Por Prof.
Stélio Torquato Lima
Prof.
Stélio Torquato Lima e o filho Davi
Com a
satisfação de missão cumprida, é que hora publicamos essa "Revolução dos
Bichos", vigésimo folheto da coleção Obras Primas em Cordel. Essa versão
poética de Stélio Torquato Lima, da espetacular obra de George Orwell, foi
escrita com 205 estrofes de sete versos, em 52 páginas.
A Cordelaria Flor da Serra agradece a generosidade do artista Cayman Moreira, que com seu traço, a partir da poesia steliana, deu vida a essas publicações. Aos dois, Stélio e Cayman, o agradecimento desse humilde editor. Deixemos o preâmbulo e conheçamos um pouco da obra.
A Revolução Dos Bichos foi publicada originalmente em 17 de agosto de 1945 e se constitui de uma sátira à política de Josef Stalin (1878-1953), que, segundo a ótica do autor, teria traído os princípios da Revolução Russa de 1917. Nessa perspectiva, as personagens Major, Napoleão e Bola-de-Neve podem ser entendidas como representações de Karl Marx, Josef Stálin e León Trotsky.
O livro foi apontado pela revista americana Time como um dos cem melhores romances da língua inglesa de todos os tempos. Também obteve o 31º lugar na lista dos melhores romances do século XX organizada pela Modern Library List. Entre as adaptações da obra, convém destacar duas versões para o cinema: a animação inglesa de 1954, dirigida por John Halas e Joy Bachelor; e a versão que utiliza animais “reais” de 1999, dirigida por Josh Stephenson.
O autor, Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo de George Orwell, nasceu em Motihari, Índia (ocupada à época pela Inglaterra) em 1903, e faleceu em Londres, em 1950. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem-humorada, uma consciência profunda das injustiças sociais, uma intensa oposição ao totalitarismo e uma paixão pela clareza da escrita. Algumas de suas obras foram baseadas em aventuras que efetivamente viveu, como é o caso de Lutando na Espanha (1938), na qual descreve sua experiência como combatente voluntário no lado republicano da Guerra Civil Espanhola. Escreveu, entre outras obras, os seguintes romances: Dias na Birmânia (1934), A Filha do Reverendo (1935), Mantenha o Sistema (1936), Um pouco de Ar, por favor! (1939), A Revolução dos Bichos (1945) e 1984 (1949).
Leia, a seguir, o trecho inicial do poema de Stélio Torquato e para ler a obra completa, compre seu cordel pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091. Estaremos na Bienal Internacional do Livro, que se realizará de 14 a 23 de abril, em Fortaleza, expondo todos esses trabalhos.
A Revolução dos Bichos,
Romance de George Orwell,
Que aqui foi adaptado
Para as rimas do cordel,
Fala de sonho, utopia,
Mas também de tirania,
Saiba o meu leitor fiel.
O palco central da história
É a Granja do Solar,
Uma herdade malcuidada
Pelo dono do lugar.
Sr. Jones, que era o dono,
A entregara ao abandono,
Sem pra nada mais ligar.
Além de ser preguiçoso,
Também era beberrão.
E assim, as suas dívidas
Aumentavam em profusão.
Sua mulher reclamava,
Mas ele não se importava,
E bebia de montão.
Certa noite, embriagado,
O galinheiro fechou.
Entretanto, suas vigias,
De fechar, não se lembrou.
Mais um trago de bebida
Ele tomou. Em seguida,
Pro quarto se encaminhou.
Quando ele apagou a luz,
Houve grande agitação
Nos vários galpões da granja,
Pois Major, um porco, então
Ia um sonho revelar,
E os bichos foram escutar
O que diria o barrão.
Reunidos no celeiro,
Colocaram-se ao redor
Do suíno venerando,
Entre os porcos, o maior.
Com 12 anos de idade,
Era uma celebridade
O já citado Major.
No fundo do tal celeiro,
Sobre uma espécie de estrado,
Estava o grande Major
No leito refestelado.
E ante ansiedade tanta,
Ele limpou a garganta,
E falou, emocionado:
“Eu bem sei, meus camaradas,
Minha vida chega ao fim.
A transmitir o que sei
Sinto-me obrigado assim.
Primeiro falo da essência
Da nossa dura existência.
E peço atenção a mim.”
“Na solidão da pocilga,
Eu vi o quanto é penosa
A vida de todos nós,
Que é bem curta e trabalhosa.
Trabalhamos como louco
E o nosso alimento é pouco
Pra faina tão vigorosa.”
“O pior é que no fim,
Quando força não mais temos,
Só desprezo e crueldade
É o que nós recebemos.
Alguns são abandonados
E outros assassinados.
É isso que merecemos?”
“Porque não somos mais úteis,
Trucidam-nos com maldade?
Aqui bicho não conhece
Lazer ou felicidade.
A vida de um animal
É sinônimo, afinal,
De ausência de liberdade.”
“Ordem natural das coisas?
Eu lhes afirmo que não!
Será a terra tão pobre
Que nos leva à privação?
Não! A terra é fértil e boa
Pra todo bicho e pessoa
Não passar por precisão.”
“Por que, então, nós vivemos
Neste miserável estado?
Explico: o que produzimos
Pelos homens é roubado!
O Homem é, eu lhes digo,
Nosso único inimigo.
Sem ele, temos bom fado.”
"Só o Homem é que consome
Sem produzir. Vejam bem:
Não dá leite, não põe ovos,
Não puxa o arado também.
Mesmo assim, pra seus caprichos,
Se julga o senhor dos bichos,
E só ele o lucro tem.”
“O bicho é que amanha o solo;
Nosso estrume o fertiliza.
Mas nenhum bicho possui
Nem sequer uma camisa.
Vejam: pro humano deleite,
Dá a vaca muito leite,
E ele a valoriza?”
“Analisem: quantos ovos
Pro homem põe a galinha?
Vende os ovos ou pintinhos
Essa figura mesquinha,
Dessa maneira, enricando.
Pra galinha, só vai dando
Uma ração bem ruinzinha...”
“Reflitam, meus bons amigos,
Sobre o caso de Quitéria:
A égua teve potrinhos,
Mas pra sua grande miséria,
Nosso vil dono vendeu
Cada potro que nasceu,
Obtendo gorda féria.”
"O que há de acontecer
Com o bom cavalo Sansão?
Quando lhe faltarem as forças,
O homem, sem compaixão,
Mandará alguém matá-lo,
E os cães vão devorá-lo
Com fúria e sofreguidão.”
“Da mesma forma que ele,
Vocês irão pro cutelo...
Porcos, galinhas, ovelhas...
Quem escapa do flagelo?
Pergunto: que vida é essa?
Uma existência ruim à beça
Com pesar sem paralelo!”
“Vejam: todos nossos males
Vêm da humana tirania.
Seremos ricos e livres
Se eliminarmos um dia
O rival que nos afronta,
Trazendo aflição sem conta,
Uma desmedida agonia.”
“Revolução! Eu vos trago
Tal mensagem, camaradas.
Revolução! Pra mudar
Nossas vidas desgraçadas!
Refaçamos a História.
Ao combate! E à vitória,
Que ofensas serão vingadas!”
"E
lembrai-vos, camaradas,
De
manter nossa unidade.
Unidos,
nós poderemos
Vencer
a adversidade.
Todo
homem é inimigo.
Pra
ele, dor e jazigo.
Pros
bichos, a liberdade!”
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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