Por Archimedes Marques
Um grupo de 12 cangaceiros, tendo em meio somente duas mulheres, a Sila, companheira de Zé Sereno e Neném, companheira de Luís Pedro, saíram a pés do então povoado Poço Redondo com destino a São Paulo, atual Frei Paulo, no Estado de Sergipe.
No terceiro dia de caminhada, após percorrer cerca de 80 quilômetros, quando o calendário marcava a data 9 de novembro de 1936, hoje completando exatos 84 anos, o bando chegou, estacionou e se arranchou na casa de um coiteiro situada na fazenda Algodãozinho, perto do povoado Mocambo na estrada que liga a cidade de Pinhão. Precisavam descansar da estafante viagem e por isso pretendiam ali dormir, um bom coito de confiança até então. Logo apareceu boa comida, muita cachaça, muita conversa jogada fora, entretanto, lá pelas tantas no breu da noite, o cangaceiro vigia deu o alarme ao notar sorrateiramente uma polícia volante se aproximar entre os arbustos e árvores. Certamente haviam sido traídos. Mais rápidos do que Jaguatiricas os dez cangaceiros responderam em fogo cruzado, enquanto as duas cangaceiras assustadas, agachadas se abraçavam de medo. Do outro lado os soldados eram comandados pelo sargento Deluz, uma tropa superior aos cangaceiros. Por isso era melhor o bando fugir no meio da escuridão.
Neném, cangaceira de mais tempo no grupo, ao sinal de comando, segurou a novata Sila pelo braço e correu com ela para o curral, ao lado da casa, enquanto os homens sustentavam o fogo, a fim de dar tempo para que elas fugissem na frente.
Aquela seria mais uma fuga dentre centenas de outras, uma fuga aparentemente fácil, pois além de tudo eles contavam com a escuridão da noite. Quase todos já haviam transposto a cerca de arame farpado do curral, por onde tinha inicialmente corrido as duas cangaceiras, entretanto, o bandoleiro Gumercindo, irmão de Sila, notou que Neném estava ali ferida e caída. Era ferimento de morte, sem chance, já agonizando em suspiros finais.
Quando soube posteriormente, mais na frente, no desespero, Luís Pedro tentou regressar para socorrer a sua companheira pensando que ela estaria ainda com vida, porém, Zé Sereno derrubou-o ao chão e arrastou-o para o mato dizendo que de nada adiantaria a sua volta ao local do combate, pois a Neném estava de fato morta. Desesperado e altamente revoltado, copiosamente chorando, Luís Pedro gritou todas as desgraças e impropérios contra os policiais. Era o fim do seu grande amor, a sua mimosa flor Neném de tantos dengos, afagos e apimentados sexos mato adentro, por detrás das rochas, lagoas e rios afora em noites enluaradas, no aconchego e balanço da rede na sua barraca. A sua estonteante companheira era apelidada de Neném do Ouro, por sempre estar coberta de ouro e joias, presenteada das tantas jornadas criminosas dos bandoleiros que verdadeiramente a adoravam. Em seguida os cangaceiros embrenharam-se na caatinga e foram parar nas terras da fazenda Lagoa Comprida, de Napoleão Emídio, onde choraram a lamentável perda, a perda de uma valente e pobre mulher que nunca praticou crime algum, apenas foi companheira de um criminoso, vivendo a sua maior aventura e por ela morrendo.
Enquanto isso nos ensina os historiadores Antônio Amauri Corrêa de Araújo e Alcino Alves Costa que há aproximadamente uns 40 anos atrás estiveram no local a entrevistar as testemunhas ainda viventes, constatando que os soldados, as autoridades legalizadas, que deveriam dar exemplos, em atos totalmente animalescos, em atos de selvageria da mais selvagem possível, usaram e abusaram do cadáver da linda Neném do Ouro em despejo de espermatozoides em todos os seus orifícios possíveis, praticando vilipendio a cadáver, necrofilia e tudo mais. Completando os seus intentos bestiais, não satisfeitos, instigaram e estimularam os cães da localidade, colocando-os para cheirar e lamber a vagina da defunta para fazerem o mesmo. Eram supostamente animais racionais ensinando animais irracionais a praticarem atos sexuais com um animal racional inerte... Ou seria tudo ao contrário?...
Aracaju, 09 de novembro de 2020
Archimedes Marques
Presidente da ABLAC
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