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sábado, 6 de junho de 2015

O CANGACEIRO MORENO COMETEU UM CRIME BÁRBARO NAS PROXIMIDADES DA FAZENDA VARJOTA NO MUNICÍPIO DE FLORESTA.

Por Cristiano Ferraz

Floresta, 29 de maio de 2015

No mês de abril de 1938 o Cangaceiro Moreno cometeu um crime bárbaro nas proximidades da fazenda Varjota no município de Floresta. Por conhecer a região desde criança decidi após conhecer o historiador João de Sousa Lima no dia 31/03/2015, apresentado por meu amigo e colega de profissão Marcos Antônio de Sá – o Marcos de Carmelita, encontrar o local onde ocorreu o horrendo crime. É que João escrevera um livro sobre a história do cangaceiro Moreno e sua Esposa Durvalina (Moreno e Durvinha Sangue, amor e fuga no cangaço página 141). Procuramos pessoas em Floresta que conhecessem a história e o local onde as mortes aconteceram. 

No início do mês de maio descobrimos um amigo (Darci de Sá Leal, popularmente conhecido como “Facão”) que mora na fazenda Emboacica, há menos de quatro quilômetros do local onde o crime ocorreu e que se prontificou a nos levar até o local onde o fato ocorreu. O local fica em terras da fazenda Pai Mané (pertencente ao agropecuarista florestano Ancilon Gomes Filho - Cilonzinho). A fazenda fica à margem da PE 360 a dois quilômetros do povoado Varjota que na época era apenas uma fazenda e pertencia a vários proprietários entre os quais o casal Pedro e Naninha Ferraz. No dia 28/05/2015 entrevistei Maria Beatriz de Sá, (conhecida como Beata) uma senhora que ouviu a narrativa do ocorrido pois morava na região e tinha 13 anos de idade na época (nasceu no dia 17/02/1925).


A passagem de Moreno pela região é narrada por dois escritores florestanos (João de Gomes de Lira no livro Lampião memórias de um soldado de volante e Marilourdes Ferraz no seu renomado livro O canto do acauã). João de Sousa Lima toma emprestado de Marilourdes Ferraz a parte em que esta narra o crime que ora passamos a contar.

João Gomes de Lira narra que em abril de 1938, o Sargento Euclides de Souza Ferraz (Euclides Flor) estava em Espírito Santo (atual cidade de Inajá) quando recebeu a notícia que um grupo de cangaceiros chefiado por Moreno se encontrava numa farinhada na serra das Traíras (Serra Grande em Tacaratu) ou Tiririca. Euclides seguiu à procura do bando com um pequeno grupo entre os quais estava os soldado Norberto Gomes de Oliveira (trabalhou com Euclides na Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco), José Rodrigues (seu Dé), Cirilo de Souza Araújo, José Gomes de Lima (Zuza filho de Melania de Cassimiro Honório), José Laurindo Neto, Isaias Inácio dos Santos e outros.


Ao chegar à Serra das Traíras Euclides Flor pegou a pista do grupo que viajava com nove homens, cinco mulheres e dois cachorros rumando para as caatingas do Riacho do Navio, atravessando as caatingas da Baixa da Alexandra. Moreno viajava tranquilo e deixava pistas visíveis. Eram dias de lua clara e a volante aproveitou para avançar à noite sem perder a pista dos cangaceiros. 

Certa hora da noite o tempo mudou e as nuvens trouxeram escuridão e chuva torrencial forçando a volante a pernoitar nas caatingas da fazenda Beldroega. O soldado Cirilo saiu com outros companheiros para conhecer os arredores do acampamento mesmo à noite quando escutaram vozes de pessoas que falavam baixo. As vozes eram dos cangaceiros que também estavam acampados. Cirilo e os companheiros voltaram para avisar ao sargento Euclides que mandou tirar os cavalos para outro local e dividiu a força em dois grupos colocados em pontos estratégicos. No centro ficaram Seu Dé, Cirilo e Zuza com outros. O sargento e o soldado Norberto seguiram avançando pela esquerda. Os cangaceiros cortavam paus para armar barracas e estavam com fogo aceso apenas com brasas. Devido ao escuro os soldados não avistavam os inimigos e Euclides recomendou que ninguém atirasse antes dele. Quando um dos bandidos aproximou-se das brasas Euclides atirou iniciando o tiroteio. Após os primeiros disparos o Soldado Dé gritou que estava ferido. O ferimento era no antebraço esquerdo. O policial pedia para que não o deixassem sangrar. O soldado Cirilo ficou ao seu lado para defender o colega. Depois de forte resistência os cangaceiros fugiram deixando vários objetos no local entre os quais duas cabaças de água com a quais a tropa matou a sede. Foram deixados também um rifle, um bornal com muita munição, uma banda de carne de bode (comida pelos soldados), vários canivetes, quatro facões e algumas cobertas.


A força pernoitou no local do combate e na manhã seguinte transportaram o ferido numa rede carregada por dois homens. Euclides mandou Cirilo de cavalo procurar socorro indicando-lhe a direção a seguir. O soldado andou por uma ou duas horas até encontrar alguns animais (gado bovino e caprino) e mais na frente encontrou uma estrada que ia da Beldroega para Tacaratu. Seguiu na estrada no rumo de Tacaratu até encontrar uma casa num alto e próximo a esta o caminho bem trilhado por gente que passara a pé. Achando que podiam ser cangaceiros ou Força ficou indeciso sem saber que decisão tomar. Acabou aproximando-se da casa e encontrou uma mulher a quem perguntou sobre os rastros descobrindo que era de romeiros que iam ao Juazeiro do Padre Cícero. Enquanto conversavam Cirilo avistou outra casa um pouco abaixo onde estavam soldados da mesma força volante que haviam ficado em Espírito santo. Eram cinco entre os quais Horácio dos Santos e Manoel Leite de Sá. O local onde Cirilo encontrou água e os companheiros chama-se riacho do cocho. Cirilo então juntou-se aos companheiros e voltou a procura do resto da tropa que vinha conduzindo o ferido. Após se encontrarem tomaram retornaram para Espírito santo onde chegaram à noite.

De Espírito santo o soldado Dé foi enviado para Águas Belas, sede das forças volantes onde recebeu os primeiros curativos. O soldado escapou, e foi aposentado como sargento por ter ficado com defeito físico no braço.


João Gomes de Lira continua, dizendo que ao chegar ao Navio (região do riacho do Navio) soube que o Tenente Olímpio Ferraz teria espantado Moreno nas proximidades de Rochedo (Hoje Airi, distrito de Floresta). Moreno seguiu então para a zona do rio Pajeú. 

Marilourdes Ferraz relata no seu célebre livro “O Canto do Acauã” que no dia 23 de abril de 1938, no interior residência do casal Naninha e Pedro Ferraz na fazenda uma discussão entre os dois filhos do casal se iniciara. A mãe dos rapazes tentou encerrar o desentendimento usando um sugestivo argumento, mas que surtiu efeito imediato. Aparentando inquietude, disse aos moços: “Meninos, acabem com essa discussão que os cangaceiros vêm aí!”. A alteração foi encerrada e substituída pela curiosidade: Luiz Ferraz, jovem e facilmente sugestionável, acreditou que a mãe tinha realmente divisado os cangaceiros e saiu às pressas para a vizinha propriedade de Pedro Cirilo, onde contou aos amigos Américo Cirilo e Manuel Caetano o que sua mãe proferira instantes atrás. Acreditara que ela tivesse presenciado cangaceiros...


Os rapazes, também, curiosos logo tiveram a ideia de localizar o ponto em que os bandoleiros estavam escondidos. Rumaram, sem perda de tempo justamente na direção dos cangaceiros, que efetivamente estavam nos arredores. A mulher quisera apenas terminar com o desentendimento de seus filhos e não sabia da presença do grupo na área onde residia. Seu estratagema revelar-se-ia dolorosamente exato!
Moreno percebeu a furtiva aproximação dos três jovens desconhecidos e fez seus homens espreitarem-nos às margens do caminho que trilhavam, capturando os surpresos “localizadores de cangaceiros”,os quais, em segundos, viram-se cercados por um bando que apresentava os semblantes sombrios. Moreno, demonstrou, então, que compartilhava com Virgulino Ferreira da mesma crueldade, ordenando que os rapazes fossem amarrados juntos com uma só corda e se dispondo a executá-los sem outras considerações. Esperou o anoitecer e se dispondo a executá-los sem outras considerações conduziu os prisioneiros para uma colina nas terras da fazenda Morro Preto, onde preparou dois fortes cacetes, com os quais esmigalhou o crânio dos dois rapazes, degolando-os a seguir. Assim morreram Américo, filho de Pedro Cirilo e Manuel, filho de Pedro Caetano.

O aterrorizado Luis via chegar a sua vez quando os bandidos foram contidos em seus ímpetos de barbárie pela mulher de Moreno, que intercedeu vigorosamente pela vida da jovem. Seu pedido foi levado em consideração depois de acerba discussão entre os componentes do bando, em virtude da frustração de alguns que se viram impedidos de completar o sangrento ritual. Luis, que era agricultor, recebeu a incumbência de conduzir pela correia um cachorro considerado sentinela e bom caçador de bodes para a alimentação do grupo (evitando assim o gasto de preciosas balas, garantia de seus desmandos). Passaram-se três dias, enquanto o moço, profundamente traumatizado, seguia mecanicamente os seus captores sem pronunciar uma única palavra. Na travessia do Rio Pajeú, os cangaceiros assustaram-se com um tropel de cavalos, e julgando que pertenciam a uma tropa militar, debandaram pela caatinga. Luis aproveitou a confusão e teve força e coragem suficientes para escapar. Os cangaceiros ainda atacaram a fazenda Barra da Forquilha, de Cantidiano Valgueiro, mas foram repelidos à bala. Dali rumaram para a fronteira do Ceará, já com a tropa de Euclides Flor em seu encalço. Nesse estado, Moreno não suportou a perseguição da força pernambucana, agora reforçada por uma tropa cearense, e regressou às pressas à Bahia, não mais voltando a Pernambuco.


Luis Ferraz retornou a Floresta, completamente transtornado com o trauma sofrido. Passou a sofrer desmaios frequentes. Como seu estado de saúde declinasse rapidamente, todos os recursos médicos foram tentados com sacrifícios pelos pais.

Depois de um ano, mesmo tendo se submetido a tratamento em Recife, expirou. Não pôde se resistir ao vivo quadro gravado em sua sensibilidade pela horrenda morte de seus companheiros.

Novos fatos relativos aos acontecimentos narrados acima, estão sendo objeto de pesquisa e num futuro próximo, serão por nos revelados (Cristiano Luiz Feitosa Ferraz e Marcos Antônio de Sá). Em nossas pesquisas de campo, novos detalhes surgiram, revelando fatos ainda desconhecidos da maioria dos pesquisadores e escritores, no que tange não somente a esse crime, como também a todos os caminhos percorridos por Lampião e seus asseclas, na região de Floresta-PE.

FLORESTA – CARIRI CANGAÇO 2016

Fonte: facebook


http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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