Por Antonio Corrêa Sobrinho
Já imaginaram os amigos se todos os enigmas e as coisas ocultas, aqueles que a
história não alcançou, num toque de mágica, fossem revelados? Se as práticas
ilícitas, as falcatruas e roubalheiras praticadas contra o povo, pelos nossos
governantes, os detentores perpétuos do poder político e econômico deste país,
desde os tempos coloniais, fossem revelados? Muitas seriam as surpresas.
Em Sergipe, mesmo, eu adoraria saber como neste tão ínfimo território, com tão pequena área de sertão, por outro lado, tão densamente povoado, de cidades, povoas e lugarejos quase se tocando, distantes entre si, muitos deles, apenas poucos quilômetros, ou seja, num espaço tão ínfimo e tão fácil de ser monitorado, vigiado, cercado, LAMPIÃO levou quase uma década para ser capturado, perambulando por aqui de 1929 a 1938, quando, finalmente, lhe acertaram em Angicos.
Um homem como ele, espreitado por mil desafetos, alvo de
vinditas, caçado por volantes de quatro Estados, as quais viviam por aqui
praticamente batendo cabeça, mas sem lhe causar sequer um arranhão, sem
mencionarmos, como atrativo à sua captura, o valoroso prêmio oferecido pelo
governo baiano, de cinquenta contos de réis (quantia que no tempo comprava boa
casa em zona valorizada de São Paulo, ou umas três aqui em Aracaju, conforme vi
em jornais), a quem matasse ou prendesse o temível cangaceiro pernambucano;
prêmio que acho ter sido o mais caro pela prisão de um fugitivo oferecido no
Brasil. Outra coisa, o Brasil, neste tempo, vivia sob uma ditadura, de um
Getúlio Vargas que sempre soube ser eficiente na defesa e no ataque aos seus
inimigos, aos que lhe contestavam, e que, em Sergipe, contou com dois militares
de peso - Augusto Maynard e Eronides de Carvalho, que se quisessem pegavam
Lampião logo, logo, pois tinham plenas condições de fazê-lo.
A verdade é que Sergipe foi para Lampião um oásis no seu deserto de ilicitudes, de refregas, mortes, sofrimentos, fugas, lugar onde ele, não raro, comeu do bom e do melhor, dormiu em cama macia e “trabalhou” relativamente tranquilo, interagindo, inclusive, com o sobredito Eronides de Carvalho, que o fotografou, dito pelo próprio governante. Lampião em Sergipe tanto ousou que se deu ao luxo de deixar o sertão e as proximidades do rio São Francisco para incursionar na zona da mata canavieira, como o fez espetacularmente na cidade de Capela, em novembro de 1929, onde até ao cinema ele foi.
Eu bem que gostaria de saber qual foi o 'modus operandi' deste bandoleiro, nas suas longas andanças por Sergipe, saber de seus escusos negócios, de suas tratativas, de seus fornecedores de armas e os pagos por elas, dos mimos dados e recebidos, se ele esteve em tratamento com o oftalmologista de Laranjeiras, se ele visitou Aracaju, enfim.
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