Por José Gonçalves
Não há quem
não se deslumbre com a leitura do excelente título de Domênico De Masi, “O
futuro chegou”, lançado pouco tempo faz. No capítulo que contempla o Brasil, o
sociólogo empreende ampla e balizada abordagem que vai desde 1500, ano da
chegada dos portugueses a estas terras, até 2013, ano em que conclui o
primoroso ensaio.
Atém-se o
autor ao que ele chama de “modelo brasileiro”. Ou seja, depois de 450 anos
copiando o modelo europeu e de 50 anos copiando o modelo americano, o Brasil,
finalmente, descobre seu próprio modelo. “O Brasil já se sente um país de
ponta, capaz de propor mesmo ao exterior o próprio modo de ser e de servir como
modelo alternativo de sociedade”, afirma o estudioso.
O estudo
destaca os avanços celebrados nos últimos anos, principalmente com o advento da
Constituição de 88 e, mais recentemente, com as políticas de redistribuição de
renda e a consequente redução da pobreza. É apontada a extraordinária
capacidade que tem o brasileiro de criar, inovar, adaptar-se, “dar a volta por
cima”, nunca se curvando diante dos obstáculos e tudo encarando em ritmo de
festa e otimismo.
É lamentável,
todavia, que o Brasil destes dias não seja mais o Brasil descrito pela pena
muitas vezes poética do sociólogo italiano, autor também de “O ócio criativo”. O
Brasil destes dias é o Brasil do retrocesso, em que a cada semana um novo
“pacote de maldade” é imposto ao povo. O Brasil que salta das páginas de De
Masi é o Brasil da inclusão, da superação, do Pronatec, do Prouni, do Fies. É o
Brasil da esperança. No Brasil destes dias – o Brasil do pós-golpe – o
desemprego já beira a cifra dos 15 milhões e as estimativas apontam que até o
final do ano 4 milhões de brasileiros retornarão à linha da pobreza. O Brasil
destes dias é o Brasil do desmonte de conquistas históricas como as das
políticas sociais e das leis trabalhistas. É o Brasil do ódio dos ricos contra
os pobres. É o Brasil que volta ao comando do poder econômico e financeiro.
O Brasil
destes dias certamente não servirá de modelo para ninguém.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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