Por Rinaldo
Barros
Dedico este
texto ao olhar triste das crianças de rua e à juventude em perigo, perdida e
sem rumo, frutos desta sociedade suicida em que vivemos.
O fato de o
Brasil ter sido declarado pela ONU como o pais das Américas com a distribuição
menos equitativa de sua riqueza, é dramaticamente expressado nos milhões de
crianças brasileiras sem possibilidades de um desenvolvimento humano digno.
A conversa de
hoje será sobre a proliferação de gangues de jovens que assolam populações
inteiras com violência. Elas pululam onipresentes nas periferias urbanas de
vários países, sempre com as mesmas características. São as Maras.
A socióloga
Maria L. Santacruz Giralt, do Instituto Universitário de Opinião Pública
(IUDOP), de El Salvador, explica: “A violência das Maras é
fundamentalmente orientada para a destruição daqueles que ela considera
inimigos: jovens de condições sociais e econômicas muito semelhantes, que somente
se diferenciam pelo fato de pertencerem ao grupo rival”.
O conflito é
totalmente irracional, sem o menor argumento racial, religioso ou ideológico,
mas ainda mais irredutível porque, aos olhos de seus membros, fundamenta em
grande parte a legitimidade do bando. Trata-se de jovens extremamente incapazes
de imaginar um futuro qualquer para atingir qualquer nível de organização. São
organizados apenas para furtar e prontos para agredir e matar se necessário,
movidos apenas pelo instinto; gerando pânico na população.
É o
crime desorganizado. É o prototerrorismo, fonte generosa de quadros para o
narcotráfico.
Ostensivamente
presentes nos bairros populares e na periferia de grandes cidades, onde seus
grafites cobrem os muros, as Maras agem também nas principais cidades do
Brasil. A maior concentração talvez seja em São Paulo e Rio. Mas, Salvador e
Recife já disputam o primeiro lugar.
Esses grupos
têm geralmente entre trinta e sessenta membros, dos quais 63,7% têm entre 16 e
21 anos e 17,3% são garotas. São centenas de grupos, distribuídos por bairros
ou favelas, com total autonomia de ação.
São meninos e
meninas muito pobres que não têm outra coisa para partilhar a não ser sua
miséria, lato sensu. Baseiam sua existência exclusivamente na pobreza
absoluta, desemprego, ausência de educação e de valores morais.
A tendência é
construir mais presídios que escolas. Já estamos destruindo escolas...
Realimentando
o processo, o desemprego não pára de crescer e um processo de pauperização
acelerada afeta a maioria das camadas sociais e tem um impacto dramático sobre
o núcleo familiar, deixando jovens sem futuro e entregues a si próprios.
Cerca de 18%
dos jovens brasileiros estão fora da escola, informa a OIT. Nem estudam, nem
trabalham.
Na população
das periferias urbanas, e principalmente entre os mais jovens, prevalece um
sentimento de impotência e de ausência de alternativa política, que contribui
para fazer da vida na Mara a única escapatória. Dizem: “A “Mara”
é minha família, sua marca tatuada em meu corpo me liga a ela para toda vida”.
Com suas
origens históricas localizadas em Los Angeles, Califórnia (EUA), esse fenômeno
atravessa fronteiras e, além do Brasil, já se faz presente como se fora uma
nova geografia da violência em El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua,
Costa Rica e Panamá, estendendo-se já ao México e a Colômbia.
Essas
informações nos levam a assuntar que, com a modernidade, o mundo tem gerado
mais riqueza e mudado para melhor. Todavia, paradoxalmente, para as crianças
pobres pouco tem mudado. Para os meninos e meninas pobres que fazem da rua sua
morada, e das atividades ilegais sua forma de sobrevivência a situação é ainda
cada vez pior.
A violência
dos adolescentes infratores de hoje tende a ser ainda maior porque se sentem
miseráveis num mundo cheio de riqueza, opulência e possibilidades. Sua
rebelião, é maior, mais arraigada, mais profunda, e atrai a um número cada vez
maior de excluídos.
As Maras nada
mais são do que respostas desesperadas de seres humanos embrutecidos, sem
qualquer perspectiva de futuro, a uma injustiça estrutural, sistêmica, corrupta
e desumana. O que fazer?
Uma boa
pergunta para o (e)leitor fazer à sua consciência, nas eleições deste ano, na
hora de votar.
(*) Rinaldo
Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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