volante na
gruta de Angicos, próximo de Propriá.
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