Créditos: Rostand Medeiros
TEXTO
– FRANCISCO MIRANDA – BLOG DO FRANCISCO MIRANDA
-http://chicomiranda.wordpress.com/2011/07/25/recife-e-a-segunda-guerra-mundial/
FOTOS
– www.ebay.com e www.nara.gov
Hangar
de manutenção em Recife. Salvo engano o monomotor da foto é um Grumman F6F
Hellcat, caça típico dos porta-aviões americanos que patrulhavam o Atlântico
Sul na caça de submarinos do eixo.
Em 1939 Recife
sediava o III Congresso Eucarístico Nacional, que seria inaugurado no local o
Parque 13 de maio. Neste local foram levantadas apressadamente arquibancadas e
todo local foi preparado para o evento. Peregrinos de todo o país e do mundo
chegavam para um dos maiores eventos religiosos da Igreja Católica do mundo.
Os rumores de
guerra já batiam às portas da cidade e isso ficou mais evidente quando a
embarcação britânica Amanzora, que trouxe à cidade os participantes do
congresso, foi chamada as pressas para retornar à Inglaterra. E de fato,
durante a própria abertura do congresso os alto-falantes comunicavam aos
pernambucanos e a todos os peregrinos, a invasão da Polônia pela
Alemanha. Recife ainda não sabia, mas ela seria uma das cidades mais
impactadas com o alvorecer dessa nova ordem mundial.
l.
Recife,
a Veneza Brasileira.
Ainda em 1941,
os EUA iniciou a política de envio de observadores navais para vários portos
brasileiros. O primeiro a chegar foi o capitão aposentado da US Navy W.A.
Hodgman. Ele chegou ao Recife em 26 de fevereiro, sob as ordens do Escritório
de Inteligência Naval. O observador foi instalado inicialmente em um escritório
no consulado americano e posteriormente no terceiro andar do prédio do Banco de
Londres, na Rua do Bom Jesus, próximo ao Porto do Recife, com isso ele poderia
acompanhar as atividades portuárias.
Quadrimotor
de patrulha naval e caça de submarinos Consolidated PB4Y-1 Liberator, variante
naval do famoso bombardeiro B-24. Foto realizada em Ibura Field, outubro de
1943.
Recife era a
terceira cidade do Brasil, com uma população estimada à época de 400 mil
pessoas. O porto, apesar do quebra-mar, era pequeno e estreito e
necessitava de atracadores e rebocadores para atracar e desatracar. Armazéns
estavam disponíveis com todo o tipo de loja. Instalações de abastecimento eram
excelentes.
Hidroavião
Catalina em Ibura Field
Com a
declaração de guerra contra as potências do Eixo, e a cessão de bases no
litoral brasileiro combinada com as operações de defesa do atlântico sul,
Recife passa a ser uma cidade estratégica para as pretensões americanas, e com
o apoio do então interventor do Estado Agamenon Magalhães, Recife terá a Sede
da Quarta Frota Naval e será a base das operações marítimas com raio de atuação
do Canal do Panamá até o extremo sul das Américas, além de um campo de pouso
construído pelos americanos e chamado de Ibura Field, que atualmente é o
Aeroporto Internacional dos Guararapes.
Torre de
controle de Ibura Field
O governo do
Estado fez enormes esforços para disponibilizar toda a infraestrutura para a
acomodação da Quarta Frota. Foi disponibilizado um prédio inteiro para o
Quartel-General além de outros prédios auxiliares no centro do Recife e alguns
quilômetros de distância do Porto.
Militares
americanos baseados em Recife.
Além disso, em
conjunto com os Estado Unidos, foram construídos Hospitais de Campanha para
serem utilizados como apoio de feridos no front africano, centros de
treinamento de tropas, estruturação de defesas antiaéreas em toda a costa,
alocação de unidades militares para atender a possível defesa em caso de
invasão, também foi criado um centro de comunicação Aliada que tinha como
principal objetivo estabelecer uma comunicação direta com a África, chamada
Rádio Pina, que foi mantida em atividade pela Marinha Brasileira até 1992.
Marujo junto a
um bombardeiro bimotor B-26.
Contudo as
mudanças não foram meramente militares, houve um impacto profundo na sociedade
pernambucana e, em especial em Recife. Primeiramente o impacto foi econômico,
já que no auge de suas atividades a Quarta Frota mantinha cerca de 4000 homens
no Estado, todos recebendo integralmente seus soldos e gastando, principalmente
com os atrativos da vida nos trópicos. Passou a circular no mercado local
dólares americanos, e isso impulsionou consideravelmente a comércio local e as
atividades de apoio.
Descontração
nas praias pernambucanas. Percebam as rodas do jipe com correntes, para passar
nos atoleiros próximo as praias.
Outros
aspectos interferiram na vida do recifense, que teve que passar por um
racionamento de combustível e apresentou inflação de bens e serviços locais.
Arquitetura
tradicional do centro de Recife chamando a atenção dos americanos
Segue abaixo
alguns exemplos:
Atualmente o
edifício que serviu de base para a Quarta Frota ainda está em funcionamento e é
utilizado por alguns órgãos do governo do Estado, mas observa-se até os dias de
hoje um grupo organizado de engraxates nas calçadas da av. Guararapes, e a
origem do ofício nesse local remota na implantação do Quartel General da Quarta
Frota, já que havia uma concentração de militares transitando nessa região com
seus sapatos e coturnos, ou seja, uma demanda em potencial. Vários engraxates
tinham ali sua fonte de renda. Passados décadas o local ainda é o melhor lugar
da cidade para se lustrar os sapatos.
O Restaurante
Leite é considerado o mais antigo do Recife e um dos mais requintados também.
Já na década de 40 recebeu vários marinheiros e militares que, com seu soldo
faziam a alegria dos garçons, já que as gorjetas eram em dólares.
O governo de
Agamenon Magalhães cedeu outro edifício para a implantação do Grêmio
Recreativo, onde aconteciam bailes dançantes, contudo esses bailes eram
privados para os americanos e mulheres pernambucanas tinha acesso livre. Como
não poderia, isso causava revolta entre os homens pernambucanos. Não foram os
poucos os casos de brigas entre militares e os naturais da cidade.
Durante a
guerra, o Porto do Recife foi um dos mais movimentados do país, e não por
acaso, o bairro do Recife (uma ilha portuária), tinha uma vida noturna
agitada, oferecendo aos marinheiros todos os atrativos festivos das mulheres da
noite. Com o fim da guerra a região entrou em declínio e passou por um período
de abandono, sendo considerado por muitas décadas o baixo meretrício, o local
era evitado pela maioria das pessoas. Há alguns anos, houve um esforço para
recuperação do bairro do Recife e, atualmente, o bairro abriga um polo tecnológico
e é uma das principais atrações turísticas do Estado.
Com o receio
de bombardeios a cidade, foi instituída pelo governo um apagão em toda a região
metropolitana do Recife; viaturas do exército realizavam rondas noturnas pela
cidade para identificar moradores que desrespeitavam o apagão. Várias baterias
antiaéreas foram estrategicamente posicionadas por toda a cidade na eminência
de um ataque aéreo.
Helena
Roosevelt, no período em que o presidente americano visitou Natal, participou
em Recife da inauguração do Cassino Americano que permaneceu em funcionamento
até a década de 90 do século passado.
O Encouraçado
São Paulo ficou permanentemente estacionado no litoral pernambucano a fim de
realizar a proteção marítima do Estado.
O 200º
Hospital Estação foi construído e depois transformado no Hospital da
Aeronáutica
O Ibura Field
recebeu vários bombardeios B-52, B-29 e outras aeronaves de passagem para a
Europa e a Itália, suas pistas ocupavam uma área maior do que atualmente ocupa
o Aeroporto Internacional dos Guararapes, uma dessas pistas é atualmente a Rua
Barão de Souza Leão, uma das principais vias de acesso entre Boa Viagem e o
atual aeroporto.
Oficial
americano junto a um Catalina
O estilo de
vida americano foi se enraizando na vida do povo do Recife, que passou a adotar
o “OK” e a usar camisetas de manga curta no lugar dos ternos que eram tão
tradicionais até os anos 30.
Troféu de
guerra.
Observando
tudo isso, o que mais impressiona é que apesar das evidências o povo de
Pernambuco sabe muito pouco sobre esse choque de cultura causado por uma guerra
que, aparentemente, parecia tão distante, e que proporcionou um intercâmbio que
deixou marcas visíveis até hoje.
Extraído do blog "Tok de História" do escritor. historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/
Olha eu ai, visitando, divulgando e lendo os textos do blog do Mendes e Mendes. Como sempre trazendo postagens de excelente qualidade!
ResponderExcluirAbraços,
Adinalzir Pereira
http://saibahistoria.blogspot.com/