Seguidores

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO É O ENTREVISTADO DESTE MÊS DE JULHO.

 Por Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia.

Sergipano de nascimento, natural do povoado Alagadiço, município de Frei Paulo, Bezerra, como é conhecido nos meios fazendários, mudou-se ainda criança para a fazenda Lagoa Grande, na Barra das Almas, município de Nossa Senhora da Glória. Até os onze ou doze anos, viveu na fazenda do pai, um pequeno agricultor, dono de umas vaquinhas, criador de ovelhas, lutando pela sobrevivência como era possível.

Dando sequência às entrevistas de aposentados, neste mês conversamos com José Bezerra Lima Irmão.

 

IAF: Como eram os nomes dos seus pais?

Bezerra: Sou filho de Manoel dos Santos Lima e Pastora Bezerra Lima. Pelo lado paterno, sou descendente dos Diniz de Rezende, oriundos de Portugal, que na época da colonização se estabeleceram na Cotinguiba, como era chamada a zona dos canaviais em Sergipe, e depois se espalharam pelo agreste, fixando-se especialmente nos contrafortes da Serra de Itabaiana. Já pelo lado materno, pertenço aos Bezerra Monteiro, do Cariri (CE), e aos Lemos, de Penedo (AL).

Devo uma explicação quanto ao meu nome acrescido de “Irmão”, já que não tenho irmão – tenho apenas uma irmã, Donana. É que antes de mim meus pais tiveram um filhinho que morreu garoto. Chamava-se José Bezerra Lima. Sete anos depois, quando eu nasci, meu pai repetiu o nome, e assim fiquei como o “Irmão” que não tem irmão…

IAF: Onde você estudou? Como foi a sua formação?

Bezerra: Aprendi a ler e escrever com minha mãe, na roça. Até os onze anos, só sabia fazer contas de somar e diminuir, que era o que minha mãe sabia. Foi então que despertou em mim, não sei como, a ideia de ser padre. Meus pais me puseram na escola da professora Cleudice Tavares, na antiga Boca da Mata, atual Nossa Senhor da Glória. E aí aconteceu uma coisa: na ânsia de ser padre, tirei o primário em apenas um ano e meio. Menino tabaréu, pobre, desamparado, fui levado pelo carismático Padre Amaral para fazer o ginásio na capital, Aracaju, no memorável Seminário Sagrado Coração de Jesus, sob o rigoroso regime de internato. A rotina era: rezar, estudar, rezar, jogar bola, rezar.

Minha vocação para padre foi como um vôo de galinha. Só durou dois anos. Terminei o ginásio no antigo Colégio Tobias Barreto. Estudei depois no Ateneu Sergipense. Meu pai vendeu a fazenda Lagoa Grande, na Barra das Almas, para custear os meus estudos. Terminou a vida como aposentado pelo Funrural. Só depois que o perdi foi que me dei conta da imensurável dimensão do meu pai. Um homem que se desfez do pouco que tinha para investir no futuro incerto de um filho.

Meu primeiro emprego foi como datilógrafo do Juizado de Menores, em Aracaju. O juiz ditava os ofícios  e eu agilmente ia datilografando, pondo as vírgulas nos lugares certos, de acordo com a entonação de sua voz. O juiz gostava porque ele fazia citações em Latim e eu escrevia tudo certinho. Herdei do seminário o gosto pelo Latim, pela Língua Portuguesa, pela Música (toquei violino e violoncelo na Orquestra Filarmônica do Professor Leozírio Guimarães).

Trabalhei no Banco do Brasil e na Petrobrás. Fui Fiscal de Rendas de Sergipe e depois, Auditor Fiscal da Bahia. Sou bacharel em Direito e em Economia. Fiz pós-graduação em Direito Tributário.

IAF: Tem esposa, filhos, netos?

Bezerra: Casei duas vezes. Tenho dois filhos. Meu filho Mário Bezerra é bacharel em Direito mas trabalha como jornalista, nesse ramo midiático que se expande a cada dia. Minha filha é pedagoga. Tenho três netos e dois bisnetos

IAF: Como foi que você chegou ao cargo de Auditor Fiscal?

Bezerra: Sou do primeiro concurso para Auditor Fiscal, de 1978. Eu era Fiscal de Rendas em Sergipe. Meu colega José Dionísio Nóbrega me deu notícia de que estavam abertas as inscrições para o concurso de Auditor na Bahia. Dionísio, baiano, queria voltar para sua terra e me incentivou a fazer as provas. Eu acabava de me desquitar (naquele tempo ainda não havia o divórcio no Brasil) e queria mudar de ares. Fiz o concurso. Passei em segundo lugar. Hurra! Vim para a Bahia.

IAF: Você foi o autor do texto do Regulamento do ICMS. Conte-nos sobre essa experiência.

Bezerra: Fui de fato o autor do Regulamento do ICMS e do Regulamento das Taxas, e integrei a equipe que elaborou o Regulamento do Processo Administrativo Fiscal e do Código Tributário do Estado da Bahia.

Em Sergipe eu havia participado da elaboração do Código Tributário do Estado de Sergipe e do Regulamento do ICM (que precedeu o ICMS). Cientes disso, quando cheguei à Bahia, ao tomar posse no cargo de Auditor Fiscal, as autoridades me alocaram na Diretoria de Tributação (DITRI), que à época era denominada Gerência de Tributação (GETRI).

Com poucos meses como Auditor Fiscal, fui encarregado de elaborar um novo Regulamento do ICM. O Regulamento anterior era sintético: em vez de regulamentar as diversas situações, ele remetia tudo para portarias e instruções normativas, com a fórmula simplória: “Conforme Portaria do Secretário da Fazenda”, “De acordo com instrução normativa do Diretor do DAT”; O novo Regulamento que elaborei entrou em vigor simultaneamente com o Regulamento do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e com o Regulamento das Taxas (do qual também fui o autor) e com o Regulamento do Processo Administrativo Fiscal (de cuja elaboração também participei), entrando em vigor na mesma data o Código Tributário do Estado da Bahia, elaborado por Johson Barbosa Nogueira (do qual também participei, na parte referente às taxas).

Com a conversão do ICM em ICMS, elaborei o novo Regulamento, que vigorou de 1997 até 2012.

IAF: Do que você mais se orgulha nesse período que passou na SEFFAZ?

Bezerra: Sou de origem humilde. No Fisco, me afirmei como funcionário zeloso, dedicado. Cheguei a ser diretor da GETRI (atual DITRI), no governo de João Durval. Odiei a função de chefe. Nunca mais aceitei qualquer indicação para chefia.

Fui a vida inteira empolgado pelo trabalho. Cheguei certa vez a passar cinco anos sem tirar férias. Só gozei licença-prêmio na hora de me aposentar. Identifiquei-me de tal forma com o meu trabalho que confundi a minha atividade fazendária com a minha vida particular, a tal ponto que, em vez de me aposentar com 35 anos de trabalho, me aposentei foi com 53 anos – inverti os algarismos.

Orgulho-me de ter dotado a Bahia de um Regulamento que foi reconhecido como o melhor do Brasil, conforme declarou o presidente da Arthur Andersen em um Congresso realizado no Hotel Glória do Rio de Janeiro. O Secretário da Fazenda da Bahia estava presente e diria mais tarde: “Eu quase saí correndo para dizer isso ao pessoal da DITRI”.

Pois é. Mas talvez o meu maior orgulho na Fazenda seja a minha passagem pelo Conselho Estadual da Fazenda (CONSEF), onde trabalhei durante 20 anos. Participei da elaboração do Regimento Interno do CONSEF, junto com o Dr. Antônio Freitas e a Dra. Sílvia Amoedo. Como Julgador, pautei-me sempre pela estrita legalidade, pela correção do lançamento, pelo respeito ao contribuinte. Como Julgador, sempre mantive os dois olhos abertos, na defesa dos interesses do Estado mas sem desrespeitar os interesses legítimos dos contribuintes. Um julgador não pode “vestir a camisa” do fisco nem a do contribuinte. Tive este propósito do primeiro ao último dia naquele augusto Colegiado.

IAF: Quando você se aposentou, como foi a adaptação à nova realidade?

Bezerra: Virei cangaceiro.

Comecei escrevendo um livro sobre Lampião. O título: “Lampião – a Raposa das Caatingas”. Tem 739 páginas. Está na 6ª edição.

Ainda na temática do cangaço, escrevi “Corisco e Dadá – uma Saga de Amor Cachaça e Sangue”.

Escrevi um livro sobre um cangaceiro chamado Zé Baiano – nascido nas caatingas ermas de Macururé, lá para os lados de Chorrochó. O livro intitula-se “Zé Baiano e os Engrácia”.

Completando esse giro pela senda do cangaço, escrevi a biografia de Maria Bonita, uma sertaneja cuja vida empolga o imaginário popular até hoje. Título: “Maria Bonita – Dona Maria do Capitão”.

Com as pesquisas que fiz para escrever esses livros, terminei me apaixonando pelo Nordeste, a Terra do Espinho. Convenci-me de que a melhor forma de demonstrarmos amor à nossa terra é estudando a sua geografia e a sua história.

Então escrevi “Fatos Assombrosos da Recente História do Nordeste”.

Mas o livro  que me faz bater no peito com orgulho é este: “Capítulos da História do Nordeste”. O livro conta fatos que a história oficial não conta, ou conta pela metade: o “descobrimento” do Brasil; a conquista da terra pelo colonizador português; o Quilombo dos Palmares. Faz um relato minucioso e profundo dos episódios ocorridos durante as duas Invasões Holandesas, praticamente dia a dia, mês a mês. Trata dos movimentos nativistas. Descreve em alentados capítulos a Revolução Pernambucana de 1817; as Guerras da Independência, que culminaram com o episódio do 2 de Julho, quando o Brasil de fato se tornou independente; a Confederação do Equador; a Rebelião de Pinto Madeira; a Revolução Praieira; o Ronco da Abelha; a Revolta dos Quebra-Quilos; a Sabinada; a Balaiada. Tem capítulo sobre o Padre Cícero, sobre Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, sobre o episódio da Pedra Bonita (Pedra do Reino), a Revolta de Princesa (do coronel Zé Pereira), Caldeirão do Beato José Lourenço, o Massacre de Pau de Colher. A Intentona Comunista. A Sedição de Porto Calvo. As Revoltas Tenentistas de 1924 e 1926.

Bom, terminei fazendo um “comercial”. É que eu tenho de vender o meu peixe…

IAF: Você disse que mudou de atividade, mas todo mundo tem que ter uma hora de lazer. O que você faz para se divertir?

Bezerra: Gosto de ler. Gosto de ouvir Música. Tenho casa em Aracaju, na Praia de Aruana. Aruana é um paraíso. Tenho também casa em Caldas do Jorro, no sertão baiano. Não sou de farra, mas faço minhas extravagâncias, de olho no relógio da vida.

IAF: Como foi sua adaptação ao período pandêmico?

Bezerra: Apesar de todas as precauções, peguei a Covid três vezes. Mas vaso ruim não se quebra.

Seguindo a orientação das autoridades sanitárias, refugiei-me em minha casa de Caldas do Jorro, e por força desse ócio forçado arregacei as mangas, e escrevi o livro “Corisco e Dadá – uma Saga de Amor, Cachaça e Sangue”.

Fazia tempo que eu vinha pensando em escrever um livro sobre Corisco e Dadá. Eu já dispunha dos elementos de que precisava para materializar esse projeto, obtidos ao longo de 11 anos, quando estava pesquisando para escrever o “Lampião – a Raposa das Caatingas”, obra  que, além de uma biografia de Virgulino, pela abrangência do tema terminou sendo uma espécie de tratado sobre o cangaço. Faltava-me tempo e disposição para a nova tarefa, o livro sobre Corisco e Dadá. Como não tem mal que não traga um bem, aproveitei o isolamento forçado pela pandemia para escrever  o livro sobre Corisco e Dadá.

Foi também em Caldas do Jorro que fiz os arremates do meu livro mais recente, “Maria Bonita – Dona Maria do Capitão”.

E também aproveitei o ensejo para fazer alguns reparos no “Lampião – a Raposa das Caatingas”, para a 6ª edição, em face dos novos dados coligidos ao pesquisar para escrever sobre Corisco e Dadá.

IAF: O que você gostaria de dizer que não foi perguntado?

Bezerra: Ah! Quero dizer que sinto saudades dos queridos amigos e amigas do fisco. Tenho vivido isolado, em virtude dessas pesquisas que faço sobre a história do Nordeste. Comunico-me pouco nas redes sociais. Mas agora fui incluído no grupo “Sefaz Confraternização”, do WhatsApp, e assim poderei “revisitar” meus velhos colegas.

 https://iaf.org.br/jose-bezerra-lima-irmao-e-o-entrevistado-deste-mes-de-julho/

http://blogdomendesemendes;.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário