Por: Francisco de Paula Melo Aguiar(*)
Até a vossa
velhice, eu serei o mesmo e, ainda quando ti verdes cabelos brancos, eu vos
carregarei; já o tenho feito; levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vos
salvarei.
Isaias, 46:4
Meu filho no dia em que este velho, teu pai, não for mais o mesmo, tenha
paciência e ética, me compreenda, porque você será eu no amanhã. De modo que
fique atento, pois, quando derramar comida sobre minha camisa e esquecer como
amarrar meus próprios sapatos, volto a lembrar-lhe, tenha paciência comigo e
procure lembrar-se das horas que passei ensinando-o justamente a fazer as
mesmas coisas quando você era criança. Fique sempre me observando, pois, se
quando conversar comigo, eu repetir mais de uma vez as mesmas coisas e ou
casos, que você já sabe de sobra como terminam, não me interrompa, me escute e
deixe eu terminar de falar. Assim sendo, quando você era pequeno, para que
dormisse, eu tive que lhe contar milhares de vezes a mesma estória até que você
fechasse completamente os olhinhos, aí eu o levava para sua cama para dormir e
sonhar com os anjos. De modo que quando estivermos reunidos e sem querer,
subitamente, eu fizer minhas necessidades básicas de todo ser humano em
declínio, não fique com vergonha de mim. Procure sempre compreender que não
tenho culpa disso, pois, já não as posso controlar como antes fazia na
juventude e maturidade saudável. Olhe meu filho, pense quantas vezes,
pacientemente, troquei suas roupas para que você estivesse sempre limpinho e
cheiroso. Pare meu filho e medite nunca me reprove se eu não quiser tomar
banho. Procure sempre ser paciente comigo, porque tudo me levar a crer que eu
já não sou mais eu, procure entender isso.
Antes de mais nada, lembre-se dos momentos em que o persegui e os mil e um
pretextos que inventava para convencê-lo sempre a tomar banho diário. Jamais
meu filho, esqueça de que quando você me vir inútil e ignorante na frente das
chamadas novas tecnologias do mundo Net que já não poderei entender, eu lhe
suplico por tudo que for mais sagrado e ou importante para você, que me dê todo
o tempo que for necessário, e que jamais me machuque com um sorriso de zombaria
e ou sarcástico.
Filho meu, lembre-se de que fui eu quem lhe ensinou tantas coisas neste mundo,
como por exemplo: comer, beber, vestir-se e também como enfrentar a vida na
sociedade tão bem como você hoje faz. Queira ou não você, isso é o resultado do
meu esforço pessoal e da minha perseverança. Sempre acreditei em você. De modo
que se em algum momento, quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos
falando, tenha sempre paciência comigo e me ajude a lembrar da temática. Contra
fato não se tem argumento, pois, talvez a única coisa importante para mim
naquele momento seja o fato de ver você perto de mim, dando-se atenção, amparo
e prestigio, e não o que falávamos. Entenda se alguma vez eu não quiser comer,
saiba insistir com carinho filial, por analogia, assim como fiz com você quando
era criança. É evidente de que também compreenda que com o passar do tempo não
terei mais dentes fortes, nem agilidade para engolir os alimentos. Alerto-lhe
também que quando minhas pernas falharem por estarem tão cansas, e eu já não
conseguir mais me equilibrar [...] com ternura, dê-me sua mão para eu Me apoiar, como eu o fiz incondicionalmente quando você começou a caminhar com
suas perninhas tão frágeis.
Enfim, se algum dia me ouvir dizer que não quero mais viver neste mundo, não se
aborreça comigo, pois, algum dia entenderá que isto não tem a ver com seu
carinho e ou com o quanto o amo do fundo do meu coração. Compreenda sempre que
é muito difícil ver a vida passando e abandonando aos poucos o meu corpo [...]
e que é duro admitir que já não mais o vigor dos meus verdes anos, a exemplo do
romance da estória do romance de José Lins do Rego, para correr ao seu lado, ou
para tomá-lo em meus braços, como antes fazia quando você era criança e na sua
adolescência. É verdade que sempre quis o melhor de minhas posses para você e
sempre me esforcei para que seu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais
seguro, mais florido, embora que a estão do ano fosse o verão de sol
causticante. É certo, meu filho de que até quando me for, construirei para você
outra rota em outro tempo, mas estarei sempre com você, zelando por você todos
os dias de sua vida.
Olhe! Fruto do meu amor, jamais se sinta triste e ou impotente diante do mundo
por me ver ficar assim. Veja bem, não me olhe com cara de pena e ou de dó.
Preciso muito que me dê o seu coração, compreenda-me e me apóie como sempre o
fiz quando você foi gerado, nasceu e começou a viver em todos os sentidos da
vida familiar e social. Somente agindo assim, me dará as forças que necessito e
muita coragem para enfrentar a nova realidade, diante do novo caminho que terei
que caminhar rumo à eternidade. Assim, da mesma maneira que te acompanhei no
início da sua jornada terrena, peço-lhe que me acompanhe para terminar a minha
sem atropelos de quaisquer espécies. Volto a pedir-lhe, trate-me com amor e
paciência, tudo tem começou e tudo terá fim, e eu lhe devolverei sorrisos e
gratidão eterna, com o imenso amor de pai que sempre tive por você.
Atenciosamente
agradece o seu velho pai...
· Cadeira 7 da Academia Paraibana de Poesia
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Mendes amigo: Boa-noite
ResponderExcluirA PARÁBOLA DE PAI PARA FILHO, de autoria de Francisco de Paula Melo Aguiar, leva-nos para uma reflexão da vida, especialmente nestes nossos dias pós-modernidade em que estamos vivendo, quando grande parte dos filhos pouco se preocupam com os velhos pais. É uma característica desta nova era. A Sociedade de hoje não é a mesma de meio século atrás quando as familias eram mais unidas; filhos e pais se entendiam mais. Mas, fazer o que?
Antonio José de Oliveira - Serrinha-Ba.