Por Susi
Ribeiro Campos
Susi Ribeiro nora dos cangaceiros Sila e Zé Sereno
Boa Noite, amigo José Mendes:
Faço aqui um
pequeno rascunho de minha vida com meu falecido esposo Wilson, e meus sogros
Sila e Zé Sereno. Peço que perdoe meus erros, os corrija por favor, e possa usar
o necessário para o Blog!
Muito
Obrigada!
Susi Ribeiro
Campos
Nasci em São
Paulo no dia 30/08/1968, e comecei a me interessar pelo tema Cangaço ainda
criança, após um trabalho de Geografia na escola que me levou a me inteirar do
assunto. Diante de tanto interesse, meus pais tiveram que me levar a conhecer a
família “Ferreira”, que em 1978, ainda não era tão conhecida. Eu vibrava de
felicidade. Tinha dez anos de idade, e iria conhecer a família de Lampião.
Ficamos
hospedados na casa de Dona Expedita Ferreira Nunes e Sr. Manoel. Fomos muito
bem recebidos, e fiz uma grande amizade com Vera, e principalmente sua irmã
Iza, que na época era ainda solteira e brincava comigo.
Como eu era
muito "perguntadora" e na época Dona Expedita (Dona Rosa) para os
amigos, ainda era uma senhora traumatizada com tudo que havia passado, deu a
sugestão à minha mãe, de quem ficou muito amiga, que me levasse conhecer os
verdadeiros ex-cangaceiros de Lampião, que moravam em São Paulo.
Tudo começou
aí. Fomos.
O cangaceiro Zé Sereno já morando em São Paulo
Seu Zé Sereno
já de meia idade, identificou-se muito comigo. Ele trabalhava como vigia numa
escola pública em São Paulo, e adorava crianças.
Além de me
responder sobre a História, brincava muito comigo, mostrava seus pertences de
cangaceiro, como o chapéu e o punhal. Fez muita amizade com meu pai, enfim, eu
estava "em casa". Sila também me contava tudo que sabia, sempre muito
alegre, nossas conversas eram longas.
A cangaceira Sila
Foi quando
avistei Wilson (filho do casal de ex-cangaceiros), ele já tinha 31 anos de
idade. No dia achei-o lindo, mas muito triste. Foi me mostrar alguns pertences
do Cangaço para meu pai. Tinha bebido bastante, quase não me viu, eu era
pequena..., sentou-se na escada da casa, olhou-me e disse: “- Que bonitinha”!
Wilson Ribeiro e Suzi Ribeiro Campos filho e nora dos cangaceiros Sila e Zé Sereno
Apaixonei-me
por ele, com a consciência de que ainda teria muito para crescer. Ao voltar
para casa, registrei no meu diário que quando eu crescesse iria me casar com
ele. Passaram-se muitos anos, mas eu nunca o esqueci. Não queria namorar com
ninguém. Durante esse tempo, Wilson casou-se com uma professora, mas durou
pouco tempo, divorciaram-se e não tiveram filhos.
Em 1993, eu
com ainda 24 anos, tive um sonho em que Sila acendia a Luz de fora de sua casa
e me chamava. No dia seguinte pedi ao meu pai, pois ainda não dirigia em
estrada, que me levasse visitar Sila, Seu Zé Sereno tinha falecido, foi duro saber,
derrame cerebral, em 1981. Foi nessa visita, nas minhas férias de julho de 1993
que reencontrei Wilson. Ele tinha acabado de retornar da Bahia, onde com
amigos, viajavam de carro, afim de participar das Festas Juninas do Nordeste.
Susi Ribeiro
Quando eu
cheguei, a convite de Sila, ele ainda estava viajando, e como eu estava
passando uns dias com ela, estava ocupando o quarto dele que estava vazio. Quando
ele voltou, de madrugada, rindo e muito feliz, deu de cara comigo. Acendemos as
luzes e ficamos conversando no quarto de Sila, até que ele se lembrou da
menininha.
Meus
sentimentos por ele se avivaram e eu procurei uma desculpa para voltar para Rio
Claro, antes que começasse com ilusões infantis..., nem sabia que ele estava
solteiro, um senhor de 45 anos de idade. Mas por surpresa, ele não deixou, e me
convidou para conhecer o Instituto Oceanográfico da USP, onde trabalhava como
fotógrafo. Era lindo, haviam parques, lanchonetes, e acabamos passando o dia
todo juntos.
..., ... e Susi Ribeiro Campos
Foi exatamente
neste dia 08 de julho de 1993, que começamos a namorar, a partir daí ele pediu
a meu pai se eu poderia ir morar com ele até o casamento. Foi tudo muito
rápido. Meu pai conhecendo meus sentimentos verdadeiros por ele, consentiu, e
no final de 1993, quando concluí meus estudos em Rio Claro, já estava morando
com ele, na casa de fundos do quintal de Sila.
Minha sogra
Sila viajava muito ao Nordeste para entrevistas e lançamentos de livros, e
ficávamos praticamente só nós dois! Foram anos maravilhosos, até que meu pai
veio a falecer em novembro de 1995, também vítima de derrame cerebral, e minha
mãe começou a apresentar sintomas de Mal de Alzheimer! Em 02 de dezembro de
1995 nos casamos no civil em São Paulo.
Suzi e Wilson no dia do casamento
Wilson então,
que gostava muito de meus pais, começou a pedir sua transferência da USP de São
Paulo para Piracicaba, cidade próxima de Rio Claro, pois minha mãe estava
doente, e eu como filha única, não poderia abandoná-la, e ela não aceitava
voltar a morar em São Paulo.
Tive que, por
meses, deixar meu lar em São Paulo para cuidar de minha mãe. Foi durante essa
época que Wilson teve o primeiro derrame cerebral, em 1996, e graças a Deus foi
socorrido por vizinhos a tempo, e levado para o Hospital da USP, não teve
sequelas. Parou com a cerveja e o cigarro imediatamente, Graças a Deus!
Conseguiu sua
transferência em setembro de 1996 para ESALQ - Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, em Piracicaba, onde passou a trabalhar como fotógrafo e
cinegrafista dos eventos da Faculdade, fazia parte do Departamento de
Assessoria de Comunicação. Sempre me levava junto e minha mãe quando ela
aceitava ir. Todos em seu trabalho sempre admiravam o amor e abnegação do
Wilson para com a saúde de minha mãezinha. Infelizmente após muito sofrimento,
ela foi internada e veio a falecer.
Wilson era
tudo para mim. Estávamos sempre unidos e felizes. Tentamos muitas vezes ter
filhos, várias e caríssimas tentativas de Fertilização in Vitro (Bebê de
Proveta), tive três abortos espontâneos e uma Gravidez que seguiu seu curso
normal até o parto. Nosso único filho nasceu e morreu em segundos, está enterrado
no Jazigo da minha Família.
Esquecemos o
assunto, nos afastamos de Gilaene pois ela insistia em me culpar por Wilson não
ter tido filhos. Nesse caso, o médico havia constatado problemas em nós dois,
mas como Gilaene preferia não entender, preferimos nos afastar.
Após o
falecimento de nosso único filho, seis meses após em, 12/02/2003 quando
estávamos cheios de planos de uma vida nova, incluindo a adoção de uma menina,
Wilson faleceu.
Wilson Ribeiro
de Souza nasceu no Bairro Penha de França em São Paulo no dia 04 de junho de
1947 e faleceu aos 55 anos de idade. Neste dia trabalhou normalmente, estava
bem, me lembro que até saímos à noite, mas na volta, caiu em cima de mim, em
nossa casa (que foi de meus pais) e não teve tempo de falar nada!
Casamento da Susi e Wilson
Estávamos eu e
ele somente na casa, além de nossos muitos cachorros e gatos. Senti que lutei
com a morte, pedi para que ele respirasse, mas seus olhos sem vida me fixaram e
ele caiu sobre mim!
Não sei como,
juntei forças, em pânico, joguei o corpo que pesava sobre mim para o outro lado
da cama e me vestindo saí correndo, desci as escadas e comecei a telefonar para
bombeiro, ambulância, polícia não queria acreditar que Wilson tinha morrido.
Susi, Wilson e...
Liguei para um
número de um professor de academia amigo nosso, quase vizinho, ele veio, trouxe
a família inteira! Fui levada ao pronto socorro também, estava em estado de
choque! Família? Eu não tinha mais parentes, apenas muito distantes e idosos!
Levaram-me para o velório, eu não via, não ouvia, não falava, não comia, nem
bebia nada.
A família do
Professor de Academia que eu não conhecia chamou os parentes do Wilson, a Gila
veio, ficou até o enterro acabar e levou tudo que era do Wilson, objetos e
livros do Cangaço.
... e Wilson
Sila já estava
em cadeira de rodas e logo a internaram numa casa de repouso.
Eu tive que
ser internada ou iria morrer de inanição, enquanto isso amigo, a família
Evangélica "limpou a minha casa inteira" roubaram tudo que puderam,
fiquei sem nada.
Susi e Wilson
Quando saí do
Hospital não acreditei, tinha que recomeçar, fui à polícia, mas o delegado
exigia nota fiscal dos móveis... de família? Antigos, dos meus avós! Então que
eu apresentasse uma testemunha... Quem???
Eu não tinha
mais ninguém, mas Deus viu o que aconteceu, invadiram minha casa, morei por um
ano no meio do mato, numa chácara que Wilson tinha comprado, e íamos reformar,
não tinha nem porta.
Susi e Wilson
Olha amigo,
desculpe pela extensão do relato, acredito ser mais um desabafo mesmo. Se
quiser saber alguma coisa específica por favor me pergunte. Se eu souber,
responderei.
Wilson foi
minha vida.
Após cinco
anos sozinha tornei a me casar, com Ivan, um policial aposentado e que
considero como um grande companheiro/amigo/pai? Tutor, sei lá... Deus sabe
todas as coisas.
Agradeço pela
oportunidade e peço desculpas por ter escrito tanta coisa.
Se quiser
enviar alguma pergunta específica sobre Sila, Wilson ou Zé Sereno, (conheci por
pouco tempo) por favor pergunte.
Muito obrigada
pela oportunidade!
No e-mail seguinte
enviarei algumas fotos
Deus abençoe
muito!
Abraços!
Susi Ribeiro
Campos
Enviado por Susi Ribeiro Campos nora dos cangaceiros Zé Sereno e Sila
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