Os jornais da
época reagiram de maneiras diversas ao fato, já que os mortos foram todos
decapitados e suas cabeças expostas. A fotografia oficial foi amplamente
divulgada. O jornal O Estado de S. Paulo publicou artigo oito dias após o
massacre, no qual criticava a maneira como a questão foi tratada pela imprensa
sensacionalista que, segundo o matutino paulista, teria intensificado o mito do
cangaço, além de transmitir ao exterior uma imagem de atraso e barbárie do
país. A crônica de Rubem Braga publicada na revista Diretrizes em setembro de
1938, também evidenciou sua insatisfação em relação à divulgação, pelos
jornais, da citada fotografia:
PARTE DA
CRÔNICA DE RUBEM BRAGA:
(...) Uns
publicaram o retrato das cabeças dos cangaceiros. Todos arrumadinhos numa prateleira,
com os chapéus ao lado, fazendo ‘pendant’ para acertar a paginação. Estava
lindo arrumadinho e comovente como um soneto. Havia mesmo uma graça feminina,
um jeito de ternura naquela arrumação. Os jornais que publicaram esse clichê
elogiaram os soldados autores da façanha. Uns heróis. Todos foram promovidos.
Os outros jornais não publicaram a fotografia. Talvez porque não a receberam em
primeira mão. Esses jornais xingaram os primeiros por dois motivos:
– a) porque publicaram a fotografia
– b) porque chamaram os soldados de heróis.
Eles são uns bandidos, tão ruins quanto os cangaceiros, ou piores. Eu concordo com a letra ‘b’ e discordo da letra ‘a’. Acho que a fotografia devia ser publicada. Ela não tem, como se diz, o defeito de mostrar o nosso grau de civilização. Tem, exatamente, a virtude de mostrar o nosso grau de civilização. Ela é a expressão, poética e gentil, de um crime praticado por homens que agiam em nome do governo. Publicar a fotografia é mostrar, documentar o crime. Esconder a fotografia seria esconder o crime, ser cúmplice dos criminosos.
Estou de acordo, como se percebe, com a letra ‘b’. E a tal ponto que sugiro, caso haja facilidade, que sejam também cortadas as cabeças de diretores de jornais que chamaram os cortadores de cabeças de heróis. Creio mesmo que se poderia aproveitar a oportunidade para fazer um serviço mais amplo, cortando mais algumas, milhares de cabeças que há por aí e que não fariam falta nenhuma ao país, embora muitas delas se julguem indispensáveis e sejam importantes. Só o fato dos soldados haverem matado duas mulheres faz com que eles sejam considerados bandidos. Matar mulheres esta abaixo de qualquer adjetivo. É indigno, covarde, e desumano. Mesmo em caso de suprema necessidade nunca se deve, sob pretexto nenhum, matar uma mulher.
FONTE:
2ª fonte: facebook
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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