Por: Kiko Monteiro
Francisca
Maria de Jesus - Foto: Kiko Monteiro
Prosseguindo
com nossas andanças pelas terras de Adustina, BA conhecemos dona Francisca
Maria de Jesus,75 anos. Ela nos contou que certo dia o pai
dela, Eusébio José Rodrigues acompanhado do irmão Inácio e de um cunhado
iam participar de um "batalhão" (nome dado aos mutirões de
plantio). Rumaram os três em seus cavalos, quando passando pelo lugar
chamado Alegres, foram surpreendidos por cangaceiros.
A abordagem foi pacífica. Um deles, provavelmente o chefe, perguntou se
poderiam ceder as montarias para o grupo, pois tinham animais, mas sem arreios.
Seu Eusébio que não era doido de negar, disponibilizou os
apetrechos dele e ordenou que os outros fizessem o mesmo. O
cangaceiro perguntou se Eusébio poderia lhe servir de guia até
um povoado que eles não sabiam como chegar, aceitou, mas pediu que
liberassem os outros dois. Trato feito.
Montou na garupa do cangaceiro e a primeira parada foi a casa de Martins
de Leandro. Chamaram, mas não havia ninguém na propriedade. Ai a calma dos
"meninos" terminou. Ordenaram a Eusébio que ele derrubasse a
porta à golpes de machado. E mesmo sabendo que ali era propriedade de
gente amiga teve que atender, percebeu que a benevolência dos cabras tinha
prazo de validade.
Porta abaixo em poucos minutos, os cabras invadiram e fizeram uma pilhagem na casa de Seu Martins.
Porta abaixo em poucos minutos, os cabras invadiram e fizeram uma pilhagem na casa de Seu Martins.
A caravana
seguiu em frente. Parada para almoço, o cangaceiro que parecia ser o chefe
manda um dos cabras providenciar o fogo e saiu mata à dentro. Ao voltar
encontra Eusébio afastado do grupo encostado numa árvore com semblante triste e
o pergunta se estava com medo, mas Eusébio responde que estava era com muita
fome, porque os cabras se fartaram e não lhe ofereceram nem um pedaço de
carne. O suposto chefe ordena que encham um coité (cabaça) com comida e
reclama porque não tinham repartido o almoço com o guia. Um cabra diz:
- Ora! Ele não
se serviu porque não quis.
Seu Eusébio
finalmente satisfeito e o cangaceiro pergunta se ele tinha algum vicio.
Respondeu ele que fumava e prontamente ganhou um cigarro. No
entanto, após o primeiro trago deu uma baforada bem no rosto do cangaceiro
causando espanto dos demais cabras pela ousadia...
Mas a única
advertência que recebeu era de que ele voltasse pra árvore onde
estava, permanecendo afastado dos grupo, porque iam dar mais um tempo pro
descanso, e que tinham feito fumaça e se os macacos lhes botassem emboscada que
ele não corresse de pé, mas rastejasse, senão morreria confundido com um
deles.
Seguiram até o
Baixão de Carrolina que é um povoado mais próximo à sede do município.
Foram até uma casa, onde ganharam laranjas.
Disseram a Eusébio que
ficariam por ali e antes de dispensa-lo ordenaram-no
que recolhesse os animais... Mas que antes retirasse os alforjes dos
cavalos e os colocasse nos animais do grupo já que alguns estavam montados à
pelo. Eusébio mais uma vez atendeu a contragosto, e agora então, ao
perceber que saia no prejuízo, perdendo os arreios novinhos?
Esse "passeio" durou praticamente o dia inteiro. No final da tarde,
diante da sua demora os amigos e parentes de Eusébio que o aguardavam nas matas
para o "batalhão" já choravam sua morte. Segundo o senhor Gervásio,
meu vizinho que conheceu Eusébio e me confirmou esta mesma narrativa de sua
filha complementando-a com o episódio do almoço, lembra
de outro detalhe, precisamente uma crença: - Os moradores só tinham
um pensamento "Recompensa pra quem ajuda cangaceiro é surra ou a
morte"... Por isso aflição contagiava até os que confiavam.
Mas com poucas horas seu Eusébio retornava são e salvo para a alegria de todos.
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