Por José Mendes Pereira
Nessa
madrugada, seu Galdino Borba(gato) amanheceu com o Lúcifer nos couros, porque uma
de suas vacas leiteiras, tinha vazado do curral, levando consigo o seu filhote
de dois meses de vida. E se achando incapaz de trazê-la sozinho do campo para o
seu curral, foi pedir ajuda ao seu compadre e amigo Leodoro Gusmão, vez que a
bicha era brava e desobediente, quando fugia do seu poder, e além do mais, com
recém-nascido ao seu lado. E de pressa, foi até a casa do compadre, para juntos
irem ao campo, ver se conseguiam trazer a virada na peste para o seu poder. Seu
Leodoro Gusmão se prontificou, afinal, era um grande amigo, e logo foi preparar
o seu cavalo, e que seu Galdino o esperasse em sua casa, ele não se demoraria
chegar.
Passado alguns
minutos, seu Leodoro Gusmão chegou à casa do compadre. Tomaram café puro, em
seguida, pitaram e se mandaram atrás da espantada, isto sem os uniformes de
vaqueiro, para não deixarem a fera inquieta.
Estava no
inverno. O lamaçal e os caminhos feitos pelo gado dificultavam à procura da
vaca, e depois de muito caminharem nas estradas quase fechadas pelas vegetações, seu Galdino e seu
Leodoro resolveram parar um pouco sob uma árvores de quixabeira, para que os
seus animais descansassem um pouco.
O sol estava
com temperatura normal, e a finalidade de pararem por ali, a convite do seu
Galdino, era o desejo de falar ao amigo sobre as suas histórias cabeludas. Seu
Galdino tinha mania de contar tudo que com ele se passava, mas era bom para
aumentar ou criar histórias que apenas imaginava um dia acontecesse com ele. E
sentados sobre as montarias, seu Galdino Iniciou:
- Meu compadre
Leodoro, eu estou aqui me lembrando, que os prédios dos dias de hoje, quase não
têm mais paredes na parte da fachada... A vidraça tomou de conta, e até que fica
bonito aquelas centenas de vidros dividindo a fachada, como se fossem pequenas
janelas...
- Isso são as
invenções dos homens de hoje, compadre Galdino! - Atalhou seu Leodoro com admiração. - Os
estudos estão por aí, e o homem a cada dia descobre coisa que antes, somente
Deus sabia. E olha lá, um dia desse, o homem dirá que encontrou o reino de Deus. E se
ele deixar entrar nele, tenho certeza que o bicho homem dará um grande aperto de mão em
Deus, e depois um abraço muito forte.
- Quem sabe,
meu compadre! Poderá isso acontecer mesmo..., mas veja bem, o que se passou
comigo em São Paulo, quando eu fiz uma visita a um primo meu que por lar
residia. Ocioso na casa do primo, eu resolvi sair à rua para ver as belezas da
cidade, e de repente, me deparei com um enorme arranha-céu. Enquanto eu admirava
a bela fachada do edifício, resolvi saber quantas janelas de vidro tinham
naquele prédio.
E pus a contar
uma por uma. E sem menos eu esperar, um senhor com fardamento de trabalho
municipal, apareceu na minha frente, dizendo-me:
- Pelo que eu
vi, o senhor estava contando as janelas deste prédio. É isso mesmo?
- Sim senhor,
eu estava contando para ver quantas janelas neste arranha-céu tem.
- Mas o senhor
sabe que aqui em São Paulo, é proibido contar as janelas dos prédios?
- Sabia não
senhor!
- E sabia que
quem conta as janelas dos prédios daqui de São Paulo, é multado?
- Não senhor.
Menos ainda..., eu não sabia...
- Pois é
proibido. Eu vou fazer a multa.
Disse ele
puxando um talão e uma caneta. E começou a escrever. Depois me perguntou
quantas janelas eu já tinha contado. E eu como nordestino, e que não tem nada de
besta, respondi que eu já havia contado 200 janelas. E ele lá anotou. Em
seguida, me passou o papel. Paguei a multa correspondente as 200 janelas. E sem
mais conversar comigo, foi embora. Só que eu peguei o besta, compadre Leodoro.
- Mas por que
o senhor diz que pegou o besta, se o senhor foi quem saiu no prejuízo?
- Eu já tinha
contado 400 janelas...
- O senhor é
vivo, compadre Galdino! Eu nunca vi um homem mais inteligente do que o senhor.
- Eu sou
nordestino, e não sou como os sulistas pensam da gente, meu compadre! Sou cabra
da peste e conterrâneo do capitão Lampião.
- Verdade,
compadre Galdino! Quem nasce neste sofrido Nordeste, é cabra macho sim senhor!
E eu brinco,
compadre Leodoro?!
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