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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O DIA EM QUE SEBASTIÃO PEREIRA DA SILVA O EX-CANGACEIRO SINHÔ PEREIRA, DEPOIS DE MUITOS ANOS DISTANTE, VOLTOU À SUA AMADA SERRA TALHADA.

Por José Mendes Pereira
Segundo o escritor Sousa Neto esta moça Dulce  é filha /neta de Sinhô Pereira, e ela faleceu em junho de 2015 em uma manhã do dia 26, em Lagoa Grande, no Estado de Minas Gerais. "Disse o escritor Sabino Bassetti: Após a morte de Sinhô Pereira era Dulce quem dirigia a famosa farmácia do avô. Até hoje, naquela região, muitos falam nas garrafadas feitas pelo seu "Chico Maranhão.

Ninguém ainda sabia da  chegada do Sebastião Pereira da Silva o ex-cangaceiro Sinhô Pereira à querida terra que o viu nascer e crescer, juntamente com os seus parentes, amigos, aderentes, e principalmente, uma rega de inimigos, todos querendo a sua cabeça. 

Que medo! Que susto! Valha-me, minha Nossa Senhora! Estas frases eram ditas pela população de Serra Talhada, quando soube da futura chegada do Sinhô Pereira.


Ninguém sabia o que ele queria fazer ali depois de tantos anos. Fora embora da sua terra devido as suas desordens, por desejo de satisfazer o seu eu, através de assassinatos, destruições de fazendas, fogos e propriedades, mortes de gados, vinganças..., agora queria que a Serra Talhada o recebesse de braços abertos como filho mesmo dali, que na verdade, era. 

O que lhe fez desistir do cangaço e sumir da sua terra querida, foi: que andava meio adoentado fisicamente e psicologicamente, e a pedido do religioso do Crato/Juazeiro do Norte, o Padre Cícero Romão Batista, que o aconselhou, que abandonasse a vida que levava, deixasse a vida de crimes, crimes, e fosse morar em Goiás. Lá, ele estaria mais seguro, e além do mais, não era mais um homem que estava em pleno gozo com a juventude, aliás, estava, mais os seus problemas de saúde na coluna vertebral, não lhe deixavam como um homem para topar qualquer parada.  

O seu estado de espírito estava de tal forma desajustado, que já não tinha mais condição de conduzir as ações do grupo que comandava. No começo tudo o que ele fazia errado, dava certo. Com o passar do tempo tudo o que ele fazia certo, dava errado. Uma das maldades que ele fez, diz ele, e que muito sentia, foi uma estupidez. Ele e seus cabras atearam  fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda. 

Padre Cícero Romão

- Vá embora deste Nordeste o quanto antes, Sebastião! Vá embora! Toma esta carta e procura os meus amigos no Goiás! Os seus nomes e endereços estão gravados na carta! - Dizia Padre Cícero em tom de abuso ao célebre cangaceiro. Não recuse o meu conselho! Eu estou lhe dizendo! Não me venha mais para o Nordeste! Deixa o povo do sertão nordestino em paz.

E foi-se embora Sebastião Pereira da Silva o Sinhô Pereira para bem distante do Nordeste Brasileiro. Os conselhos do religioso lhe serviram mesmo. Lá, era o Chico Maranhão, e era farmacista, dono de uma farmácia no Goiás.

Um dos seus melhores amigos era o primo Luiz Padre, homem decidido, primo que ele poderia confiar, primo que não estava em sua companhia para lhe tomar algo, ou ficar na aba do seu chapéu, primo que tantas batalhas foram feitas juntos, que nunca discutiram por nada, eram dois verdadeiros amigos, tanto no cangaço como fora dos serrados das caatingas. O Luiz Padre faleceu primeiro e a tristeza tomou de conta do velho e ex-cangaceiro Sinhô Pereira.


Sinhô Pereira sentado e Luiz Padre em pé
Mas quem é filho nunca esquece os seus pais ou as suas raízes, 50 anos depois, Sinhô Pereira vem visitar o seu Pajeú. Apesar do que havia praticado, causando mortes e mais mortes, tanto de gente como de animais, a população que o perdoasse pelos seus erros, pois afinal, dizia ele, era humano igual aos outros, e o "erro", só quem pratica é o ser humano, e ele não era diferente dos outros, apenas havia ultrapassado um pouquinho os seus erros dos demais, mas era uma pessoa que fazia parte daquelas terras, e era filho do Nordeste, nascido no município de Serra Talhada, na linda região do Pajeú, e tinha todo direito de visitar a sua terra querida, e ser perdoado os seus erros pelos conterrâneos. 
 
ACIMA: Inauguração da estação de Serra Talhada no início de 1957 (Acervo Dierson - http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcp_pe/serra.htm

Quando a população soube da notícia que o Sinhô Pereira já estava chegando de trem em Serra Talhada, ela ficou inquieta. Os mais fracos corriam em busca de abrigos, as mães corriam procurando os seus filhos por toda parte. 

Sebastião Pereira da Silva

Só o tamanho do ex-chefe de cangaceiros, inclusive comandante de Lampião, Sinhô Pereira, fazia qualquer homem tremesse todo. Na sua face estava estampada  uma espécie de ódio, e não abria um sorriso de forma alguma. 

O padre da paróquia quando tomou conhecimento do ex-cangaceiro em Serra Talhada, foi visitado pelo presidente do Conselho Comunitário, mais outros da diretoria, e solicitaram providências o quanto antes, para ter uma conversa com o ex-cangaceiro em forma educativa:

- O reverendo tem que ir falar com o Sinhô Pereira antes que ele bagunce tudo aqui em Serra Talhada. - Dizia o presidente do Conselho Comunitário  ao revendendo.

O padre já meio trêmulo, fez-lhe a seguinte pergunta:

- E é o Sinhô Pereira que está chegando à cidade de Serra Talhada, aquele que tem problemas com os Carvalhos?

- Sim, Senhor! - confirmou o presidente.


- Deus me livre deste homem aqui na minha Paróquia! Deus me livre! Em terras que o ex-cangaceiro Sinhô Pereira faz visitas, eu não mais dirijo os trabalhos religiosos de igreja! - Dizia ele retirando a batina e fez carreira, fugindo da cidade.


Uma meretriz que passava no momento em que o padre fez carreira, ela gritou firme:

- Mas que padre frouxo! Eu nunca tive medo de homem e nem terei. - Dizia a meretriz em gargalhadas, zombando do pobre padre que desaparecera dos altares da igreja.

O delegado da cidade fez vista grossa, e idealizou às pressas, uma viagem para Recife, pois precisava participar de uma reunião com os seus comandantes. 

Uma beata que puxava um terço dentro da igreja, ao saber da notícia da presença do Sinhô Pereira no lugar, não soube mais a sequência do terço, e a todo instante, falava o nome do ex-cangaceiro. Sentindo-se nervosa, abandonou o seu rosário sobre um banco, e fez carreira para casa, deixando as suas fiéis em pânico.


O Mercado Central nesse dia não mais vendeu nada, porque o guarda da Prefeitura, antecipou o seu fechamento, fazendo com que os marchantes e comerciantes fossem embora. 

Mas não precisava disto tudo, o Sinhô Pereira chegara em Serra talhada simplesmente para rever os parentes e alguns amigos que ainda estavam vivos. Sua visita era intencionalmente pacífica, nada de novos movimentos e nem de correrias. Afinal, ele era filho dali, do Pajeú que tanto amou, que tanto respeitou.

A maior alegria do Sinhô Pereira segundo ele, foi chegar a Serra Talhada 50 anos depois, e ser recebido por todos os parentes com carinho, e que todos dispensaram os seus erros, foi na verdade motivo de muita alegria. Ele foi embora para Goiás no ano de 1922, e só voltou para Pajeú no mês de junho de 1971, quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE. 

O que eu escrevi não tem nenhum valor para a literatura lampiônica.

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