Por Rangel Alves
da Costa*
A loucura,
insanidade ou desequilíbrio mental, ou qualquer denominação que se dê ao
distúrbio psiquiátrico, é lastimosa situação que aflige o ser humano. Contudo,
sem chegar ao estágio de perda total do juízo, verdade é que a loucura possui
suas conveniências ao ser humano. Às vezes é a própria realidade que transforma
o sujeito, o coloca em situações tão adversas que o tresloucamento se
transforma em normalidade.
Ademais, nunca
é demasiado lembrar que todo mundo carrega em si uma boa dose de loucura. Ou,
como afirmam, seria temerosa loucura não avistar sinais de insanidade em cada
ser humano sadio. As ações, tão corretas e bem pensadas para alguns, para
outros não passam de atitudes impensadas, gestos desatinados, verdadeiras
loucuras. Daí ser difícil dizer qual ação está plenamente revestida da razão.
Essa feição de
loucura serve a diversos propósitos. Toda ação infundada, impensada ou
desavergonhada possui a insanidade como desculpa. E um chega e diz que só mesmo
estando louco para ter feito o que fez; o outro afirma que só mesmo um doido
para fazer uma besteira igual aquela. Antes mesmo da ação, nos conselhos,
diálogos abertos ou alertas, não é difícil se ouvir que não aja como louco, não
incorra numa maluquice dessas, que seria a maior doidice do mundo tomar tal
atitude.
Reconhece-se
também que a loucura acaba fazendo bem a muitas pessoas. Daí que agem como
loucas todas as vezes que precisam resolver problemas difíceis, fazer
mirabolantes escolhas ou mesmo levar adiante algo impossível de ser realizado
na normalidade das situações. Parecem desconhecer-se a si mesmas, perder a
noção de cuidado ou precaução, e de repente já estão agindo contra todas as
expectativas. E nada seria possível sem uma dose de loucura para, através de
linhas tortas, encontrarem a melhor saída.
Verdade é que
a loucura outra ou doidice própria de cada um está mais cotidianamente presente
do que qualquer ser possa imaginar. Ademais, em determinadas situações fica até
difícil saber o que é um ato impensado, desajuizado, ou mesmo uma ação
corriqueira, da normalidade humana. Eis que os absurdos são cometidos de modo
tão contumazes, rotineiros, que ninguém sabe mais dar juízo de valor ou de
realidade a determinadas ações.
Ora, não há
como não se vislumbrar loucura naquelas pessoas normais e seus atos
inexplicáveis. Mas os argumentos para se aceitar, ou não, determinadas atitudes
como gestos de insanidade são também contraditórios. Há os que defendem a
liberdade de consciência e de ação como algo que não pode ser contestado por
nenhuma outra pessoa. Contudo, muitos são aqueles que tendo por base o bom
senso e a racionalidade, logo contradizem os gestos desarvorados de qualquer
um.
Verdade é que
muitos acham dentro da normalidade que o outro, tido e havido como de juízo
perfeito, de repente amarre uma lata no rabo do gato, crie uma cobra venenosa
debaixo da cama, permita que o seu filho adolescente saia por aí dando cavalo
de pau com seu carro. Ou ainda que por desgosto ou ciúme atire contra o próprio
pé. E no gesto ainda mais desesperador, suba no oitavo andar e ameace se jogar
de lá se a ex-namorada não aparecer por ali para vê-lo naquela situação.
Seja como for,
sempre será difícil definir a loucura nas pessoas tidas como normais. Mais
complicado ainda porque se um doente mental atira pedra em alguém, revira a
lixeira do jardim ou risca um muro recentemente pintado, sempre terá seu estado
mental como objeto de condenação social. Mas se outra pessoa qualquer faz o
mesmo, dificilmente será vista como louca. No máximo como desordeira.
Do mesmo modo
arrancar uma flor de um jardim alheio. O louco de verdade faz isso na maior
normalidade do mundo. Mas o apaixonado também. E paixão não acaba
enlouquecendo? Então tudo se justifica.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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