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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

PROJETOS, PLANOS E DESENGANOS

*Rangel Alves da Costa

Certamente que a vida coloca o homem em busca de possibilidades, mesmo que ao mesmo tempo as reconheça como difíceis ou até mesmo impossíveis de serem alcançadas. Mas nada demais sonhar quando o que se propõe possui significação especial e seja uma meta desde muito percorrida.

Neste sentido, me volto especificamente para o sonho de que algum dia o meu município sertanejo de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ou simplesmente Poço Redondo, tenha sua história, sua cultura e suas tradições devidamente valorizadas pelas administrações.

Não há em todo o estado de Sergipe um município de mais pujança histórica, geográfica, cultural, de manifestações de raízes e de afazeres cotidianos de um povo hábil demais na dança folclórica, no artesanato, na cavalhada, no xaxado, na renda de bilro, na originalidade sertaneja. Foi o município que mais filhos deu ao bando de Lampião, foi nas suas terras que o cangaço terminou com a chacina na Gruta do Angico em 1938. E muito mais. É terra de quilombo, de raízes negras, de passagem de Antônio Conselheiro, de notáveis batalhas cangaceiras, de cachoeiras e grutas com inscrições pré-históricas, de mistérios e segredos que tanto despertam curiosidades. Mas o que se faz para revelar tais riquezas? Nada. Absolutamente nada.

Significa dizer que as administrações municipais jamais se preocuparam com as riquezas enraizadas no município. Não há política de turismo, não há política cultural, não há a mínima preocupação em atrair turistas, em gerar riquezas e trabalho, em transformar o município num polo de atratividades. Ora, quando nem uma Secretaria de Cultura e Turismo sequer é pensada pelas administrações, o que se tem é o total descaso com a própria história do município.

Muita já escrevi sobre isso, muito já debati sobre isso, mas não venho encontrando nenhuma resposta boa. Ontem mesmo enviei uma mensagem para o atual prefeito mostrando a necessidade da criação de uma secretaria, autônoma e com dotação orçamentária própria, para cuidar da cultura e do turismo. Não sei, contudo, se ao menos haverá resposta. Ontem mesmo o prefeito leu a mensagem, mas sequer teve a delicadeza de responder qualquer coisa. Assim como um “não” ou coisa parecida.


Entretanto, nada me faz recuar, continuarei incessantemente lutando pela valorização histórica e cultural de minha terra. Neste sentido é que mantenho o Memorial Alcino Alves Costa, objetivando não só de preservar o acervo do escritor, político e sertanejo apaixonado Alcino Alves Costa, mas também resgatar a história sertaneja e contar a história da saga nordestina, principalmente através do cangaço.

E é no memorial que de vez em quando reúno amigos, estudiosos e pesquisadores para dialogar sobre as riquezas históricas e culturais de Poço Redondo - e do sertão como um todo -, mas também para tecer indignações sobre os contínuos descasos das administrações para com o tema. Chamo tais encontros de palavras ao vento, pois sopradas com a força necessária à compreensão, porém logo diluídas pelo não fazer administrativo.

Outro dia recebi a cordial visita do querido amigo Raimundo Eliete. De raríssima inteligência, profundo conhecedor da história sertaneja, conversamos cerca de uma hora acerca da cultura, da história e das tradições poço-redondenses. Pesquisador por excelência, exímio cultor do messianismo nordestino, Raimundo Eliete tornou aquela manhã numa riqueza indescritível.

Empolgado com o que encontrou no Memorial, programou para breve uma exposição sobre Delmiro Gouveia. Disse-me que possui o mapeamento descritivo de toda a riqueza histórica de Poço Redondo, o que já poderia servir como ponto de partida para um trabalho mais elaborado, envolvendo fotografias e outros aspectos. Falou-me ainda de outras potencialidades históricas e culturais sequer conhecidas pela população do município.

Daí uma constatação: é um trabalho penoso e solitário, incompreendido e até negado, mas tem gente sim que muito se preocupa com a preservação da memória cultural e histórica de Poço Redondo. Só para citar alguns, o próprio Raimundo Eliete, Manoel Belarmino, Damião Rodrigues, Mestre Tonho, Beto Patriota, Quitéria, Marleide Lucas, Maria Oliveira, Doutor de Iolanda, Bruno, Divá, as meninas do Raízes Nordestinas, dentre tantos outros. E eu, que sou simplesmente apaixonado.

Muitos, pois, são os projetos e planos. Mas maiores ainda são os desenganos impostos pelos insensíveis administradores.

Escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju

blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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