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quarta-feira, 12 de julho de 2017

EMBOSCADA NA LAGOA DOS NEGROS


Certa feita estava no QG das Volantes da cidade de Tucano, BA, dois comandantes, tenentes Abadias de Andrade e Geminiano José dos Santos, aquartelados com seus contingentes, quando chega ao conhecimento dos dois uma informação de que Lampião, Virgolino Ferreira da Silva, o “Rei dos Cangaceiros”, com sua caterva estavam a ponto de atacarem uma estância hidromineral, a Estância Hidromineral de Cipó. Automaticamente os oficiais se prontificam em irem dar uma ‘varrida’ naquela região.


Porém, sabiam que não podiam deixar a cidade desprotegida, pois poderia ser mais uma informação preparada, mentirosa, inventada, pelo chefe cangaceiro, para atacar a cidade de Tucano quando esses saíssem à sua procura, Lampião usou bastante dessa artimanha, ou tática de guerrilha, fazer saberem que estava em um local, quando na verdade se encontrava em outro, e resolveram ir um com sua tropa e o outro permaneceria guarnecendo a cidade.


O tenente Abdias conhecia mais as redondezas do que o colega Geminiano, no caso seria o indicado para executar a missão, no entanto, notando a vontade e disposição do colega, companheiro de farda, deixa-o ir, e aproveita, naquele meio tempo, para passar instruções a um novo contingente recém contratados.

O tenente Geminiano prepara sua tropa. Tendo como seu interlocutor o sargento José de Miranda Mattos, que passou as ordens aos quinze soldados, partem para o local onde estaria Lampião com seu bando.

Depois de caminharem três léguas, a volante chega ao sítio denominado Iracupá. Nesse local ficam sabendo que os cangaceiros estariam bem próximos. Seguem de estrada afora na trilha ‘informada’ e, após caminharem pelo restante do dia, chegam à cidade de Poço Redondo, SE, quando o manto negro da noite já tinha se estendido no vale sertanejo. Em Poço Redondo as informações colhidas são contrárias aquelas anteriormente recebidas. No meio da noite a coluna perde o rastro do bando, no entanto, prosseguem com o pé na estrada. Caminhando a esmo. Sem saberem a vereda correta que seguiram os bandidos, vão sair numa localidade denominada Mosquito, e nessa, já com o dia claro, são sabedores que o bando estava pra trás.


Através de um vaqueiro da fazenda Mandacaru, que era coiteiro de Lampião, o tenente é informado de que estão adiantados, que os cangaceiros não haviam passado por aquelas terras. Isso já fazia parte, essas informações desencontradas, da arapuca que o “Rei dos Cangaceiros” tinha preparado para a volante.

Há autores que relatam em suas obras que em vez de dizerem que não tinham passado, os coiteiros diziam que o bando havia passado e que tinham tomado determinado rumo. Em um ou outro caso, o certo é que o tenente Geminiano nem de longe percebeu a armadilha em que entreva e colocava seus homens. Assim, a cada passo que davam, os homens da volante comandada pelo tenente Geminiano José dos Santos, entravam por um caminho sem volta.

Lampião estrategicamente deixava vestígios da sua passagem bem visíveis. Não queria que a força perseguidora perdesse seus rastros, nem havia como, pois, daquele feita estavam indo a cavalo. Em certa altura do caminho, estrada, ordena que parte dos ‘cabras’ apeiem e que fiquem entocados, bem escondidos, onde também fica ordenando ainda que o restante prosseguisse pelo caminho e que, depois de um determinado espaço percorrido, apeassem e se preparassem para a luta, porém, que só voltassem e entrassem não combate após serem disparados os primeiros tiros.


O sol já estava alto quando a volante chega a uma localidade chamada Lagoa dos Negros. Lampião, escondido com parte de seus homens, esperam e vem todos passarem. Nesse momento escuta-se o primeiro disparo... Desse instante para frente o mundo pega fogo! Gritos, palavrões, pedidos de ajuda, som ensurdecedor dos disparos das armas de ambos os lados, mais a fumaça da pólvora queimada impendido dos que trocavam tiros ter uma boa visão.

Os soldados foram colhidos entre dois fogos e, não tendo alternativa, o jeito foi manobrarem suas armas e dispararem para os lados que estavam escutando os disparos. Os cangaceiros, escondidos atrás das árvores e pedras, ajoelhados, manobravam, levavam suas armas ao ombro, miravam e faziam fogo. O tenente e o sargento davam ordens que, naquele momento não serviam para quase nada, mesmo porque pouco se escutava devido a pipoqueira avassaladora da brigada.

De cara, a Força tem duas baixas quando os soldados Manoel Araújo e Manoel Fernandes tombam sem vida na senda da guerra. Em seguida a coisa piora quando o corpo do comandante, tenente Geminiano José dos Santos, vai de encontra ao solo seco do chão sertanejo sem vida. O comando passa imediatamente para o sargento Miranda, porém, esse é o próximo que parte para rever seus antepassados nas pradarias celestiais, ficando o restante da tropa sem comando. O fogo se intensifica e a cada momento um Praça perde sua vida no cumprimento do dever... Morrem os soldados André A. Souza, Manoel Aragão, Argemiro F. dos Reis e Arnaldo Cláudio de Souza... em fim, da volante que tinha um contingente de 15 homens, um sargento e um tenente, restam apenas cinco homens. Esses fogem, não sabem eles mesmos como conseguiram, e salvam suas vidas.


Segundo o pesquisador sergipano Kiko Monteiro, dentre todas as emboscadas feitas por Virgolino Ferreira da Silva, o ‘capitão Lampião’, contra as volantes da Força dos sete Estados aonde implantou seu reinado sangrento, essa fora a que melhor teve êxito.

Aqueles que conseguiram escapar da arapuca, emboscada, retornam pouco tempo depois a fim de ajudarem seus companheiros. Ao retornarem ao campo da batalha, defrontam-se com uma cena jamais imaginada por nenhum deles. Os corpos de seus companheiros foram profanados pelos cangaceiros.

“(...) a cabeça do tenente, retirada do corpo, não foi encontrada também nenhuma parte do corpo (que) escapou de ser esfaqueada...

O sargento Miranda Mattos teve seus olhos arrancados à ponta de punhal, enquanto a gordura do ventre do oficial abatido, assim como as vísceras, (servia) para engraxar o armamento dos cangaceiros. Não se pode imaginar ato mais brutal por parte de criatura humana!(...).” (lampiãoaceso.com)

Alguns autores acreditam, e nos dizem, através de seus livros, que essa carnificina praticada pelo bando de cangaceiros tenha sido uma represália ao que ocorreu com o corpo do cangaceiro Gavião, em dezembro de 1929. No entanto, Gavião fora morto e teve seu corpo enterrado por um vaqueiro, Domingos Enéas, o qual, depois de algum tempo, ele mesmo escava a cova onde tinha colocado o corpo do cangaceiro, retira o crânio e o leva à Secretária de Polícia, na Capital baiana em princípios de 1930, ano em que o tenente Geminiano é abatido em combate.


“Abatido o cangaceiro Gavião, em dezembro de 1929, o vaqueiro Domingos Enéas apresentou à Secretaria de Polícia, em Salvador, no início de 1930, um crânio já descarnado, indicando ser daquele que havia morto.

Se verdade, foi o primeiro crânio de cangaceiro do bando de Lampeão a chegar a Salvador .” ( cangaçonabahia.com)

Talvez pela repercussão, que com certeza a imprensa fizera, com a imagem do crânio do cangaceiro, porém, os militares nada tiveram com esse caso em particular.

Fonte/foto blogs citados
PS// FOTO DO TENENTE GEMINIANO JOSÉ DOS SANTOS COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO PROFESSOR Rubens Antonio

https://www.facebook.com/groups/545584095605711/permalink/862003147297136/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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