Por Rostand Medeiros
Com a entrega
das edificações do 3º Distrito Naval, o que será feito com o antigo prédio
do Consulado Americano em Natal na época da II Guerra? Virá abaixo?
A edificação do antigo Consulado Americano em Natal é o que se encontra mais a direita na foto, ao lado dos canhões. Foto – Junior Santos – Fonte – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/marinha-negocia-sede-do-3o-distrito-naval/230490
Aqueles que
gostam do tema Segunda Guerra Mundial e a participação de Natal neste conflito,
creio que sabem que poucos dias após o ataque japonês a Pearl Harbor, em 7 de
dezembro de 1941, a presença militar americana em Natal se tornou intensa.
Em Natal estiveram
baseados vários esquadrões da Marinha Americana, equipados com inúmeros modelos
de aeronaves como PBY Catalina, Martin Mariner, Consolidated PB4Y (versão naval
do B-24), Lockheed Hudson, Blimps (dirigíveis não rígidos) e outros. Milhares
de aviões destinados aos vários teatros de operação durante a Guerra passaram
por Natal. A capital potiguar foi escolhida por ter uma posição geográfica privilegiada,
facilitando deslocamentos para África e Europa. Parnamirim Field era,
na década de 1940, uma das maiores bases aéreas estadunidenses em território
estrangeiro. Ao fim da guerra, o fato rendeu à capital potiguar o apelido de “Trampolim
da Vitória”.
Roosevelt e
Vargas em Natal – Fonte – http://www.sixtant.net
A capital
potiguar recebeu um contingente que, para alguns pesquisadores, chegou a
alcançar 10.000 soldados Norte-americanos. Este fato mudou radicalmente a até
então pequena capital, que à época possuía cerca de 50.000 habitantes. Aqui foi
igualmente palco de importantes decisões políticas. O acerto para o envio de
tropas brasileiras ao continente europeu foi realizado em Natal no ano de 1943.
Para isso, foi necessária a vinda do presidente dos Estados Unidos, Franklin
Delano Roosevelt, e o do Brasil, Getúlio Vargas. Os dois circularam pela
cidade, reconheceram mais uma vez a posição estratégica do lugar e acordaram
como seria a parceria entre o Brasil e o bloco dos Aliados com a ida dos
soldados brasileiros para a guerra.
Para
representar o governo americano em seus interesses e em meio a toda esta
intensa movimentação de seus militares, foi criado em Natal o Consulado do Governo
dos Estados Unidos. Você sabe onde ele funcionava?
Segundo nós
conta o Professor Itamar de Souza, o traçado atualmente conhecido da Avenida
Hermes da Fonseca foi uma obra iniciada em setembro de 1940, durante a gestão
do prefeito Gentil Ferreira, e tinha o objetivo de ligar a cidade ao Campo de
Parnamirim.
Antiga
residência do industrial potiguar João Severiano da Câmara – Fonte – Coleção de
Edgar Magno Wanderley Ferreira,https://www.facebook.com
Não sabemos
quando esta casa foi construída. Sabemos que ela pertenceu ao industrial João
Severiano da Câmara, proprietário da firma exportadora de algodão João Câmara e
Irmãos Com. Ltda., com sede a Rua Frei Miguelinho, n° 112, bairro da Ribeira.
Sabemos também que foi em fins de 1940 que esta edificação passou a ser
utilizada como Consulado Americano em Natal. Conforme podemos ver abaixo, essa
informação é baseada nos jornais natalenses “A República” e “A Ordem”, em suas
edições de 27 de dezembro de 1940, onde é noticiado que o Interventor Federal
Rafael Fernandes Gurjão assina documento reconhecendo o Sr. Elim O’Shaughnessy
como Vice-cônsul dos Estados Unidos em Natal. Um ano e meio antes do Brasil
declarar guerra a Alemanha e a Itália.
Jornal
natalense A República, edição de 27 de dezembro de 1940, página 2.
Durante todo o
período da presença das forças militares estadunidenses em Natal, este foi um
dos principais locais de sua estrutura de trabalho na cidade. Por lá passaram
várias autoridades, como no exemplo da foto abaixo. Nela vemos, de chapéu e
terno branco o então Embaixador dos Estados Unidos na União Soviética, o Sr.
Joseph E. Davies, que esteve em Natal em setembro, ou outubro, de 1943. Na foto
é possível ver parte da antiga estrutura da casa de João Câmara, uma das
palmeiras imperiais e o símbolo característico utilizado nas embaixadas e
consulados dos Estados Unidos.
De chapéu e
terno branco o então Embaixador dos Estados Unidos na União Soviética, o Sr.
Joseph E. Davies, que esteve em Natal em setembro, ou outubro, de 1943. Na foto
é possível ver parte da antiga estrutura da casa de João Câmara, uma das
palmeiras imperiais e o símbolo característico utilizado nas embaixadas e
consulados dos Estados Unidos.
Até 1947 os
americanos vão utilizar este local como seu consulado oficial em Natal.
Ainda segundo
o Prof. Itamar de Souza, em 1958, após a criação da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN, este imóvel foi adquirido por esta instituição de
ensino superior para servir como a primeira sede da reitoria. A partir de 1960
sua área construída foi ampliada.
Com a
inauguração do atual Campus Universitário, esta edificação foi vendida para a
Marinha do Brasil, que em 15 de junho de 1976 ali instalou o Comando do 3°
Distrito Naval.
Em agosto de
2012, conforme noticiado pela imprensa potiguar, o 3° Distrito Naval permutou,
por cerca de R$19 milhões de reais, a sua atual sede com a Construtora ECOCIL.
A construtora então está construindo uma nova sede desta unidade militar no
local onde funcionava o estacionamento da antiga balsa, no Canto do Mangue. Em
troca desta construção (e da edificação de uma casa em Fortaleza – CE), a
ECOCIL igualmente recebeu da Marinha do Brasil uma casa na Avenida Hermes da
Fonseca e outro prédio na Avenida Alexandrino de Alencar.
Não se sabe o
destino da antiga sede do Consulado Norte-americano em Natal.
A questão da
permuta entre o 3º Distrito Naval e a empresa ECOCIL, uma grande construtora de
edifícios em Natal, foi bastante comentado na internet (Ver –http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/marinha-negocia-sede-do-3o-distrito-naval/230490 ehttp://www.naval.com.br/blog/2012/10/31/comando-do-3o-distrito-naval-tera-nova-sede/ ).
Essa coisa de
permutar não está errada, não é ilegal. Sabe-se que a ECOCIL vai construir
naquele local alguns edifícios. O que também não tem nada de errado nisso!
Mas existe uma
questão nisso tudo!
E o que vão
fazer com a parte destas edificações que foram a antiga sede do Consulado
Norte-americano de Natal, Vão
simplesmente demolir?
Não sabemos o
posicionamento da ECOCIL. Mas por ser esta uma empresa de credibilidade,
conhecida, com muitos anos de atuação na construção civil no Rio Grande do
Norte, esperamos que a mesma tenha uma posição positiva em relação a esta
questão.
Não sei se
estou certo, mas, caso não tenha sido pensado, talvez uma das soluções fosse
que o futuro projeto da empresa ECOCIL contemplasse uma adequação em relação à
existência desta casa. Que está numa parte frontal e é relativamente pequena em
relação a toda área que eles permutaram com a Marinha do Brasil. Outra situação
interessante seria uma reforma para trazer as características desta edificação
no tempo da Segunda Guerra.
A participação
de Natal durante a Segunda Guerra Mundial é algo muito importante em termos de
identidade para o povo desta cidade, entretanto pouco do patrimônio histórico
está preservado – Fonte – Getty Images.
Em Recife,
onde a questão do patrimônio histórico é levada mais a sério e mobiliza a
sociedade (Veja o caso do Movimento Ocupe Estelita – http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/05/ato-contra-plano-para-o-estelita-dura-5h-e-acaba-em-shopping-do-recife.html),
é normal existirem modernos espigões de apartamentos de alto padrão, mantendo
na parte frontal do terreno uma antiga e bem conservada vivenda colonial.
Normalmente estas casas do século XIX são utilizadas como recepções
condominiais e salões de festas.
Mesmo que a
área não seja de uso público, o que já não é na atualidade por ser uma área
militar, ao menos a edificação se manteria em pé.
É pouco? É
verdade!
Mas, diante do
que já se perdeu em termos de patrimônio histórico em Natal, talvez seja melhor
isso do que a demolição pura e simples deste local!
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GUERRA MUNDIAL
Fontes
– Souza,
Itamar. Nova História de Natal, 2. Ed. – Natal-RN: Departamento Estadual
de – Imprensa, 2008. Páginas 443 a 445.
– Pinto,
Lenine. Natal, USA. 2. Ed – Natal-RN: Edição do autor, 1995. Páginas 27 a
48.
– Smith
Junior, Clyde – Trampolim Para a Vitória. 1. Ed. – Natal-RN: Ed.
Universitária, 1993, Páginas 15 a 27.
Extraído do blog do historiógrafo e pesquisador do "Cangaço" Rostand Medeiros.
http://tokdehistoria.com.br/2015/07/11/o-antigo-consulado-americano-em-natal-sera-demolido/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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