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terça-feira, 27 de abril de 2021

" B R A G A ".

 Por Luis Bento

O famoso Violeiro Manuel Floriano Ferro, vulgo Manuel Neném. Ora se tinha algum pecado a pagar, era justamente o de admirar o bandoleiro Lampião, não só pela astúcia e a coragem com que destorçava os seus inimigos como pela obstinação com que procurava vingar a morte do pai (José Ferreira ).

Homem apegado ao princípio de honra e reconhecimento disposto, naturalmente o cantador teria que se danar com o triste sucedido. Confesso, revoltado, que o sujeito que tinha o desplante de " surrar uma donzela em bunda limpa " era um monstro, e só podia pagar o seu crime sangrado a punhal. Ah! Se ele, Neném, tivesse a sorte de pegar Virgulino Ferreira de jeito! Faria o serviço sem o mais leve estremecimento de consciência.

De fato, com o ódio no pé da goela e portanto psicologicamente preparado para a prática do sortilégio arrasador, o repentista se recolheu ao lugar secreto, e caprichou na " encomendação". Em seguida, afastou a imagem de Lampião de sua corrente mental e aguardou um pouco, mas na madrugada de 28 de julho de 1938, se fez notar, finalmente, na tenebrosa grota de Angicos! " Praga "!

A Praga: a mais fulminante das armas secreta, não troco ela pela pior das macumbas!

Afirmar o ancião, convicto. Dê por visto a gurgumã, que entra sutil num paiol de milho ou feijão, e com pouco vai-se ver e só se encontra o pó! Pois foi dela que eu me vali para esse desabafo.

Lampião era bandido

Desde o tempo de menino,

Nasceu no signo de Marte

Só pra ser assassino,

Para cumprir fielmente

O rastro do destino.


Quando mataram o pai dele,

A cena foi dolorosa,

Ele surgiu no sertão

Como cobra venenosa,

Matando, incendiando, roubando,

Com ninguém queria prosa.


Um senhor amigo meu

Pai de uma moça donzela,

Lampião chegou no sítio,

Não lhe escapadela,

Comeu e bateu-lhe a bolsa

E por um triz não matou ela.


A pobrezinha clamava

Pelo seu pai querido,

Ele trabalhando tanto

Prá dar dinheiro a bandido,

Os cabras surraram ela,

Rasgando logo o vestido.


Eu sabendo desse horror,

Ergui os olhos para o céu,

Pedi a Deus compaixão,

Pra miséria que fazia

O bando de Lampião!

Eu estava com raiva dele


E está praga lhe roguei;

Tú hás de ser degolado,

Tu vais ver se eu me enganei,

E assim o peste pagou

As mil gravuras que fez!

E note agora leitor,


Prestem todos atenção,

Como  foi que se acabou

O bandido lampião,

Porque ninguém nunca

Viu cidade valentão!

Fonte: Valdemar de Souza Lima

O Cangaceiro Lampião e o IV Mandamento

Pág 85- 86- 87.

LUÍS BENTO

JATI 27/04/21/.

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