*Rangel Alves da Costa
Sei que de muita coisa a gente não pode fugir. De um jeito ou de outro sempre acaba recebendo as consequências. Em muitas situações, inevitável que os ocorridos não acabem respingando em quem tem não tem nada a ver com a história.
Acaso pipoque uma guerra lá longe, mas que envolva países produtores de petróleo, então logo o aumento de preços. A neve em demasia ou a estiagem prolongada em países distantes, ainda assim provocam carestia em alimentos e pelo mundo inteiro.
No Brasil, a roubalheira política e governamental produzem consequências as mais danosas para toda a população. Os cofres públicos foram tão esvaziados que procuram preenchê-los com cortes de despesas essenciais, de políticas públicas e aumento de impostos, dentre outras artimanhas. Sobra para o povo.
Até o voto possui gravíssimas consequências. Votar em ladrão não há que se esperar regeneração, eleger corrupto não há como esperar que a boa virtude de repente recaia sobre a ratazana, dar poder ao imprestável não há como deseja conversão em meio à pocilga. Os maus políticos que se tornam apenas afloram o que já eram. E não há inocência no poder.
Mas quem pintou a zebra mesmo? Não tenho nada a ver com isso. Mas ela está pintada. Mas sou culpado quando me aproximo demais para observar seu desenho e logo recebo um coice de voar longe. Ora, se a cobra está quieta, enrolada numa moita, dormindo num tufo de mato, então é melhor deixar ela lá.
Muito estranho quando frutas da estação, que chegam aos montes, são comercializadas por preços que mais parecem de períodos de escassez. Mesmos os mercados cheios, as bancas cheias, ainda assim os preços não baixam de jeito nenhum. Assim sempre ocorre quando são muitas as melancias, as tangerinas, as pinhas. Então por que você compra?
É a sua compra que garante a manutenção elevada de preço. Acaso evite comprar, logo os vendedores serão forçados a baixar o preço. Mas não. Sempre ocorre o contrário. As frutas bonitas vistosas, douradas, olorosas, reluzentes, pois da estação, tornam-se como chamarizes. E então a gula da compra acaba fazendo o jogo da ambição comercial.
Você diz que não tem nada a ver com isso, mas tem. Você diz que o problema da cidade é para ser resolvido apenas pela gestão municipal, mas não é bem assim. Você diz que a feira no mercadinho está cada vez mais cara, mas também por culpa sua. Você diz que o outono nem parece outono e a primavera nem parece primavera, mas assim acontece também por culpa sua.
O que você tem feito de seu lixo? Você acha que os esgotos são entupidos por sacolas plásticas, garrafas pet, papelão e tudo mais, caídos das nuvens junto com as chuvas? Por acaso, o que fizeram de tanta mata antigamente existente, cuja derrubada provoca mudanças nas estações, no aumento do calor e no clima em geral? Por que o homem nunca se culpa pelos descasos e desmandos que a todos afetam?
Não tenho nada a ver que a girafa seja tão alta e outros seres sejam tão baixos, principalmente o homem. Não tenho nada a ver que somente se dê importância à vida depois da vida. Não tenho nada a ver que o pombo ora seja tido como símbolo da paz, do amor e da união, e no momento seguinte já esteja rejeitado por que transmite doenças. Não tenho nada a ver com o menino que dorme debaixo da marquise.
Ou tenho alguma coisa a ver? As pessoas acostumaram a olhar o mundo, a vida e tudo o que acontece, apenas pelo olhar. Não imaginam o valor da visão da alma, dos sentimentos, da sensibilidade. Apenas vendo através dos olhos, então tudo tanto faz se não diz respeito à própria pessoa. Daí que o sofrimento do mundo, a fome do mundo, a dor do mundo, será apenas do mundo.
E de repente tudo recai sobre si. Mas quem tem alguma coisa a ver com isso?
Escritor
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