*Rangel Alves
da Costa
Certamente que
a vida coloca o homem em busca de possibilidades, mesmo que ao mesmo tempo as
reconheça como difíceis ou até mesmo impossíveis de serem alcançadas. Mas nada
demais sonhar quando o que se propõe possui significação especial e seja uma
meta desde muito percorrida.
Neste sentido,
me volto especificamente para o sonho de que algum dia o meu município
sertanejo de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ou simplesmente Poço
Redondo, tenha sua história, sua cultura e suas tradições devidamente
valorizadas pelas administrações.
Não há em todo
o estado de Sergipe um município de mais pujança histórica, geográfica,
cultural, de manifestações de raízes e de afazeres cotidianos de um povo hábil
demais na dança folclórica, no artesanato, na cavalhada, no xaxado, na renda de
bilro, na originalidade sertaneja. Foi o município que mais filhos deu ao bando
de Lampião, foi nas suas terras que o cangaço terminou com a chacina na Gruta
do Angico em 1938. E muito mais. É terra de quilombo, de raízes negras, de
passagem de Antônio Conselheiro, de notáveis batalhas cangaceiras, de
cachoeiras e grutas com inscrições pré-históricas, de mistérios e segredos que
tanto despertam curiosidades. Mas o que se faz para revelar tais riquezas? Nada.
Absolutamente nada.
Significa
dizer que as administrações municipais jamais se preocuparam com as riquezas
enraizadas no município. Não há política de turismo, não há política cultural,
não há a mínima preocupação em atrair turistas, em gerar riquezas e trabalho,
em transformar o município num polo de atratividades. Ora, quando nem uma
Secretaria de Cultura e Turismo sequer é pensada pelas administrações, o que se
tem é o total descaso com a própria história do município.
Muita já
escrevi sobre isso, muito já debati sobre isso, mas não venho encontrando
nenhuma resposta boa. Ontem mesmo enviei uma mensagem para o atual prefeito
mostrando a necessidade da criação de uma secretaria, autônoma e com dotação
orçamentária própria, para cuidar da cultura e do turismo. Não sei, contudo, se
ao menos haverá resposta. Ontem mesmo o prefeito leu a mensagem, mas sequer
teve a delicadeza de responder qualquer coisa. Assim como um “não” ou coisa
parecida.
Entretanto,
nada me faz recuar, continuarei incessantemente lutando pela valorização
histórica e cultural de minha terra. Neste sentido é que mantenho o Memorial
Alcino Alves Costa, objetivando não só de preservar o acervo do escritor,
político e sertanejo apaixonado Alcino Alves Costa, mas também resgatar a
história sertaneja e contar a história da saga nordestina, principalmente
através do cangaço.
E é no
memorial que de vez em quando reúno amigos, estudiosos e pesquisadores para
dialogar sobre as riquezas históricas e culturais de Poço Redondo - e do sertão
como um todo -, mas também para tecer indignações sobre os contínuos descasos
das administrações para com o tema. Chamo tais encontros de palavras ao vento,
pois sopradas com a força necessária à compreensão, porém logo diluídas pelo
não fazer administrativo.
Outro dia
recebi a cordial visita do querido amigo Raimundo Eliete. De raríssima
inteligência, profundo conhecedor da história sertaneja, conversamos cerca de
uma hora acerca da cultura, da história e das tradições poço-redondenses.
Pesquisador por excelência, exímio cultor do messianismo nordestino, Raimundo
Eliete tornou aquela manhã numa riqueza indescritível.
Empolgado com
o que encontrou no Memorial, programou para breve uma exposição sobre Delmiro
Gouveia. Disse-me que possui o mapeamento descritivo de toda a riqueza
histórica de Poço Redondo, o que já poderia servir como ponto de partida para
um trabalho mais elaborado, envolvendo fotografias e outros aspectos. Falou-me
ainda de outras potencialidades históricas e culturais sequer conhecidas pela
população do município.
Daí uma
constatação: é um trabalho penoso e solitário, incompreendido e até negado, mas
tem gente sim que muito se preocupa com a preservação da memória cultural e
histórica de Poço Redondo. Só para citar alguns, o próprio Raimundo Eliete,
Manoel Belarmino, Damião Rodrigues, Mestre Tonho, Beto Patriota, Quitéria,
Marleide Lucas, Maria Oliveira, Doutor de Iolanda, Bruno, Divá, as meninas do
Raízes Nordestinas, dentre tantos outros. E eu, que sou simplesmente
apaixonado.
Muitos, pois,
são os projetos e planos. Mas maiores ainda são os desenganos impostos pelos
insensíveis administradores.
Escritor
Membro da
Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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