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terça-feira, 11 de abril de 2017

"A PATA DO MACACO", CORDEL DE STÉLIO TORQUATO LIMA, COM ILUSTRAÇÃO DE EDUARDO AZEVEDO NARRA UM CLÁSSICO CONTO DE TERROR.

Por Stélio Torquato Lima

"A Pata do Macaco", cordel de Stélio Torquato Lima, com ilustração de Eduardo Azevedo narra um clássico conto de terror. Um amuleto, a pata de um macaco trazida da Índia por um viajante esconde muitos mistérios e fatos aterrorizantes.

Escrito em 1902 e integrando o livro de contos A Dama da Barcaça (The Lady of the Barge), “A Pata do Macaco” (“The Monkey’s Paw”) é considerado um dos maiores clássicos da literatura de horror de todos os tempos. A obra foi incluída na Antologia da Literatura Fantástica (1940), compilada por Jorge Luís Borges, Silvina Ocampo e Adolfo Bioy Casares. Também faz parte, apesar do autor ser inglês, da coletânea 20 Maiores Contos Americanos (Twenty Great American Stories). Esse pequeno conto inspirou inúmeras adaptações em diversas mídias, incluindo o filme de 2013 dirigido por Brett Simmons, com C. J. Thomason, Stephen Lang e Michelle Pierce. No Brasil, Doc Comparato adaptou o conto para a versão que a Rede Globo apresentou no Caso Especial de 27 de maio de 1983, com a participação de Armando Bogus, Natália Timberg e Mário Lago.

O autor William Wymark Jacobs (W. W. Jacobs) nasceu em 1863, em Londres, cidade onde também morreu, em 1943. Embora tenha ficado mais conhecido pelo conto macabro “A Pata do Macaco”, a maior parte de suas histórias tem caráter humorístico. Seu pai trabalhou como estivador e gerente em um cais londrino (South Devon Wharf). As experiências do pai nas docas serviram de inspiração para muitas das suas histórias, que frequentemente tratam das aventuras de marinheiros rebeldes que trabalham em condições precárias. Em 1879, começou a trabalhar como funcionário dos correios, onde permaneceria por vinte anos. Em 1885, teve início sua carreira literária Algumas obras: a) Contos: Excesso de Carga (1896), Ouriços do Mar (1898), A Dama da Barcaça (1902) e Águas Profundas (1919); b) Romances: O Cortejo do Capitão (1897), Um Mestre do Ofício (1900), Dialstone Lane (1902), No Porto Sunwich (1902) e Os Náufragos (1916).

Leia, a seguir, estrofes iniciais do cordel de Stélio Torquato e, para ler a obra completa, faça seu pedido pelo E-mail cordelariaflordaserra@gmail.com ou pelo WhatsApp (085) 9.99569091.


Que eu mereça ter o auxílio
Do nosso excelso Senhor
Pra que possa lhes narrar
Esta história de terror,
Uma narrativa grotesca
De uma pata simiesca
Que só trouxe dissabor.

No lar da família White,
Estava a lareira acesa.
Era uma noite fria e úmida, 
E pai e filho, numa mesa,
Jogavam mais uma vez
O tradicional xadrez,
Exibindo sua destreza.

Enquanto entre pai e filho
O jogo se processava,
A velha senhora White
Calmamente tricotava.
Sentada perto do fogo,
Ia acompanhando o jogo
Ao qual o par se entregava.

Por se achar em desvantagem,
Na partida já citada,
Lembrava o pai que a visita
Que por ele era esperada
Já demorava bastante.
Culpou então nesse instante
O endereço da morada:

“É esse o grande problema
De isolado se viver.
Lugar ermo e lamacento
Eu sei que existe a valer.
Porém, para aqui chegar
Um atoleiro de amargar
É necessário vencer.”

A mulher, que conhecia
Esse mau-humor fingido,
Piscou um olho pro filho
E declarou ao marido:
“Pra que tanta raiva assim?
A próxima, creia em mim,
Você vai ganhar, querido.”

Antes que ele respondesse
Aquela provocação,
Ouviu nesse exato instante
Que batiam em seu portão.
“Ele acabou de chegar!”
– O velho veio a falar,
Sem esconder a emoção.

Pouco depois, um senhor
Muito alto e corpulento
Saudava e se apresentava
À senhora e ao seu rebento:
“Sou Morris, um seu criado.
Da Índia há pouco chegado.
Do exército sou sargento.”

Em seguida, junto ao fogo
E já co’ um uísque na mão,
O sargento começou
A fazer a narração
De suas muitas viagens,
De cenários bem selvagens,
De guerra, peste, sultão...

Olhando para seu filho
E para a esposa querida,
Falou o Sr. White:
“Vinte anos nessa vida!
Quando saiu, lembro bem,
Era um rapaz de armazém. 
Como mudou com a lida!”

Falou a Sra. White,
Discordando do marido:
“Ele não parece ter 
Tantos reveses sofrido.”
Sem querer polemizar,
O velho veio a mudar
Do bate-papo o sentido:

“Como eu gostaria, amigo,
De um dia à Índia ir...
Ver velhos templos, nativos,
E, é claro, algum faquir...”
Interrompeu-lhe o sargento:
“Desaconselho. Lamento,
Mas é melhor não partir.”

“Eu respeito seu conselho.
Levarei em conta, assim.
Porém a Índia me atrai,
Pois tem mistérios sem fim...
E mistério é o meu fraco.
Lembra a história do macaco
Que você contou pra mim?”

Ficaram bem curiosos 
A esposa e o filho dele
Co’ a alusão à história
Que há pouco fizera ele.
Morris o caso contou,
Mas antes algo mostrou
Pra que acreditassem nele. 

Era a pata dum macaco
Bem pequena e ressecada.
A senhora recuou,
Mostrando estar assustada.
Já o filho examinou
E na mesa colocou
A tal peça inusitada.

Contou Morris que um faquir
Que era santo e muito idoso
Tinha transformado a pata
Num objeto milagroso:
“Três coisas pode pedir
Quem a pata possuir,
Sendo assim bem poderoso.”

“Queria o faquir provar 
Que o destino é quem nos rege.
Quem interferisse, assim,
Sofreria qual herege.
Fizeram então três pedidos
Três homens bem destemidos,
Que o faquir com zelo elege.”

Ele fora tão solene
Em expor essa matéria,
Que os três White lhe escutavam
Com expressão muito séria,
Contendo qualquer risada,
Pois viram que o camarada
Não gostava de pilhéria.


Stélio Torquato Lima

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com  

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