Por Rangel Alves da Costa
Zabelê é nome de pássaro, mas também apelido de cangaceiro. E talvez Lampião gostasse demais de dar nomes de avoantes aos que chegavam ao seu encalço. Assim foi com Canário, Lavandeira, Beija-Flor, Azulão, Sabiá e Bem-te-vi, dentre outros. No cangaço de Lampião, nada menos que três cangaceiros com o nome Zabelê deram seus pios passarinheiros e seus açoites de nordestinos. Também foram uns três com apelido de Azulão. Quando um sumia ou era morto, então outro recém-chegado ganhava a mesma alcunha e assim poder confundir as forças de perseguição. Passava-se a ideia não só de força na continuidade do bando, bem como de que cangaceiro tinha o corpo fechado e não morria de bala de jeito nenhum. Indagava-se: “Mas como Azulão tá morto se o cabra continua vivinho da silva?”. Mas era outro. Era mais uma das geniais estratégias de Lampião para enganar seus algozes. Daí sempre um cangaceiro tomando o mesmo nome de outro já desapartado no bando. O Zabelê de Poço Redondo, por exemplo, foi o terceiro com o mesmo apelido. Terceiro e último, pois estava na Gruta do Angico naquele alvorecer sangrento de 28 de Julho de 38. E depois disso não poderia aparecer mais nenhum Zabelê. Este - o de Poço Redondo - chamava-se Manoel Marques da Silva, e era meu tio-avô, pois irmão de minha avó Emeliana e tio de meu pai Alcino Alves Costa. Era também primo carnal, como se diz, de outro cangaceiro: Correnteza, de nome Joaquim Marques da Silva. Pois bem. O Zabelê de Poço Redondo teve a mesma motivação de outros jovens sertanejos para adentrar no perigoso mundo do cangaço. Motivação ilusória, que se afirme. Tinha-se em mente que Lampião era a salvação sertaneja e os seus homens suas armas de luta contra as opressões, as injustiças, as perseguições. Motivação também pelo feitiço da imagem, da figura do cangaceiro, de seu respeito e imponência, num mundo de desvalidos e renegados. Filho de Antônio Marques da Silva e Maria Madalena de Santana (Mãe Véia), Manoel Marques, o Zabelê, era o mais velho dos dois filhos homens do casal. O outro, falecido ainda moço, era apelidado de Nôzinho. Mas as filhas mulheres eram muitas, nada menos que nove. Emeliana, Conceição, Osana, Isabel, Rosinha, Mãezinha, Mariquinha, Cordélia e ainda outra cujo nome me foge agora à memória. Segundo relatos distantes, Manoel Marques era um rapaz calmo e pacífico, envolto em seu mundo sertanejo e sem nenhuma demonstração ou disposição de que mais tarde enveredaria pelo cangaço. Mas enveredou. Quando Lampião chegou a Poço Redondo no ano de 29, sua passagem acabou provocando um chamamento terrível na vida do sertanejo, principalmente dos mais jovens. Tanto assim que a partir de meados da década seguinte, uma verdadeira leva de poço-redondenses já fazia parte da cangaceirama. Trinta e cinco cangaceiros eram filhos da terra, e dentre estes Manoel Marques, o Zabelê. Conforme já citei em outro texto, Zabelê possuiu história e destino muito parecido com o do pássaro de igual nome. O passarinho Zabelê, como se sabe, é ave de terno canto, um tanto recluso, tido até como poeta das aves. Bem assim o Zabelê cangaceiro, pois tido como versejador, romântico e reservado. Estava presente nos instantes da chacina que pôs fim ao cangaço. Salvou-se, contudo. E salvou-se, talvez, em voo passarinheiro e para local tão distante que nunca mais apareceu em seu berço familiar. Por mais que seus familiares tivessem andejado por quase todo o Nordeste à sua procura, jamais foi encontrado. Nunca deu notícia e nem jamais quis ser avistado. Zabelê voou, sumiu de vez.
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