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quinta-feira, 23 de março de 2017

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS EM CORDEL

Por Prof. Stélio Torquato Lima

Memórias Póstumas de Brás Cubas, maior clássico da literatura brasileira e, na minha humilde opinião, comparável somente a textos de Dostoiévsky, recebeu uma primorosa adaptação para a poesia popular pela verve do poeta Stélio Torquato Lima. Brás Cubas, em cordel, publicado pela Cordelaria Flor da Serra tem a ilustração do grande Cayman Moreira. É um super folheto de cordel. São 229 estrofes de sete versos distribuídos 56 páginas narrando fielmente o texto original do Mestre Machado de Assis, o Bruxo do Cosme Velho.

Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicada originalmente em folhetim, de março a dezembro de 1880, na Revista Brasileira. A publicação em livro, no ano seguinte, deu início ao Realismo no Brasil. O livro inaugura um novo estilo de Machado de Assis, sendo marcado pela ironia e pela crítica social. Como afirmou o autor, o romance recebe influência de duas obras: Tristam Shandy (1759-67), de Laurence Sterne, e Viagem ao Redor do meu Quarto (1872), de Xavier de Maistre. 

A obra traz elementos do realismo mágico, posteriormente desenvolvidos por escritores do peso de Jorge Luís Borges, Júlio Cortázar e Gabriel Garcia Márquez. Por essa razão, alguns críticos apontam-na como a primeira narrativa fantástica brasileira. Juntamente com Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899), forma a “trilogia realista machadiana”, que tem como marca a sondagem psicológica das personagens e a crítica da sociedade brasileira. 

A obra sofreu várias adaptações, incluindo três versões cinematográficas: a que foi dirigida por Fernando Cony Campos em 1967 (e que se chamou Viagem ao Fim do Mundo); a de 1985, que teve como diretor Júlio Bressane (com Luiz Fernando Guimarães no papel principal); e a de 2001, dirigida por André Klotzel e com três atores no papel de Brás Cubas: Alfredo Silva (Brás Cubas criança), Petrônio Gontijo (Brás Cubas jovem) e Reginaldo Farias (Brás Cubas já velho).

O autor Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, onde também faleceu, em 29 de setembro de 1908. Além de romancista, contista, cronista, dramaturgo e poeta, foi também jornalista e crítico literário. Superando a origem humilde (o pai, filho de escravos alforriados, era um pintor de paredes; a mãe, nascida nos Açores, era lavadeira), Machado de Assis é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e obteve grande notoriedade em jornais, nos quais publicou vários textos analisando a situação política e cultural do país. 
Em 1897, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Entre suas obras, merecem destaque os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), entre outras publicações.

Leia, a seguir, as primeiras estrofes do cordel "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e, para ler o desfecho da fantástica narrativa desse cordel, não deixe de fazer seu pedido para cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091.



Dedico eu ao primeiro
Dos vermes que então roeu
As frias e podres carnes
Do triste cadáver meu
Estas Póstumas Memórias,
Que, em lembranças merencórias,
Este meu punho escreveu.

Foi com a pena da galhofa
E a melancólica tinta
Que eu escrevi esta obra
Singela, porém, distinta.
Ela é, em seu conjunto,
Uma obra de defunto,
Digo, de forma sucinta.

Desde já, informarei
Ao meu prezado leitor:
Não sou um autor defunto,
Mas sim um defunto autor, 
Pois só depois que morri
É que, de novo, nasci,
Dessa vez como escritor.

Foi aqui, no outro mundo,
Depois que deixei os meus,
Que esta obra foi escrita,
Com todos os defeitos seus.
A quem gostar, eu saúdo;
Se odiar, leva um cascudo,
E, após isso, eu digo: “Adeus!”.

Bem antes de estas memórias
Trazer ao leitor fiel,
Assaltou meu coração
Uma dúvida cruel:
Eu as abriria, enfim,
Pelo início ou pelo fim,
No espaço deste papel?

Sendo bem mais criativo,
Comecei pelo final,
Iniciando esta obra
Com o momento fatal
Do meu último revés.
Mais criativo que Moisés
Eu vim a ser, afinal.

Depois que cada detalhe
Preliminar foi exposto,
Convém dizer que morri
Pra tudo ficar bem posto,
Lá no século dezenove,
No ano sessenta e nove,
Numa sexta-feira de agosto

Com sessenta e quatro anos
E sem nunca ter casado,
Eu, da vida, vinha a ser
Para sempre desterrado.
E, além de ser solteiro,
Eu possuía dinheiro.
Fique o leitor informado.

Apenas onze pessoas
Lá no cemitério havia.
Não houve anúncio e nem cartas,
E acrescento que chovia...
Foi por isso, certamente,
Que tão pouquíssima gente
Em meu enterro se via.

Sob uma chuva fininha
Que caía sem cessar,
Um amigo, ao pé da cova,
Veio a todos declarar:
“Vejam que até o céu chora
Ao dizer um adeus agora
Ao nosso amigo sem par!”

Que bom e fiel amigo!
Jamais me arrependerei
Sim daquelas vinte apólices
Que para ele deixei.
Seu discurso tão sentido
Deixou-me bem comovido,
E quase que solucei.

No instante da minha morte,
Estavam, bem junto à cama,
Minha irmã, a filha dela,
Mais uma terceira dama,
Da qual nada agora conto,
Pois trato agora de um ponto
Importante desta trama.

É necessário contar
A minha leal plateia
Sobre uma minha invenção,
Uma genial panaceia.
A humana melancolia
Logo um extermínio teria
Ao ganhar corpo esta ideia.

Emplastro Brás Cubas era
O nome dessa invenção
Que iria livrar o mundo
Da tristeza e depressão.
A milagrosa pomada
Por mim idealizada
Era minha obsessão.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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