*Rangel Alves da Costa
Está cada vez mais difícil dizer o nome das coisas, chamar as coisas pelos nomes conhecidos, nomear o que costumeiramente se conhece.
Todo mundo sabe o que é puxa-saco, fofoqueira, puta, viado, corno, mentirosa, etc., e tudo isso sempre foi assim conhecido e assim chamado, mas de uns tempos para cá tudo se tornou diferente.
Ora, as coisas, as situações, os fatos e os acontecimentos, não existem sem que se tenha conhecimento de suas existências. E só tomam existência exterior quando são nomeadas e conhecidas.
E não precisa ter nome científico para que as coisas sejam conhecidas e ganhem visibilidade. Acaso as ciências e as teorias prevaleçam nas denominações, pouco se terá como conhecido.
Também cabe ao costume e à voz popular dar nome a tudo que envolve uma sociedade. O sertanejo chama de arupemba ao que tem nome diferente em outro lugar. No sul do país dificilmente alguém sabe como o nordestino chama sua moringa de barro: quartinha.
Então por que viado não é mais viado, puta não é mais puta, corno não é mais corno, puxa-saco não é mais puxa-saco, fofoqueira não é mais fofoqueira, mentirosa não é mais mentirosa?
Certamente que puxa-saco, por exemplo, pode muito bem ser denominado de outra forma, pois demasiadamente conhecido como bajulador, baba-ovo, sabujo, adulador, lambe-botas. E como eu conheço gente assim!
Mas hoje, nem o puxa-saco nem o puxa-saco do puxa-saco, aceita ser chamado assim. Dando-se uma importância que não possui, então se compraz em ser chamado de assessor. Quer dizer, o puxa-saquismo se tornou sinônimo de assessoria. Mas assessor de que? De bajulação, só pode ser.
Igualmente com relação ao termo puta. Quem nesse mundo não sabe o que é uma puta, quenga, rampeira, rapariga, piranha e muito mais? Mas compra uma briga grande quem chamar puta de puta. Injúria, calúnia, difamação e o escambau, logo a “santa” arvora para si e diz que vai processar.
Puta não, de jeito nenhum. É feio dizer assim. Amante, quando muito. Até mulher casada e que trai o marido não tolera a vulgar denominação, pois sempre acha que amante é até um termo mais bonito e respeitoso. Mas por que assim se todo mundo sabe que é puta mesmo?
Fofoqueira, de jeito nenhum. Apenas uma observadora da realidade da vida, diz a sem-vergonhice em pessoa que não sai da janela, da calçada ou da esquina, tomando conta da vida dos outros. E, logicamente, para macular a imagem de todo mundo.
Fofoqueira não, exijo respeito, diz a safada que outra coisa não faz senão deixar a panela queimar por que a vida dos é mais importante. Uma lambisgoia mexeriqueira e que ainda se acha no direito de dizer que de sua boca não sai uma maldade sequer.
E assim a vida vai, com tantos nomes a serem chamados, mas de repente impedidos pela modernidade. Ora, o que faz uma garota de programa e que não seja locutora? Todo mundo sabe o que faz. Mas por que essa invencionice de garota de programa se o nome é outro?
Mas, pensando bem, é bem melhor deixar que as coisas continuem assim. O puxa-saco não é puxa-saco, a puta não é puta, a garota de programa não é garota de programa. O problema é que não é mudando a denominação que as coisas passarão a ser de outro jeito.
Não adianta fazer uma coisa e depois querer ser outra coisa. A pessoa pode fingir a si mesma, mas não ao mundo. E principalmente aos olhos e boca da fofoqueira.
Escritor
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